Quem não sabe que as Olimpíadas da era moderna, disputadas desde 1896, herdaram seu nome e seu ideal de confraternização dos jogos que se realizavam na cidade de Olímpia, na Grécia Antiga? No sítio arqueológico da velha Olímpia, tombado pela Unesco, a tocha é acesa de quatro em quatro anos antes de ser conduzida ao país-sede da vez. Mas o que eram aqueles jogos é algo pouco lembrado, mesmo em momentos olímpicos.
O festival de Olímpia, realizado no verão a cada quatro anos a partir do século 8 a.C., era o mais importante dos quatro grandes festivais pan-helênicos, que atraíam levas de visitantes e celebravam a unidade grega acima das divisões em Estados. O Barão de Coubertin não criou do zero sua ideologia de integração entre os povos. O Dicionário Oxford de Literatura Clássica diz que “por ocasião do festival proclamava-se uma trégua sagrada (ekekheiria), graças à qual concedia-se um salvo-conduto aos viajantes a caminho de Olímpia”.
Tudo começou com uma corrida de 183 metros, à qual se somaram com o tempo uma prova de longa distância, o pentatlo, o pugilismo e as corridas de bigas. O sucesso dos jogos pode ser medido pelo estádio que os abrigava, com capacidade para 40 mil pessoas sentadas. Mas a festa atraía também um grande número de poetas, músicos e comerciantes de cavalos à cidade, célebre pela monumental estátua de Zeus esculpida por Fídias, a mais famosa da Antiguidade.
Os atletas vencedores ganhavam apenas uma coroa de louros, mas, de volta às suas cidades, eram tratados como reis – um prêmio habitual era alimentação gratuita pelo resto da vida. Já naquele tempo, nem sempre prevalecia o espírito olímpico: o historiador Pausânias conta a história de um pugilista que se apresentou atrasado para a luta, quando seu adversário já era coroado por w.o., e cobriu-o de pancadas nas barbas dos juízes.
Publicado na “Revista da Semana”.
6 Comentários
Sérgio: seria bom lembrar – já que este é um blog literário – que os jogos olímpicos deram lugar a uma das maiores produções poéticas da Antiguidade clássica: as “Odes”, de Píndaro. [Tempos atrás estive em Olímpia. O que resta hoje é um pequeno retângulo gramado, pouco menos que um campo de futebol…]
Caro Curiango, lamento, mas Píndaro não cabe n’A Palavra É, uma seção que nunca teve a literatura como foco. Quem sabe se eu tivesse cinco vezes este espaço para resumir os jogos. Obrigado pela lembrança, de qualquer forma.
Sérgio, uma dúvida: eu me lembro de ter lido que o correto seria os Jogos Olímpicos, no plural, e a Olimpíada, no singular. Procede? Abraço
Não, Isabel. Olimpíada e Olimpíadas são ambas formas “corretas”, mas no plural é bem mais usual. Olimpíada significa também o período de quatro anos entre os jogos, uma medida de tempo usada na Antiguidade. Um abraço.
Oi, Sergio,
Estou lancando, daqui de Taipei, onde moro, dois lviros, ambos romances, para este ano; como ha’ muito que frequento seu blog, e tem bastante espaco para novidades literarias, queria ver se haveria disponibilidade para que eu envie um exemplar deles para voce, se quiser, escreva para meu email, ok?
um abraco,
Denny Yang
eu adorei as respostas vocês estam de parabens