Ela leu:
Diana Wurz escreve sustos, mastigando reticências como sucrilhos. Afaga tormentos, faz cócegas nos cânones, soluça anacolutos com uma graça súbita de bailarina imaginária. Humana, eis a palavra. Humanérrima. Em seus contos-relicários de sondar desvãos, de acender o sol, de entesourar momentos, atinge uma materialidade porosa e cheia de reentrâncias, ainda que cuidadosamente depilada, que denuncia sua filiação àquela irmandade de autores esguios que não escrevem com a cabeça, mas com o corpo. No caso de Diana, estreante de rara maturidade, nem mesmo com o corpo inteiro: com partes do corpo, uma unha aqui, ali o mamilo direito, apêndice espremido numa entrelinha, pâncreas fechando a frase com seu inconfundível – molhado, fofo – muxoxo pancreático. À medida que, lenta e viscosamente, escorre o texto, vai se despedaçando a jovem escritora com tal bravura, e com seus nacos pavimentando a auto-estrada do autoconhecimento, que não resta dúvida: Diana Wurz dói. Lateja. Feito uma estrela, se estrelas doessem.
Leu, releu, depois devolveu a folha em silêncio ao homem. Ele disse:
E aí, cumpri minha parte a contento?
Está bem legal. Você acha isso mesmo do livro?
Ué, não escrevi?
Ela sorriu: Está ótimo.
Posso mandar para o editor?
Pode, ela respondeu, desabotoando a blusa.
12 Comentários
E o Troféu Palavra Mais Bem Colocada No Texto vai para… MUXOXO, decerto!! Mas, se o conto fosse meu, a moça abotoaria a blusa no final… 😀
Muito bonito mas muito triste também. Coloca em negrito as relações contemporâneas. Dói mesmo, vc disse tudo.
Conto interessante, Sérgio (finalmente consegui te elogiar, hein?) Só acho que essa relação entre sexo e literatura não existe… Exceto na imaginação dos blogueros que vez em quando publicam alguma coisa, mas que não são, exactamente, escritores.
Não posso, evidentemente, responder por Camila, mas a minha primeira impressão após a leitura do seu comentário, e considerando minhas próprias impressões sobre o conto, é de que a pompa do escritor é brochante ao ponto de arruinar uma transa bem encaminhada.
Se eu fosse o escritor, o personagem não o Sergio, ela leria o escrito junto com um belo vinho, talvez durante ou depois de um jantar…se é pra fazer, façamos TUDO bem feito.
Sérgio, você esqueceu de levar em conta um dado muito importante do meu comentário: o smiley no final! Mas fico feliz que tê-lo levado a sério tenha lhe proporcionado alguma reflexão. Meu pensamento foi mesmo na linha do que o Rodrigo disse: haja coragem para apreciar muxoxos fofos! 😀 Por mim, você ia embora nessa série sobre má literatura e sexo: já tem esse, o dos 11 minutos e o Sonic, o da blogueira descolada e o escritor decadente… Esqueci algum?
Right… O smiley saiu mal colocado desta vez. Melhor desistir deles.
Ô Sérgio, você é muito complicado – a escritora não poderia simplesmente ter mudado de idéia?? 😀 (Volte aos smileys, é mais forte que eu.)
Ei, e o livro Sobrescritos? Eu não esqueci disso ainda…