A revista colombiana “Semana” ouviu 81 críticos, escritores e editores para elaborar uma lista dos cem melhores romances da língua espanhola dos últimos 25 anos – o mesmo período que o “New York Times” arbitrou para fazer sua lista de americanos, ano passado, noticiada na época aqui.
Ganhou “O amor nos tempos do cólera”, de Gabriel García Márquez, com “A festa do Bode”, de Mario Vargas Llosa, em segundo lugar. Esses dois não param tão cedo de se bicar.
Até aí, estamos no terreno dos medalhões. A notícia fica mais interessante quando se descobre, em terceiro e quarto, dois livros do mesmo autor: “Os detetives selvagens” e “2666”, do grande – e, pelo visto, em fase de crescimento – Roberto Bolaño (1953-2003). O sujeito ainda se deu ao luxo de emplacar um terceiro título, a novela “Estrella distante”, na 14a posição.
33 Comentários
É, a obra de Bolano vem mesmo sendo reconhecida. Já estava na hora.
Estou lendo em e-book “Los detectives salvajes”. Hilário. O Bolãno era um gênio. Estilisticamente, bem diferente tanto do Garcia Marquez quanto do Llosa.
“Porque, en últimas, este es ante todo un homenaje a la palabra escrita, a la palabra que civiliza, que reflexiona, que enriquece a las sociedades. La palabra de un buen escritor.”
Que inveja.
Eu te disse, eu te disse, eu te disse.
aqui no Brasil só o panaca do Marcelo Coelho falou mal do Detetives, o que, no caso do ‘crítico’, apenas depõe a favor do livro. É o tipó de livro que além de sua riqueza literária, podemos carregar por toda a vida, acabei a leitura no último mês e toda a oportunidade que tenho, converso com um amigo sobre ele, sobre o Bola, como carinhosamente chamamos gênio visceral.
Eu tô muito curioso pra ler o Bolaño. Li uma entrevista dele logo antes de morrer e achei um muito interessante. Gostaria de perguntar aos colegas dessa commentbox qual livro é a melhor introdução a Bolaño? Aviso que não tenho medo de livros volumosos, não quero saber qual o livro “mais leve”, e sim o melhor Bolaño.
Estou lendo o Detetives, mas confesso que Noturno do Chile me surpreendeu mais. Detetives é uma espécie de “O Apanhador no Campo de Centeio” mais apimentado, sexual… mas, sinceramente, acho que poderia ter umas 300 páginas menos…, bem, deixe eu concluir a leitura para ter opinião mais fundada.
Puxa, nem uma obra do Onetti entre os 100?
Cezar: tem Onetti sim, embora os últimos 25 anos não incluam seu auge. ‘Cuando ya no importe’, lançado um ano antes de sua morte em 1994, aparece em vigésimo lugar.
Quanto a ‘Detetives’ ser uma espécie de ‘O apanhador no campo de centeio’ e poder ter 300 páginas a menos, eu não poderia discordar mais. O livro de Salinger, que me pareceu ótimo quando garoto mas hoje acho muito superestimado, no máximo lustra as botas que Belano sujou com a poeira do deserto de Sonora. ‘Os detetives selvagens’ não poderia ter nem uma palavra a menos. Acho que é a primeira vez que digo isso de um texto tão volumoso.
Vale destacar na lista o argentino Juan Saer, com três obras.
Javier Marías também aparece bastante.
Alguém poderia se dar ao trabalho de contar quantos livros desses livros foram publicados no Brasil. (Aí, que preguiça!). É um indicador aproximado de quanto o nosso mercado editoral estaria “antenado” com a literatura em espanhol.
A ausência que me importa é a de Teu é o reino, original de 1997, do cubano Abilio Estévez, romance lançado pela Globo em 2002.
É uma história polifônica, da genealogia Faulkner-Llosa-Dourado, mas também debochada e muito sensual. Comete-se grosseiro engano, na orelha do próprio livro, quando é dito que se trata também de realismo mágico: é tudo ironia do Abilio, gozação (com muita classe).
Um livro excelente.
Gosto do Bolaño, é ótimo escritor e tal, mas essa eleição me cheira a modismo. Terceiro e quarto lugares? Então tá. Quanto ao comentário do Sérgio sobre o Salinger… Ah, deixa pra lá.
Antonio Muñoz Molina aparece com 3 livros, os de 1987 e de 1991, eu não conheço. Estranhei a ausência de “Carlota Feinberg”, muito mais interessante do que “Plenilunio”, ao meu ver. Amigos que leram “Sefarad” dele, também traduzido por aqui (assim como “Carlota” e “Luia Cheia”) gostaram muito. Do Villa-Matas também gostei mais do que foi traduzido primeiro por aqui cujo título me escapa no momento.
Não conheço Bolano (ou “Bolaño”?), ainda. Mas voto em Vargas Llosa (“As Travessuras da Menina Má” está excelente, o velho Llosa voltou com fúria); em Eduardo Galeano (“O Livro dos Abraços” dou de presente a todo mundo); Cabrera Infante (sobretudo “Humo Puro”, porque gosto de charutos), Mario Benedetti; o grande Juan Gélman (“Amor que serena, termina”?) e o desbocado e magnífico Pedro Juan Gutierrez, cubano.
Como bom precipitado que sou, li rapidamente a matéria e entendi “escritores em língua espanhola” e não “romances”. Enfim, dei o meu palpite.
Sergio,
Que bom que gostos/pontos de vista são divergentes, né?
Detetives é um baita livro, sim. Apanhador no campo é outro baita livro e, ao contrário de vc, não acho que seja superestimado, pelo contrário. Dei-o há alguns dias para minha filha de 16 anos ler e ela amou.
Não acho que em termos de qualidade (fabulação literária) exista distância entre os dois livros. São duas obra maravilhosas que se tangenciam em termos de tema, salvadas as diferenças de estilo e de época em que foram perpetradas, o que também influencia na feitura.
LuizFernandoGallego, o primeiro do Vila-Matas traduzido por aqui foi, salvo engano, o Viagem vertical, um livro bom. Continuo achando que o melhor do Matas é o Bartleby, esse sim, fascinante (e olha que já li praticamente todos dele, com exceção do último). O mal de Montano, por exemplo, foi uma decepção pra mim…
incrível, nenhum do Sábato? muito estranho isso…
ops. apenas dos últimos 25 anos… certo?
romano,
Listas são assim mesmo…arbitrárias ao extremo. Faltam coisas impossíveis, entram coisas impossíveis…
Na verdade, cada um tem sua lista, concorda?
Vou fazer um agradecimento público: Obrigado, Cláudio, pelo Los detectives salvajes que você mandou pra mim. Foi um presente valioso.
Não por isso Tibor. Sugiro a vc e aos demais interessados em Literatura Latino-Americana fazerem uma consulta ao http://www.esnips.com . Vários dos livros (em formato e-book) sugeridos pelo “Semana” poderão ser encontrados por lá: Los detectives salvajes, 2666, Bartleby y Compañia, El Desbarrancadero, Santa Evita, La fiesta del chivo, entre outros.
A lista dá margem a diversos e, em alguns casos, divergentes comentários. Mas não posso deixar de manifestar meu entusiasmo com a inclusão do notável Fernando del Paso, autor não só do listado Notícias do Império (Record), mas também deste exuberante Palinuro do México (acho que pela Difel, não sei em que estante navega meu exemplar).
* Literatura Hispano-Americana.
Utilidade pública: http://www.cervantesrio.com.br/biblioteca/lithispanoamericanapt.htm
EStou procurando alguma coisa da Alejandra Pizarnik… Achei na Tematika por 18 dólares (livro mais frete), alguém conhece esse site? ou tem alguma outra dica?
Flávio: http://www.esnips.com/_t_/Alejandra+Pizarnik
Alguns números sobre o post “Os maiores da língua espanhola” (obrigado MS-Excel):
Números por países:
Espanha 32,Argentina 23,Colômbia 13,Chile 10,México 10,Peru 4,Cuba 2,Uruguai 2,Venezuela 2,Guatemala 1,Paraguai 1
Os campeões (cada um com três indicações):
Antonio Muñoz Molina (ESP), Gabriel García Márquez (COL), César Aira (ARG), Diamela Eltit (CHI), Javier Marías (ESP), Juan José Saer (ARG), Roberto Bolaño (CHI)
Eu li errado ou realmente não tem Cem Anos de Solidão nessa lista? Seria hors- concours, o romance, ou será que ele vendeu demais para estar numa relação dessas? E tem Memórias de Minhas Putas Tristes ???!!!!??!!
Estranhos critérios…
Luís: ‘Cem anos’ foi lançado há 40 anos. E a lista é dos últimos 25.
“Doy por vivido todo lo soñado”, somente eu li? será que eu gostei tanto porque era um reflexo do “amor da minha vida” do momento?
Usando a busca do Submarino, L. Cultura e Estante Virtual (sebos), contei o livros que possuem edições brasileiras disponíveis. Cheguei a 43 obras publicadas, um número até maior do que eu esperava. Muitos livros estão aí, mas não ficamos sabendo ou não damos atenção.
Vale notar que as 57 obras
não-publicadas não correspondem a 57 autores inéditos no Brasil. Primeiro por haver mais de uma obra por determinados autores. Segundo porque alguns deles possuem outras obras editadas aqui que não as incluídas na lista.
Ops…
Essa foi digna de sorvete na testa…