O título de cavaleiro que o governo britânico concedeu a Salman Rushdie no último sábado está provocando reações de profunda insatisfação em diversos países islâmicos. Nenhuma que chegue perto, no tom de ameaça aberta, destas palavras de Mohammed Ijaz ul-Haq, ministro de Assuntos Religiosos do governo do Paquistão, em discurso no parlamento:
É hora de 1,5 bilhão de muçulmanos considerarem a gravidade dessa decisão. O Ocidente tem acusado os muçulmanos de extremismo e terrorismo. Se alguém explodir uma bomba atada ao corpo, estará certo em fazê-lo, a não ser que o governo britânico peça desculpas e retire (de Rushdie) o título de Sir.
A reportagem do “Guardian”, em inglês, pode ser lida aqui.
O escritor passou a década de 90 entocado, ameaçado de morte pela fatwa decretada pelo aiatolá Khomeini, do Irã, depois que seu livro “Os versos satânicos” foi considerado ofensivo ao Islã pelas autoridades religiosas do país.
Vai começar tudo outra vez?
31 Comentários
O que um escritor pode esperar de melhor em termos de marketing? Válido para os dois casos: o título e a ameaça – já vai aí o nome do ensaio que farei em outra hora.
fala sério. quantas virgens já defloradas por homens-bomba no paraíso, depois que a primeira fatwa foi declarada? ou, sei lá, informalmente perdoada?
Decididamente esse titulo é uma provocação.
Decididamente esse titulo é uma provocação.
Rushdie está muito bem, morando nos Estados Unidos. Deixa esses fanáticos arderem no inferno do país deles, que se consumam na própria chama de seu ódio sózinhos. Vida longa a Rushdie!
Assim fica boma para os envolvidos:
Rushdie vende mais livros com este marketing de ameças, bombas, etc.
Os liderecos muçulmanos açulam a cachorrada estúpida e fanática, garantem mais uns tostões no dízimo (ou coisa parecida) e juntam mais uns otários na próxima missa deles…
Todos ganham. Deixem que ele se entendem.
Não duvidaria nadica se o Rushdie não estivesse pagando um “pf” prá fazerem ameaças…
Duvido que o Rushdie queira ficar outros 10 anos vivendo escondido e fugindo de assassinos fanáticos, é um preço muito caro para marketing.
uau, gente, só agora tive tempo de ler a matéria do Guardian, o horror do horror, um retrato fiel da insensatez que divide o mundo entre “fiéis”e “infiéis”. em contrapartida, adorei esse anuncio de um provedor de internet em Israel: http://www.013.net/upload/ads/faster_than_life.wmv
o texto em hebraico diz o seguinte: ainda não é possível na vida real, mas na internet já acontece o tempo todo.
santa internet, quem sabe o mundo ainda tem salvação.
Whatever, a premiação é de todo modo política, não tem muito a ver com os méritos literários, aliás questionáveis, do autor.
Dois breves comentários off:
-“tenta se libertar” (citação do Sábato) não é uma construção sintaticamente incorreta?
-não valeria a pena comentar a compra da Nova Aguilar pela Ediouro? é um dado importante (e eloquente) para o mercado literário brasileiro.
Vejabem, Então comenta, cara, comenta….
Já comentei: a compra é 1)importante (porque pode capitalizar uma editora que ainda tem lacunas em suas edições de “Obras Completas” e precisa atualizar seriamente várias outras) e é também 2)eloquente, já que é uma editora popular, quase popularesca (hoje melhorou um pouco) adquirindo uma que se notabilizou sempre pelo esforço editorial (fortuna crítica, papel de boa qualidade etc). Simbolicamente, isso diz muito sobre o Brasil de hoje.
Dá pra confiar em uma autoridade que manda você se matar? =/
Rushdie é meio chatim…
Que saco, né?
Traduzindo (tentando) o Bemveja: ele quer insinuar que a Ediouro é uma espécie de “parvenu” (nome alternativo: “nouveau riche”) que, para se legitimizar, comprou a chique? pretensiosa? importante? fundamental? séria? literariamente superior? editora Aguilar. Tipo pagodeiro pobre que, quando faz sucesso, troca a crioula que tem em casa por uma modelo loira, linda e burra. Entenderam?
Daí, ele deu um pulo à frente e insinuou que é isso que o Brasil é: o primo pobre fingindo que sabe francês, que conhece a diferença entre o garfo de peixe e o de carne, e que jura de pés juntos que um Bordeaux é mil vezes melhor que o Sangue de boi (mas, no fundo, não acredita nisso e sente saudades do tempo em que bebia seu Sangue de boi a 5 pratas o garrafão).
***suspiros***
Bom, acabei de perceber que não havia deixado nenhum comentário a respeito de Mr. Rushdie. Voilà: não sei se gosto dos livros dele. Mas acho fundamental que sejam lidos. Há muita fumaça e espelhos neles, sabe? Truques de prestidigitação, piadas que só o autor entende (Rushdie é daqueles que ri da cara do leitor fingindo-se de seríssimo), todo tipo de ilusionismo. Isso às vezes me cansa um pouco. Mas lembro-me que não conseguia largar O chão que ela pisa, uma “reatualização” do mito de Orfeu, contando o amor entre um astro de rock (cuspido e escarrado o Bono Vox) e uma modelo.
Gosto do Rushdie, sobretudo, quando ele está a falar não dos ocidentais, mas dos orientais – isto é, dos indianos e paquistaneses. Aí sim acho que suas análises são profundas, amorosas, tristes e desiludidas. Enfim: verdadeiramente humanas.
Só finalizando: palmas à Sua Majestade Elizabeth II (de quem passei a gostar depois que vi Helen Mirren sendo ela) pela coragem de fazer de Mr. Rushdie seu Cavaleiro. Tudo bem, isso talvez seja mais uma pedra no túmulo dele, mas afinal quem quer viver pra sempre?
É triste ver em quê degenerou o Islã. E pensar que foram eles que nos conservaram, entre outras coisas, a Medicina e as obras de Aristóteles, séculos atrás. Hoje em dia não passam de pálida lembrança de sua outrora gloriosa luminosidade. É triste mas o que se há de fazer? Não nos esqueçamos de que estamos em pleno Kali Yuga. Decadência, decadência profunda e irremediável, por toda parte. Il faut avoir de la patience. Citando Paulo Coelho: Maktub.
Na biografia de Maomé, disponível em qualquer parte do mundo, consta que ele teve várias mulheres, inclusive uma ainda criança, não jovem, criança mesmo! Que era um guerreira bastante cruel e torturador dos vencidos. O mais fantásticos de tudo isso é que os muçulmanos defendem o seu profeta com unhas, dentes e até auto-explosões.
No livro “O Despertar dos Mágicos”, é exposto a tese que os nazistas viviam em outra realidade. A lógica deles não “batia” com a lógica do bom senso.
Eu acho que algo semelhante acontece com os muçulmanos!
Mas tamabém eu acho que os muçulmanos ainda estão vivendo na “Idade Média”.
O que caracterizou a Idade Médio não foi o domínio da religião sobre o Estado? Não é isso que caracteriza os muçulmanos?
Patriarca, leia o alcorão e a bíblia.
E aproveita pra dar uma olhada no que os países muçulmanos estavam fazendo durante a idade média cristã.
Argh, não vamos discutir religião em um blog de literatura, pelamor.
Eu nem sabia que existia garfo de peixe. P/ mim garfo é garfo. Agora eu sei a diferença entre uma revista de palavras cruzadas, ou uma versão truncada e mal-traduzida do Processo, e as Obras Completas do João Cabral de Melo Neto.
Ésquilo, você não quer comentar – sim, o assunto é espinhoso -, mas eu comento: os árabes, durante a Idade Média, estavam preocupados em desenvolver a Medicina (na época, muito, muitíssimo superior à ocidental; basta nos lembramos de que Da Vinci tinha de dissecar corpos às escondidas, pra entender anatomia humana, nós todos sabemos o porquê) e em preservar para nós obras, entre outros, do nosso querido – e fundamental – Aristóteles.
Não sei vocês, mas eu sou totalmente agradecido aos sábios antepassados desses homens-bombas patéticos que a gente vê explodindo por aí. Se eles pudessem ver o que seus descendentes andam aprontando, talvez tivessem considerado seriamente a possibilidade de castração.
Querido Bemveja: a Nova Aguilar é um pasticho muito inferior das Editions de la Pléiade. Basta comparar qualquer volume daquela com qualquer outro desta. As diferenças são GRITANTES. Não me recordo de ver falhas de impressão nas páginas dos livros da Pléiade, enquanto que isso é praticamente uma regra nas edições da Aguilar.
Não consigo entender o porquê de as pessoas ainda compararem a nova Ediouro (nova de alguns anos, diga-se de passagem) com a antiga. As edições atuais são bonitas, bem cuidadas, têm uma revisão decente. Sem ironia, a Ediouro mudou da água pro vinho.
A Ediouro melhorou, sem dúvida, e ano passado lucrou quase 150 milhões de reais (eles ainda têm um problema de mudar muito o título de livros de não-ficção p/ tornar mais atraente p/ o leitor brasileiro). A Nova Aguilar está longe de ser perfeita (vide os contos “completos” do Machado de Assis, a ediçao da poesia dos Inconfidentes etc, além da qualidade da impressão não só de páginas mas tb das capas e lombadas, com as letras em alto-relevo sangrando e por aí vai). Ainda assim, lógico que causa uma certa expectativa a mim, leitor, o fato de que uma Amazon compre uma livraria da Travessa num país com um mercado editorial já escasso. Sem contar que isso pode não ser tão bom para quem aguarda, por exemplo, uma edição das obras completas de Clarice Lispector (Rocco) ou pela atualização da edição da Aguilar do Fernando Sabino. Assim como o Edmund Wilson, eu sou um “hater of abridgements”, e espero que a Ediouro não vulgarize o trabalho de exegese literária da Nova Aguilar, que pode não ser perfeito mas é o que temos no Brasil.
A Livraria da Travessa é uma livraria pretensiosa, metida a “alta literatura”, que atende bem as necessidades das elites de queimar dinheiro comprando livros a metro, mas no fundo é um comerciozinho como qualquer outro. Se a compra da Travessa pela Amazon (não sabia desta notícia, fiquei sabendo agora) se traduzir em preços mais baixos, vou celebrar a compra felicíssimo. Só fica faltando a Amazon resolver sua pendência com uma pequena empresa do Sul que detém a propriedade do http “www.amazon.com.br”, e finalmente começar a vender seus produtos aqui mesmo no Brasil, sem aquelas taxas internacionais de envio astronômicas, pra fazer frente ao Submarino. Aí sim vou ter orgasmos literários!
“O nacionalismo é o último refúgio dos imbecis”, ou algo assim.
Não há compra nenhuma da Travessa pela Amazon, é um exemplo, uma metáfora do que significa, a meu ver, a compra da NA pela Ediouro. Pessoalmente, acho que ambos os formatos podem e devem conviver, mas o conceito de livraria física, assim como a biblioteca física, são insubstituíveis p/ mim, mas você, Saint-Clair, é um rapaz cibernético e antinacionalista, então pertencemos a mundos diversos.
A frase, aliás, é do Samuel Johnson, scoundrel não é bem imbecil.
Ainda sobre a Velha Ediouro: não nos esqueçamos de que toda uma geração teve acesso – para o bem e para o mal – às literaturas brasileira e universal graças aos livrinhos fininhos e compridos, de letra minúscula, da Ediouro. Eu mesmo li meu primeiro livro do Graciliano Ramos numa desses edições. Minhas edições da Ilíada e da Odisséia são desse tipo. Fico imaginando o que teria sido de nós sem eles…
Bemveja: você, de novo, incorre em um meio-erro: sou, sim, cibernético. Mas não sou antinacionalista: sou um cidadão do mundo. Há uma grande diferença, um abismo profundo, entre as duas afirmações.
Patriarca, leia o alcorão e a bíblia.
E aproveita pra dar uma olhada no que os países muçulmanos estavam fazendo durante a idade média cristã.
Argh, não vamos discutir religião em um blog de literatura, pelamor.
Comentário de Ésquilo — 20/06/2007 @ 3:12 am
Caro Ésquilo, se entendi o texto, não se está discutindo “estilos”, “concepção artística”, nuances e etc. Entendi que o texto fala claramente sobre a situação do autor dos Versos Satânicos frente aos muçulmanos.
Deixa o homem escrever…
Alá é uma grande besta, e Maomé é um canalha. Se essa gentalha muçulmana não está preparada para viver no mundo moderno, que se matem uns aos outros, sem encher o nosso saco.
Ainda bem que vivemos numa sociedade judaico-cristã, não é mesmo?
Estivéssemos numa sociedade árabe, nem isso poderia ser discutido… Viva a democracia! Viva a liberdade de expressão! Viva Rushdie!