E não é que aquele mago quatro-olhos (veja a nota abaixo) ainda é capaz de conjurar boas discussões?
Mas uma pergunta que pode ser respondida sem apelar para o gosto é: a diminuição de horas de leitura por prazer e o poder de atração dos grandes sucessos são mesmo um problema cultural grave? Se eu tivesse que responder agora, diria não. Grave é não saber ler, ser incapaz de decodificar um texto, mas cada vez menos pessoas sofrem desse problema. Passar desse ponto é uma questão de gosto. Leitores fanáticos podemos ficar tristes pela pequena popularidade do nosso passatempo, mas não devemos esquecer que literatura é isso, um passatempo, e que preferir fazer outra coisa não é tão mal assim.
Comentário de Lucas Murtinho — July 17, 2007 @ 9:38 am
Discordo, Lucas: acho um tanto grave sim, embora admita que é difícil sustentar minha tese com argumentos frios. Quem valoriza a leitura – e especialmente a leitura de ficção – como mais que um mero “passatempo” tende a se revoltar contra sua evidente perda de peso cultural por razões, antes de mais nada, irracionais, defensivas, talvez preconceituosas mesmo. Até aí eu concordo. Temos, afinal, o cinema, a música, os videogames, os reality shows, o Imagem & Ação… Por que precisaríamos especificamente de livros?
Reconheço que também sou movido antes de mais nada por aquele desconforto, mas acho mais vantajoso tentar compreender esse sentimento do que rejeitá-lo em bloco. E fico me perguntando se haverá em nossa cultura um substituto à altura para a ficção quando se trata de incentivar o que Amós Oz chamou, na melhor mesa da Flip, de “capacidade de imaginar o outro”.
Será que o escritor israelense estava só vendendo o seu gefilte fish? Ou é mesmo incomparável o poder que tem a literatura de transportar o leitor para qualquer mundo – mundo, aqui, entendido como um ambiente reconstituído com uma riqueza tão “completa” de texturas que faz o cinema parecer um teatrinho de sombras? E o que dizer da sua característica de exigir do leitor uma parcela de imaginação ativa, quase de co-autoria, como nenhum outro meio exige?
Por tudo isso a literatura – especialmente a ficção – seria, segundo Oz, a melhor vacina disponível no estoque da humanidade contra qualquer forma de fanatismo político ou religioso.
Para mim, soa verdadeiro. O problema com tal linha de raciocínio é que, com freqüência, o passo seguinte acaba levando justamente a um certo fanatismo pró-literatura, e à certeza ingênua de que bastam campanhas de incentivo à leitura ou uma geração melhor de escritores para sermos salvos da barbárie ou coisa parecida. E é claro que a tal “crise da leitura” deve ser lida como, ao mesmo tempo, causa, conseqüência e sintoma dentro de um quadro cultural muito maior.
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eu sempre vi a leitura como companheira inseparável. Este negócio doido de se pegar um livro, qualquer um, e ter que passar a criar um mundo na sua cabeça, com gente, casas, prédios, céu. E o que mais me fascina é que isto acontece de forma diferente para cada pessoa e cada livro.
Nada substitui este prazer, embora passe horas na frente do computador, da TV, do cinema e de outras opções culturais.
Mas se tivesse que escolher uma única forma de arte, seria a literatura.
“If literature has engaged me as a project, first as a reader, then as a writer, it is an extension of my sympathies to other selves, other domains, other dreams, other worlds, other territories.” Susan Sontag
Eu completo dizendo que a leitura (e ainda mais a leitura de ficção) é uma das experiências mais prazerosas e completas. Agora, tudo se explica pelos livros? Não. Mas que caminho maravilhoso!
No comentário anterior sobre o Potter, até disse que entre Potter, Paulo Coelho, Lair Ribeiro, Gasparetto e afins e um bom filme do Buñuel, um clássico dos Beatles, uma visita à Pinacoteca, uma peça do Oficina sou pelas segundas opções. A questão não é tão somente o meio, é a busca por fazer o sujeito usar mais do que o tico e o teco habitual, repensar coisas, ter emoções movidas pela beleza estética, etc. Qualquer forma de arte pode fazer isso, cada uma do seu modo. A literatura tem a seu favor ser a arte que exige mais esforço imaginativo, não dá nada pronto, não é um pacote fechado só para ser desfrutado, exige do leitor. Eu, particularmente, só considero literatura o que é arte construída com signos verbais, não qualquer coisa escrita com enredo, personagens, rimas pobres, etc. Não é uma versão de novela global em livro.
Discussão muito boa mesmo. O meu primeiro argumento a favor da leitura é totalmente egoísta: gostaria que lessem para eu ter mais gente com quem conversar sobre o assunto.
Por outro lado, vários livros de que gosto têm tanto peso que entendo perfeitamente que os evitem. Devemos esperar mesmo que todos leiam com gosto Crime e Castigo, O Processo…? Geralmente o que é valorizado na literatura moderna é radical na forma e no conteúdo, e é algo mais desesperado do que construtor de empatias. Acho que não se deve desconsiderar alguém apenas por querer outra coisa depois de um dia de trabalho.
reputo algumas horas que passei assistindo Berlin Alexanderplatz como fundamentais para o horror que tenho da violencia e barbarie.
Ja olhar guernica não me acrescentou grande coisa.
Mas desde que li os primeiros monteiro lobato creio ter me tornado uma pessoa melhor.
E até hoje procuro saber o que acham de tão fabuloso no chico buarque.
enfim, professor, vou na linha de que literatura é meio, no mesmo nivel das demais “artes”, sem distinção.
Além da qualidade, tem o tal do gosto pessoal. E esse sim só é desenvolvido se deixarmos de lado “aquele desconforto irracional e talvez preconceituoso”…
não vejo problemas também em ser comercial: leia o livro, veja o filme, compre o cd. Se forem bons, tá valendo.
E quanto ao Harry, acho que não vale o tópico, quanto mais a discussão.
E reforçando a sua idéia final, Sérgio, naturalmente lamentamos a crise da leitura como um sinal de “decadência da civilização”. Mas, para além das lamúrias, deve ser realmente feito um esforço para entender esse mundo e como a literatura se encaixa ou não dentro dele.
A literatura – como, digamos, o tricô – não nos tira de nossa condição miserável e perecível. Mas pode (a boa literatura) nos dar a dimensão de nossa miséria e transformar nossa vida em algo mais rico, ainda que mais rico porque mais visível a profundidade da nossa miséria.
A lietaratura não nos aproxima de ninguém (dou “outro” ou de qualquer outro), senão de nós mesmos. É o que faz Dostoiévski e mais uma meia dúzia. O resto é passatempo como bingo de velhinhas.
Esses grandes escritores, ao aproximar-me de mim mesmo (ou seja: a vítima do algoz) não sei se me faz bem. Não sei se faz bem à humanidade. Até faça mal.
Mas é que é o mais sublime exercício que algum criador pode fazer, ah isso é verdade.
Eu acho que esta discussão e a anterior estão aquém da real importância da literatura.
Literatura não é passatempo nem analgésico. Não se destina a filisteus nem a diletantes, embora esteja repleta deles. Literatura é um compêndio de estilos, de narrativas e de lições sobre o ser humano que demanda atenção, critério e seriedade, em troca de fruição mas sobretudo de um aprendizado que não se poderia obter de outra forma.
Essa visão superficial, que torna a literatura uma entre tantas opções de ócio criativo nada tem a ver com o propósito universal da cultura.
Qual é o propósito universal da cultura?
O propósito universal da cultura é diferenciar homens de animais, os poucos dos muitos, a civilização da barbárie, HP de C.S. Lewis e assim por diante.
Então a cultura vem fazendo feio desde os Cro-Magnon. Puta merda… comparar HP com C.S. Lewis… por isso que essas discussões nunca levam a nada!! É foda!
No Reino Unido a comparacão JK Rowlings e CS Lewis é feita o tempo todo, e me parece natural. Lewis é um escritor edificante, respeitével, e a seérie Harry Potter me parece vulgar e moralmente suspeita. Não entendi a surpresa, eu diria que é até obvio que Narnia etc é a cura natural para os venenos de HP. Estimular o hábito de leitura via CS Lewis é um atalho para a cultura universal; via Harry Potter, é um beco sem saída.
JK Rowling, sem s (não que isso faça alguma diferença)
HP é leitura de entretenimento. J.K Rouling é nada mais que uma escritora esforçada que consegue contar razoavelmente bem uma história. Ela não faz nem nunca pretendeu fazer literatura (pelo menos creio que não). C.S Lewis almejou mais que isso. Narnia é muito melhor que HP (o livro; o filme foi uma porcaria), mas qualquer comparação é cretina. Assim como são cretinos os que buscam comparações. Ensaios e mais ensaios para tentar entender por quê uma multidão de adolescentes se rende à magia de Hogwarts, coisa que vai além do esforço de marketing. Quem lê HP deve lê-lo apenas como diversão, sem procurar na série qualquer resquício de elevada literatura. En-tre-te-ni-men-to… Por quê é tão difícil lidar com isso?
Ah, a propósito, acho esse patrulhamento ideológico detestável.
Ao contrário do SR, concordo com o Lucas Murtinho em quase tudo do trecho citado.
Mas discordo completamente da afirmação de que “… cada vez menos pessoas sofrem desse problema…”, sobre não se saber ler.
Olhem, idependente do critério que se considerar (léxico, sintaxe, semântica), afirmo categoricamente e por experiência profissional, desnecessária para a conclusão (sou professor de ciência e engenharia de computação na grande São Paulo), que 99% dos brasileiros do sudeste têm português insuficiente. Não estou usando de uma figura, quero dizer literalmente 99% ou mais. É o fim, uma calamidade ou, como se diz em Pouso Alegre, o cu-da-cobra.
E quero não ser contraditório: ainda assim penso que não é fundamental gostar de ler ficção para se saber falar, ler e escrever segundo a norma.
Lucas, detesto ser porta-voz de notícia ruim, mas você está redondamente enganado quando diz que “grave é não saber ler, ser incapaz de decodificar um texto, mas cada vez menos pessoas sofrem desse problema”.
O mais completo instrumento disponível para medir a qualidade de leitura entre os brasileiros é o Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF) – uma pesquisa séria e competente desenvolvida desde 2001 pela Ação Educativa e pelo Instituto Paulo Montenegro, órgão ligado ao IBOPE. O último resultado do INAF, relativo a 2005, mostrou que somente 26% (!) dos jovens e adultos de 15 a 64 anos apresentam capacidade plena para ler e escrever, ou seja, conseguem ler textos mais longos, localizar e relacionar mais de uma informação, comparar vários textos, identificar fontes. É essa, portanto, a parcela da população habilitada para ler e fruir literatura. Os outros 74% não dominam as habilidades de leitura e de escrita. Desses, 7% são analfabetos totais e 67% são considerados alfabetizados funcionais (de nível rudimentar ou de nível básico), porque apresentam, em diferentes graus, comprometimento da capacidade de utilizar a leitura e a escrita para resolver situações do seu dia-a-dia, perceber informações e compreender a própria realidade. Os chamados alfabetizados de nível rudimentar conseguem ler títulos ou frases, localizando uma informação bem explícita. Os de nível básico, por sua vez, conseguem ler um texto curto, localizando uma informação explícita ou que exija uma pequena inferência. Só isso.
No primeiro INAF, realizado em 2001, os leitores de nível pleno eram 25% dos brasileiros. Em 2005, eram 26%. Acho que esse ritmo de 1% de melhora a cada quatro anos não é muito animador, Lucas. Até a população inteira ser potencial consumidora de textos literários, serão quase trezentos anos.
Esses dados tenebrosos dão uma pista a respeito da perda de peso cultural da literatura em nossa sociedade.
No mais, Sérgio, esta discussão está ótima!
Marco Polli, adorei seu primeiro argumento em favor da leitura!
E porque eu falo mesmo pelos cotovelos, aproveito para transcrever o trecho de uma entrevista, no Estado de Minas de 12/05/2007, com o Inácio de Loyola Brandão. Para a pergunta: “A literatura serve para alguma coisa? Ela é capaz de mudar o mundo?”, a resposta: “A literatura serve para entreter, dar prazer, mostrar a vida, nos tirar fora da realidade, nos colocar dentro da realidade, para conhecermos as pessoas, os mundos, os outros mundos, os imundos. Não sei se a literatura serve para mudar o mundo, mas serve para ajudar a suportá-lo.”
Não é ótima?
Abraços,
Ana Z.
Ana Z.: resposta do José Saramago para a mesma pergunta: “Para que serve o canto dos pássaros?”
“Narnia é muito melhor que HP (o livro; o filme foi uma porcaria), mas qualquer comparação é cretina. Assim como são cretinos os que buscam comparações.”
Veja só que interessante: Ao chamar quem faz comparações de cretinos, você recorre a três comparações!
Senão vejamos:
Narnia-HP
Narnia filme- HP filme
comparação cretina- cretinos que fazem comparações
Está vendo o que estou dizendo? É a banalidade reinante no trato da cultura em geral e da literatura em particular. Vale-tudo, todos defeitos são alforriados, toda tentativa de avaliação crítica é “patrulhamento ideológico” e por aí vai. O que nos falta, nesse povoado continental chamado Brasil, é alguém para denunciar essa indulgência patológica; nós precisamos é de um TS Eliot (hoje as iniciais estão em alta) para criticar, produzir na condição de indivíduo autônomo e não transigir com a mediocridade coletivista.
Nesta sexta, ao que parece, o Presidente, que talvez não seja a pessoa mais lida no mundo, irá à pajelança de comemoração dos 100 anos da insigne Academia Brasileira de Letras. É preciso refletir sobre o que essa conjunção Governo-ABL simboliza; antes, o poder se exerceu nesse país por meio das fardas; hoje, é com o auxílio dos fardões, ou seja, da conivência das supostas elites culturais que se prestam a essa tragicomédia de relações incestuosas e lenientes com o poder, do qual deveriam ser distantes por obrigação ética e críticas por obrigação intelectual.
Está certo. Fui cretino. Assim como a maioria aqui está sendo. Mas não há nada mais risível que tentar entender (com visíveis ares de soberba britânica, desculpem o trocadilho) certos fenômenos culturais (sejam provocados pelo marketing ou não). Isso pra mim tem cheiro de dor de cotovelo. Que importância tem pra qualquer um, aqui, se Paulo Coelho é fenômeno ou não? Se HP é fenômeno ou não? Querer estabelecer critérios, fincar estatutos, delinear propósitos, determinar metas ou registrar atas culturais é coisa de quem não tem o que fazer, a não ser que se dediquem a isso sem instituírem fronteiras entre o bom, correto e aceitável, do mau, ruim e inaceitável. Quem aqui se arroga o direito de dar avaliação última sobre qualquer obra literária?
Bemveja, vamos nos encontrar nalgum boteco da cidade (ou um pub, você decide). Vou fazer uma lobotomia em você e fazê-lo ler Nora Roberts com lágrimas de emoção nos olhos. No mais, Lula e ABL (ABL deixou de ser qualquer coisa ligada à Literatura desde que Paulo Coelho adentrou em seus portais com alguns milhões em doação) não é matéria de discussão nesse fórum. Podemos discuti-lo também entre uma cerveja e outra.
Vou pegar um excerto do que escreveu Bráulio Tavares no Jornal da Paraíba. As duas últimas linhas sintetizam meu pensamento:
“Claro que nem tudo na FC tem este nível. Li há pouco num saite esta citação de um conto de um tal de Kenyon Holmes intitulado “The Man Who Rode the Saucer”, ou seja, “O Homem que Pilotava o Disco”. Ao descrever os alienígenas de sua história, ele se sai com esta pérola: “Não eram marcianos… nem venusianos. Eram de regiões muito mais longínquas. De uma Galáxia vizinha, com seu próprio sol e seus próprios planetas; vinham de uma estrela que, pelas melhores estimativas de Creigh, devia estar situada na órbita de Antares, o seu sol”. Para quem tenha um mínimo de conhecimento de astronomia, este trecho é Zé Limeira puro, é o Samba do Crioulo Doido, é o lado mais caricatural e mais divertido da “space opera” dos “pulp magazines”. Porque nem só de Grande Arte vive um leitor. Se não existisse o Íbis, não compreenderíamos o que faz o Barcelona”.
http://jornaldaparaiba.globo.com/braulio.html
Esqueçam a droga do link… não funciona.
Thiago e Ana, eu não estava pensando especificamente no Brasil quando escrevi aquilo. É um chute, mas eu diria que a parcela da humanidade que sabe ler é hoje maior do que era cinquenta ou cem anos atrás. Ainda que não seja o caso, como o Thiago disse, meu argumento central não depende disso. Não acho tão evidente, Ana, que o INA seja uma “pista a respeito da perda do peso cultural da literatura em nossa sociedade”. Acho que é uma pista a respeito do estado calamitoso do sistema de educação no Brasil.
Sérgio, a frase de Oz é muito bonita mas, para a minha mente pragmática, um pouco vaga. (Pois é, eu gosto de argumentos frios.) A literatura pode ser a melhor vacina contra o fanatismo, mas não é a única. Há muitos meios de imaginar, ou entender, o outro – incluindo, por exemplo, livros de não-ficção, ou filmes, ou o bom e velho convívio com pessoas diferentes.
Mais do que isso, a eficiência da literatura como vacina depende do prazer do leitor. Se o gosto não está lá, mesmo o leitor capaz vai se distrair, se cansar, se irritar. O que quer dizer que elogiar os benefícios da literatura é pregar aos convertidos: quem gosta de literatura sabe o que ela pode fazer de bom. Para quem não gosta, a literatura simplesmente não funciona da mesma maneira.
Não vou dizer aqui que andei escrevendo hoje mesmo, inspirada por Amós Oz e ainda no rastro emocional da FLIP, sobre a importância da literatura. Só quero contar que acabei de chegar de um giro por Ipanema. Entrei no Travessão, fiquei maravilhada com a crescente qualidade estética das capas – sim a embalagem vende o produto, ainda mais com essa concorrência toda – e com a quantidade de gente que circulava pela livraria em plena tarde de terça, parecia a Disneylândia. Crise? Que crise?
Pois é, você menciona várias coisas mas, por hoje, lembro somente um postulado universal: a lei de Sturgeon, que você, autor de ficção científica, com certeza conhece. A única forma de derrotar o caos, os excessos, a produção em massa, os tais “90%”, é desenvolvendo critérios rigorosos e rejeitando sem hesitação quaisquer relativismos populistas.
Quanto aos pubs e seus proverbiais bêbados que declamam sonetos de Shakespeare etc, acho que não se prestam à discussão sobre literatura, da mesma forma que são inadequados os clubs ingleses, cafés, brasseries, bares, McDonalds e afins. Literatura é um diálogo interno, uma atividade monástica. você consegue imaginar o Philip K. Dick explicando o significado dos estigmas de Palmer Eldritch a uma mesa de cachaceiros?
Bemveja, você deve preferir Chew-Z à cerveja. Grokou?
Chew-z com o beneplácito das Nações Unidas. Nem lembrava mais disso, tive que conferir, esse livro é muito bom, num primeiro momento pensei que fosse alguma menção ao Clockwork Orange, que tem um clima extremamente londrino na minha opinião. Por minha diatribe de hoje contra Harry Potter, literatura de massa, literatura p/ consumo ligeiro etc você já terá depreendido que eu sou totalmente contra as drogas, mas prescrevo doses maciças de Philip K. Dick a quem se interesse por literatura de gênero, esse foi um crítico brilhante da instabilidade psicológica do pós II-Guerra. E é, por assim dizer, literatura para grandes públicos, ou seja, o ordinary joe não precisa começar pelo Montanha Mágica, mas tb não precisa recorrer a esses lixos de hoje, há boas alternativas de leitura entry-level.
Não sacou o “Grokou”. Robert A. Heilein – Um estranho numa terra estranha. Outro que recomendo enfaticamente.
Ah bom. Eu tenho esse livro, unabridged etc, lerei. to grok= “Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar”
Que se leia cada vez menos é tão certo quanto inevitável, pois nossa geração multimídia parece admitir mais a comunicação pela imagem do que pela palavra.
E isso acontece não apenas nos EUA (como no importante link compartilhado por Marco Polli no post anterior), mas também na Europa e, claro, no Brasil.
Vale lembrar que a Pesquisa de Informações Básicas Municipais – Gestão Pública do IBGE que ao longo de 2005, que distribuiu questionários em prefeituras de 5.564 municípios brasileiros, apresentou um decréscimo de 11% no número de municípios com livrarias, que pode ser justificado pelo redirecionamento da distribuição de livros para diferentes formas alternativas: a internet seria uma delas (um resultado positivo da mesma pesquisa é que, pelo menos, as bibliotecas públicas se apresentam como os “equipamentos” mais presentes nos municípios brasileiros).
Os números, a priori, não podem ser considerados nem bons, nem maus (principalmente em se tratando de Brasil, com todos os problemas de base que temos). Precisamos antes, ajustar a amplitude de nossos instrumentos de avaliação.
Penso que o cerne da questão (aí poderemos englobar números dos EUA e da Europa) esteja, como nas palavras de Roger Chartier, no que essa aparente (e por isso incômoda) “morte do leitor” (creio que seja mais uma transfiguração) propõe: um novo suporte para a cultura escrita (e lida), ou seja, uma nova forma para o livro.
É isso o que precisamos repensar. Não se trata apenas de uma luta do livro contra a tela, seja ela do cinema, TV ou internet.
Do rolo ao códex (o modelo de páginas), e agora, do códex ao quê? O que será esse livro eletrônico que permitirá uma leitura não apenas sequencial (seja horizontal ou vertical), mas “cúbica”, tridimensional, aumentada, que penetra outras dimensões do texto, o interliga a outros, desmistificando-o, transformando-o em um referencial sinestésico de palavras, imagens, sons, vídeos, etc.
A literatura, assim como o leitor, não morre, apenas se transmuta. E sou grato por estar vivendo esse momento de transição. A última vez que isso ocorreu, foi há quase 600 anos.
Lucas,
é claro que o problema apontado pelo INAF é fruto da situação calamitosa da educação nacional. Você tem toda razão. Só que há uma inegável interface entre esse problema e a literatura. Não dá para gostar de literatura se a pessoa não sabe ler ou se lê mal. Encarar um livro para quem não domina o processo de leitura é penoso. É chato. Dá sono. Essa pessoa não deixa de ler ficção ou poesia porque opta por outro tipo de manifestação cultural. Não há opção nesse caso. A baixa popularidade da literatura só pode ser vista como fruto da diversidade de preferências humanas num contexto em que existe escolha.
No mais, encarar a literatura ou a ficção sob a ótica do Oz me parece bastante razoável e bem compatível com uma idéia que toma corpo no mundo – a da conveniência da cultura ou da cultura como recurso. A concepção soa pragmática (e é mesmo), mas não desprovida de mérito. Associar a atividade cultural à tolerância e à diminuição de conflitos sociais é dar a ela um viés político muito interessante para legitimar o investimento público e privado na área.
Taí, primeiro eu não acredito que se leia menos hoje do que há cinquenta anos atrás. simplesmente porque há mais pessoas alfabetizadas pelo mundo afora…
grokou na plenitude?
Acho verdadeiramente HILÁRIO ver o Bemveja opondo J. K. Rowling a C. S. Lewis. Fiquei chocado quando li As crônicas de Nárnia, que é a obra infanto-juvenil mais tendenciosa e perniciosa que conheço! Para o leão Aslam ser Jesus Cristo só falta ele andar sobre duas patas, porque o resto todo ele fez: inclusive ressuscitar.
“Lewis é um escritor edificante”… Aaaaaaaah, começo a entender…
C. S. Lewis me deu uma ÓTIMA idéia: vou escrever um livro de Fantasia cujo personagem principal é um Panda que medita, alcança a Iluminação e tem como principal inimigo um demônio que personifica o desejo, a luxúria, o ódio e a ignorância. O Panda alcança a Iluminação (depois de muitas desventuras, claro) debaixo de uma árvore que será doravante conhecida como a Árvore Bo.
Não, não mencionarei o termo “buda” em momento algum da narrativa.
Panda pandinha?
Parece-me que C. S. Lewis, um escritor cristão, ao escrever sobre o que realmente acreditava, foi um autor coerente.
Estimado Sérgio Rodrigues, prefiro repetir algo meio óbvio. Quando penso sobre a comparação entre a leitura e o cinema, a televisão, os games etc., vejo uma diferença crucial: a primeira implica mesmo numa espécie de “co-autoria”, ao contrário das outras — independente da “interatividade” presente nos games e até na tevê. A palavra impressa não tem correspondência “de um para um” com imagens, o que faz com que cada leitura seja realmente diferente da outra — por mais que a escrita pareça cada vez mais destinada a uma posterior “adaptação para cinema/TV”, “aproximando” um pouco a imaginação de cada um. As demais expressões citadas começam pelas imagens (deixei os sons em segundo plano, mas eles vem no pacote), imprimindo-se em nós de forma tal que, no máximo, circulamos em torno delas com sentimentos, lembranças, aprendizagem, enfim, com correlações de todo tipo — ou seja, tudo vem depois, mas pouco alterando as imagens iniciais. A ficção literária tem esse “algo a mais” que não encontro nas demais, mesmo quando é literatura dita “de entretenimento”, essa dos Paulo Coelho, J.K. Rowling da vida. Acredito que boa parte das nossas queixas sobre as adaptações de livros para o cinema/teatro/TV deva-se à comparação com as nossas imagens, a aparência que damos aos personagens, os sons do ambiente, o timbre das vozes e tudo o que criamos quando lemos. Dificilmente as versões ganham quando comparadas a nossa imaginação…
Pessoal tenta decifrar o sucesso do Erre Potter pra reproduzir o processo com seus próprios livros. ;o
Ana, então o fato de poucas pessoas lerem livros de ficção não é um problema, é a indicação de um outro problema – a falta de educação. Concordo com você, acho que todos deveriam ter acesso à leitura. Mas não acho um problema se, uma vez o acesso estabelecido, a pessoa decida ler livros de não ficção, ou ir ao cinema, ou fazer, como alguém ja disse, tricô.
O problema de “associar a atividade cultural à tolerância e à diminuição de conflitos sociais” é, como eu disse acima, que essa associação é muito vaga, e que ela funciona apenas quando a pessoa gosta de ler. Repito: se a pessoa não gosta de ler, não adianta dizer que literatura é bom para compreender o outro. Ela vai ter que compreender o outro por um outro caminho.
Ricardo, a leitura de imagens também implica em co-autoria. Talvez menos do que a literatura, mas nos dois casos tudo depende da qualidade da obra e do olho do leitor/espectador.
Lucas, claro que a percepção visual não é um processo passivo, e que que cada um pode selecionar, reter e mesmo amplificar imagens de um filme, por exemplo, de forma bastante diferente da de outro espectador. Só que as imagens e os sons do filme vêm casadas, estabelecendo elos bem mais estreitos com a forma com que o espectador se porta, fazendo com que seja muito mais fácil identificar sensações comuns aos que assistiram a um filme do que aos que leram um livro. Estes “tiveram” que dar um timbre à voz do personagem, muitas vezes “criar” a “trilha sonora” da obra, visualizar, sei lá, o céu de Istambul, por exemplo, a partir de lembranças de um pôr-do-sol de Curitiba ou de Jericoacoara, sentir o aroma das madeleines proustianas a partir das broas de milho da padaria do seu Manoel, aquela ao lado de casa…
Resumindo: acredito que o nível de co-autoria entre leitor e obra seja muito maior do que em outras expressões artístico-culturais, e nem entrei no mérito da qualidade das obras, do seu nível de erudição e que tais.
Sem mais nem menos: HP é uma bosta, literariamente falando.
E quem lê e gosta, sofre desse aniquilamento do pensamento. É confort food. Saberemos se HP gerou leitores ou apenas consumidores daqui a dez anos. Na minha opinião, fenômenos como esse geram apenas consumidores e a lógica do livro é a do consumo, isto é, se tornam tão passivos como qualquer outros sujeito-cosumista. Cada página uma ação, uma ação, não há espaço para reflexão. Ação que gera ação. Compre e não pense!
Como leitora há 30 anos, digo de sofá: a literatura traz muita experiência, menos a da passividade.
Ao contrario das experiências midiáticas e de parte da filmografia existente (dos 500 filmes do festival do Rio, passa um ou dois que são filmes), o livro é uma experiência cultural ativa, muda perspectivas porque vc apreende sensações e culturas. Daqui a 10 anos, e somente com o tempo teremos alguma idéia do que realmente foi HP. abraços a turma do TP.
Claudio,
Hitler, ao escrever Mein Kampf, que era sobre coisinhas em que ele acreditava, também foi coerente…
Tibor:
É “Pandinha Panda”. Neste caso, a ordem dos fatores altera profundamente o produto e/ou o prazer que ele proporciona.
Acho que as pessoas esquecem um fato ÓBVIO nesse Império, velho de já 200 ou 300 anos, da “democracia” (em que, supostamente, todos têm as mesmas capacidades para usufruir tudo que o mundo oferece): literatura – da forma como nós a entendemos (este “nós” é a maior parte das pessoas que vêm aqui no TodoProsa) – é um produto da e para as elites. Não estou falando de “elite financeira”, estou falando de elite cultural, duas coisas que em geral andam separadas.
Nem todo mundo tem a capacidade de usufruir um romance de Tolstoi ou Edith Warthon, mas quase todo mundo consegue ler um livro do Stephen King. E por que? Os primeiros não foram feitos para as massas, o último sim. Isto é claro como a água, mas, hoje em dia, é praticamente um pecado mortal citar o óbvio. Não sou, nunca fui, elite financeira. Mas sou, e o afirmo com orgulho, elite intelectual. Pra quê alimentar a ingênua (ou maldosa) pretensão de querer que o operário leia Proust? Essa é mais uma das ironias das elites que se sentem culpadas de serem elites.
ATENÇÃO: antes que me joguem pedras, notem que não estou dizendo “vedem o acesso do operário a Proust”. Estou dizendo que em geral um operário não se interessa e/ou tem capacidade para ler e compreender Proust. Obviamente, há exceções, mas são raríssimas. Temos que aceitar o fato de que JAMAIS o mundo presenciará um interesse em massa, por parte das classes ditas “inferiores”, por Proust, Flaubert, Henry James ou Machado de Assis.
Para mim está perfeito que a massa prefira Sidney Sheldon, Danielle Steel e J. K. Rowling. A cada um segundo a sua capacidade.
Saint-Clair: Sim, amigo, e daí? O que isso tem a ver com a obra e a coerência de C. S. Lewis? Em relação ao Mein Kampf, editado em 1924 (segundo a Wikipedia), se houve coerência entre o escrito (não o li) e os deploráveis atos que estudamos nos livros de História, então, muitos dirigentes da época pecaram por omissão. Diferente do que temos visto no noticiário de hoje?
Mas como se resolve isso? Tem solução? Como fazer com que alguém tenha de berço o hábito do “bom gosto”? Harry Potter é criação inglesa, e a maior parte de seus fãs é do primeiro mundo, onde a educação é melhor. Por que se lê mais J. K. Rowling do que Amós Oz, por exemplo?
E apenas para deixar registrado: repúdio total à atuação do governo em relação à crise aérea no Brasil. Até quando teremos que aguentar isso? Minha solidariedade às famílias que choram seus mortos. Poderiamos ser qualquer um de nós. Ainda existem pendências em relação aos mortos de out/1996. Uma solução para 1907 não sai. Agora, o 3054. Colocar a culpa no piloto, nos controladores de vôo, de novo? Sabe, é um desabafo, nunca foi tão perigoso (e vergonhoso) ser brasileiro. Quanta incompetência!
Saint-Clair: Elite intelectual? Você? Aposto que nunca leu Prost. Busque seu tempo perdido. Vá fazer algo útil.
Márcio:
Pela mesma razão que se assiste mais a Homem Aranha que Nostalghia: a maioria das pessoas prefere obras de entretenimento e não obras que façam pensar ou exijam um pouco mais de esforço (esse “preferir” nem é bem uma “preferência”, uma vez que nos lembremos que a maior parte das pessoas não tem capacidade pra entender um filme de Tarkovsky).
Aliás, da minha parte é muito mais divertido assistir aos filmes do Harry Potter que as chatices do Glauber Rocha (com uma ou outra exceção: acho o documentário feito pelo Glauber durante o velório do Di Cavalcanti uma obra-prima deslumbrante!)
Prost eu realmente nunca li (a não ser que você esteja querendo dizer “Bruna Surfistinha” que, sim, eu li). Proust li e leio no original (tá, eu sei: soa pedante. E é mesmo).
Cláudio:
sobre o acidente aéreo: o marido de uma das minhas primas viu tudo, por assim dizer, de camarote: estava na pista, dentro de um outro avião, aguardando para decolar. Disse que foi uma coisa assustadora.
Sobre o C. S. Lewis: fazendo a comparação do livro dele com o do Hitler quis apenas dizer que “coerência” não é sinal de qualidade ou pureza moral. Acho o livro do C. S. Lewis tão assustador quanto o do Hitler, principalmente porque tenho HORROR ao Cristianismo.
Tenho horror ao fundamentalismo, venha de que religião vier.
Apenas um comentário, Saint-Clair. Ser operário no Brasil é fazer parte da elite. Num país de desemprego, subemprego, empregos tercerizados, etc., – sem contar o processo de mecanização das indústrias – ser um operário da Ford é um privilégio. Abraços.
Sim, Polli, você tem razão, mas o reparo não invalida a minha premissa: me mostre 10 operários da Ford (no mundo inteiro) que lêem Proust que eu te pago um almoço.
Essa dicotomia alta literatura/literatura de consumo não se aplica na formação escolar, que é onde se deve ler de forma criteriosa. Se o cara tiver um bom sistema educacional público, pobre ou rico lerá algum Machado de Assis, um ou dois sermões do Padre Vieira, Castro alves et al, ou seja, terá, independente de seu futuro profissional ou de seu hábito de leitura, uma base intelectual duradoura e que lhe enriquecerá, fará dele um ser humano e não um bárbaro.
Além disso, é bom estar atento ao elitismo dessa dicotomia ricos-pobres; em países feito Argentina e Rússia, as pessoas, ricas ou pobres, lêem bastante e não somente o best-seller da estação: lêem Borges, Gogol e por aí vai.
Esta semana, eu estava com a secretária de um certo local, uma pessoa simples que ganha pouco, de 30 a poucos anos, e percebi que ela estava lendo Friedrich Dürrenmatt no original. Ou seja, vamos com calma com esse prejulgamento e esse pessimismo quanto à capacidade dos mais humildes de consumir uma literatura de boa qualidade.
O mais engraçado disso tudo é ver gente dos dois lados: Uns se empenhando em desdenhar, outros em defendar. Ou seja, ambos saem do nada e chegam em lugar nenhum.
Há quem lê por gosta de ler… e há aqueles que lêem por estar na moda, vide os livros caça-níqueis de Dan “Códigos” Brawn (é assim que se escreve?) e tantos outros livros e autores que influenciam a leitura, deles mesmos.
Mas tudo bem, acabei de sair do nada e cheguei no lugar nenhum, é sempre assim. Agora uma coisa é certa, quem lê e tem nisso um prazer é imune a possibilidade de ser oficina do diabo.
A posição do Saint-Clair ilustra bem um certo tipo de fanatismo pró-literatura, menos bem intencionado do que aquele a que o Sérgio aludiu no fim do post. Tricoteiras não ficam se gabando de fazer parte de uma elite tricotal por saber fazer um lindo casaco de lã, mas quem lê muito com frequência se sente no direito de se declarar parte de uma elite cultural. O que sempre me deixa com a impressão de que essas pessoa lêem pelo pior dos motivos, por prestígio e não por prazer.
É, Lucas, pelo jeito você realmente não entendeu nada do que escrevi (embora me passe pela cabeça a hipótese de que você escreveu o texto bobalhão acima só pra me irritar). Acho que há uma grande diferença entre alguém que tricota um casaco e alguém que escreve um livro, mas se você, em sua Santa Ingenuidade, quer afirmar que ambas as atividades estão no mesmo nível, eu é que não vou discordar: não tô aqui pra bater palma pra maluco dançar… e, diga-se, nem pra esclarecer qual é a diferença entre tricotar e escrever. Vou deixar você tentar adivinhar essa sozinho.
Só autorizo você a dizer que “esta pessoa” (= eu) não lê por prazer e sim por prestígio quando você for alguém que me conheça. Como não costumo ter amigos imbecis, esta possibilidade é extremamente rara. Detesto que tentem me atacar quando as minhas afirmações anteriores NÃO foram pessoais e, até mesmo, eram bastante genéricas.
Não morda meu calcanhar se não quiser que eu morda seu pulso de volta.
“É com boas intenções que se faz literatura ruim” – André Gide. E eu ousaria acrescentar: nada de bom se faz com boas intenções. Delas o inferno está cheio.
Se você não quer se gabar (como se eu tivesse me gabado quando apenas apontei o fato; nem me sinto especialmente orgulhoso dele – queria mesmo era ser o Steve Jobs) de fazer parte de uma elite cultural, vá tricotar casaquinhos, Sr. Lucas Murtinho. Mas NUNCA mais ouse me acusar de fanático ou sugerir que ajo de má-fé.
Começou a baixaria. Estava demorando para o pau comer por aqui!
Silviano: puxa uma cadeira e fica assistindo.
Saint-Clair, concordo que tu és um cara culto. Mas tu tens que admitir que o Lucas tem certa razão quando fala do fanatismo pró-literatura. Não é o teu caso, mas é o caso de muita gente pretensiosa por aí. Pretensiosa e vazia.
O André Sant´anna, a nível de escritor que ele não é, é um exemplo.
Saint-Clair, eu estava falando de ler, não de escrever. Quem lê livros considerados bons costuma se achar muito inteligente por fazê-lo. De vez em quando me pego pensando que sou o maior porque li Proust e Joyce. Felizmente passa logo, porque é uma tolice. Eu leio o que leio por gosto e não tenho nenhuma razão de me achar superior a quem lê Paulo Coelho ou Danielle Steel pelo mesmo motivo.
Leia o meu comentario de novo. Eu disse que quem fala de elite cultural e similares me deixa com a impressão de que a leitura é para eles uma questão de prestigio, não de prazer. Não te conheço e portanto não sei se é o seu caso, mas para mim, a partir do que você escreveu, essa é a hipotese mais provavel.
Se você fica ofendido por isso, sinto muito, mas saiba que nem eu te mordi nem você me mordeu. A gente partiu para o pessoal mas o debate é de idéias. Se faz você se sentir melhor, pode me chamar de imbecil à vontade, mas eu sinceramente preferiria que você explicasse porque, na sua opinião, ler Proust faz de você – e, bom, de mim também – membro de uma elite cultural.
Bom, Silviano, então eu devo estar tendo sorte, porque quase nunca esbarro em gente fanática por literatura. Na Uerj, por exemplo, quando eu era aluno da graduação, os meus colegas (não todos, mas a maior parte) sempre davam um jeito de não ler nada do que era pedido pelos professores. Tive mesmo uma colega que se orgulhava e dizia pra todo mundo que quisesse ouvir: “Passei quatro anos na Letras sem ler um único livro”. Era impressionante a quantidade de colegas que não gostavam de literatura nem de ler (sim, numa faculdade de Letras!?!). Citei o nome do Caio Fernando Abreu numa discussão (quase uma esgrima verbal) entre eu e o meu professor, numa aula de literatura brasileira. E arrematei: “Quem faz Letras e não conhece o nome do Caio deveria se envergonhar”. Imediatamente senti aquele vácuo na sala, um silêncio de morte. E isso numa turma lotada. Soube depois que só eu e o professor conhecíamos Caio Fernando Abreu. Por tudo isso, dá pra se notar que, se existem fanáticos por literatura mal-intencionados, eles não frequentam os lugares que eu frequento (o que me parece sorte minha, como eu disse lá em cima).
Não sei porque dizer que se é elite intelectual (o que, tenho certeza, quase todo mundo que lê o TodoProsa é) causa tanta ojeriza. Deve ser a carga de significações negativas que a palavra “elite” tem associada a ela… Como já disse, não é nada de que se possa orgulhar especialmente. Bom seria se fôssemos presidentes do Senado ou tivéssemos o sobrenome “Moreira Salles” ou “Marinho”. Isso sim seria maravilhoso.
Não, Lucas: não me faz me sentir melhor e/ou feliz chamar você de imbecil.
Sim, Lucas: me deixou MUITO chateado você sugerir que meu interesse na literatura é uma coisa mal-intencionada.
Sobre o porque de eu achar que somos “elite intelectual”:
“Elite”, segundo o dicionário, é o que há de melhor em uma sociedade ou grupo e, parece-me pela maioria dos comentários que são postados aqui, que há muita gente que se enquadra nesta classificação.
Aproveitando o ensejo, peço desculpas se me excedi e acabei partindo pro ataque pessoal. Normalmente, não é meu estilo.