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P.S. a ‘Você nasceu para escrever. E agora?’

30/11/2011

O esquema escritor A e escritor B (aqui) é, obviamente, uma simplificação. Não duvido que haja infinitas formas, e não apenas duas, de uma pessoa vocacionada para escrever lidar com tal fato, fazê-lo caber em sua vida como um sofá de três lugares na sala. No entanto, quantas dessas formas não serão apenas variações em torno de A e B, sequências A-B?

Vamos admitir a verdade: a maior parte dos escritores e candidatos a escritor passa de uma letra à outra, e volta, ou fica, e vai de novo – quando não desiste de vez, claro – ao longo da vida.

A é autocobrança, compromisso com desempenho, longas horas empenhadas. B é amadorismo no bom e no mau sentido: o prazer lúdico que é íntimo demais para ter de prestar contas a críticos ou quem quer que seja, e também uma confiança um tanto cândida na mágica da inspiração.

Em termos assumidamente tão esquemáticos, é possível que só exista uma alternativa a A e B. Estamos falando, claro, de C – o A que pagou sua dívida, isto é, sente honestamente que pagou sua dívida e aí para, feito um personagem de Vila-Matas, feito um Raduan Nassar.

O C já foi A, mas não vira B. Pula fora do esquema dicotômico – ultrapassa-o. Deve ser uma sensação boa, ainda que eu não consiga imaginá-la.

11 Comentários

  • Robson Assis 30/11/2011em16:48

    http://www.damniwish.com/wp-content/uploads/2011/09/ira-glass.jpg

    bem isso.

    Belo texto, não conhecia. Obrigado.

  • Marcelo ac 30/11/2011em21:41

    Último post ou vou parar no médico!!
    Minha pergunta é a seguinte (sem esperar resposta):Parar por quê? Se escrever não dá mais prazer, acho que só resta mesmo parar. O Raduan Nassar mesmo andou se contradizendo num inédito que saiu no caderno do Instituo Moreira Salles sobre o mesmo autor.
    Puxo um pouco mais. Skármeta só foi alcançar o sucesso depois de velho: O Carteiro e o Poeta, que todo mundo já viu. (como se o sucesso fosse mola propulsora do ato da escrita, oras, oras!!)
    Fica aqui a minha pergunta: por que a gente sempre tem que ser o Nobel, o gênio por excelência, o maior de todos. Não basta as boas histórias, os bons personagens, o prazer em criar, em dar ritmo, em criar emoção na ponta dos dedos?
    ESCREVER É UM PRAZER, Pô!!!!!!!!!!!!! Ñão estou dizendo que a letra B é a única e melhor opção, mas que a letra C também não é a última! Mas se B acabar sendo, justamente por falta de quem o publique, então que venha a B, e eu repito: mesmo assim, escrever não vai deixar de ser nunca um prazer, mesmo que só os netos o aplaudam. Reservadamente e em casa.

  • Marcelo ac 01/12/2011em00:18

    Lembrei de um caso de B típico: Guimarães Rosa. Ele só escrevia
    inspirado, ou seja com prazer, embora já sendo profissional.
    (escrevo a essa hora porque estou monitorando a febre alta do
    meu filho) Abraços a todos.

  • Paulo Venceslau 01/12/2011em11:16

    Só existem duas opções, o resto é papo furado: escrever bem ou não escrever nada.

  • Paulo Venceslau 01/12/2011em11:20

    Completando: se aquilo que foi bem escrito vai ou não vai ser publicado, conhecido, reconhecido, aplaudido, é indiferente. O verdadeiro artista sabe em seu íntimo se fez algo que presta ou se está apenas barganhando consigo mesmo.

  • Marcelo ac 01/12/2011em14:17

    O verdadeiro artista faz por satisfação própria, nem sempre ele
    precisa do reconhecimento. Se vier, é excelente, é claro, mas
    também se não vier, pouca importa. Não vou amar os outros, se os
    outros não me amam, é lógico isso!
    Marcelo, reconhecimento e mesmo publicação são outro papo, uma questão posterior. Não têm nada a ver com a divisão entre A e B, que é íntima e está mais para algo como formiga e cigarra. Um abraço.

  • Guilherme 01/12/2011em16:17

    Sérgio,

    em que medida a profissão de escritor destrói a crença na cândida mágica da inspiração?
    Você já deve ter respondido isso muitas vezes, mas não tive o prazer de ouvi-lo numa oficina ou palestra, então pergunto sobre essa medida para ter noção de como o escritor senta-se pela manhã diante da planura e traça, por 3 ou 4 horas seguidas, por anos a fio, como disse fazer o Gonçalo Tavares, os caminhos dos seus personagens.
    Abraços.

    Guilherme, talvez uma postura profissional destrua a candura, no sentido da ingenuidade, mas não a mágica. Pelo contrário, nos casos mais felizes a tal “inspiração”, seja lá o que isso for, multiplica suas aparições. O que não tem muito mistério além da constância, da persistência. Um abraço.

  • Afonso 03/12/2011em10:46

    Eis a questão: escrever ou não escrever. O preferível talvez fosse não fazê-lo, à moda de Bartleby, mas aqui estamos, se não fazendo literatura, ao menos conjeturando. Que consolo. Melhor seria, quem sabe, traficar armas no Norte da África, mas Rimbaud só houve um.

  • Você complicou muito com este esquema de escritor A ou escritor B. Se você foi presenteado com o Dom de escrever, não negur o Dom. Simplismente, escreva. Oras. A interpretação é particular.

  • cauim ferreira 21/12/2011em17:44

    Essas classificações não existem. Ou se tem vocação ou não. Os “amadores” não escrevem, eles redigem.