O romance “Les bienveillantes” (veja nota de 27/10, abaixo), escrito em francês pelo americano Jonathan Littell, confirmou hoje sua condição de grande fenômeno literário do ano ao ganhar o prêmio Goncourt, o mais importante da França – aqui, em francês, a notícia do “Le Monde”. O livro, um tijolaço narrado por um ex-oficial nazista gay, j&aac...
Chegou a hora de fazer a minha confissão. Eu pertenci à juventude salazarista, que se chamava Mocidade Portuguesa. Pertencíamos todos: alunos da instrução primária, do ensino secundário, do ensino superior, todos sem exceção. Era, por assim dizer, automático. Digo no livro como consegui escapar a usar o fardamento e creio que essa foi a minha primeira vitória c...
A avassaladora moda anglo-americana dos livros infantis escritos por celebridades – Madonna, Paul McCartney, Kylie Minogue, Gloria Stefan, Julie Andrews, Jamie Lee Curtis e Whoopi Goldberg são algumas delas – inspira um...
O boliviano Juan Claudio Lechín, 50 anos, está deixando de ser inédito no Brasil: lança hoje, na Feira de Porto Alegre, seu romance “A gula do beija-flor” (Bertrand Brasil, tradução de Ernani Ssó, 332 páginas, preço a definir). Premiado na Bolívia, o livro acompanha um congresso secreto de grandes especialistas em sedução e sexo, organizado e...
Encontraria a Maga? Tantas vezes, bastara-me chegar, vindo pela rue de Seine, ao arco que dá para o Quai de Conti, e mal a luz cinza e esverdeada que flutua sobre o rio deixava-me entrever as formas, já sua delgada silhueta se inscrevia no Pont des Arts, por vezes andando de um lado para o outro da ponte, outras vezes imóvel, debruçada sobre o parapeito de ferro, olhando a água. E, então, era mu...
O bigodudo da foto é Gustave Flaubert? Os especialistas se dividem – leia aqui, em francês, a reportagem do jornal “Le Monde”. O daguerreótipo de 1846 seria a imagem fotográfica mais antiga do autor de “Madame Bovary”, na época com apenas 25 anos. A imagem está indo a leilão na França no próximo dia 18, com lance mínimo de 40 mil euros &nd...
Sem querer ser chato, acho que vale a pena levantar a questão do acesso. Para quem teve a oportunidade de aprender várias línguas, e tem acesso a boas edições, de grandes tradutores, vale reclamar de nuances nos textos traduzidos. Mas quando se trata de leitura, sou daqueles que costumam dizer sempre: “É melhor do que nada”. Cheguei a estudar Filosofia um ano, e lembro que muitas pes...
Minha escala em matéria de relações tradutor-autor oscila entre o zero absoluto, cujo protótipo foi Thomas Bernhard (o tradutor é um ser incompetente que faz um trabalho merecidamente mal pago), e Günter Grass, para quem seus tradutores são, como ele disse algumas vezes, a verdadeira razão para continuar escrevendo. Entre esses extremos eu situaria Salman Rushdie, que jamais interfer...
O relançamento de “O nariz do morto” (Civilização Brasileira, 384 páginas, R$ 44,90), livro publicado em 1970 por Antonio Carlos Villaça (1928-2005), dá à cultura brasileira a oportunidade valiosa de repor em lugar menos folclórico o nome do escritor carioca. Embora esse título, que costuma ser considerado seu melhor, tenha dado início a uma série d...
Um papagaio francês é o narrador do quinto romance de Luis Fernando Verissimo, “A décima segunda noite” (Objetiva, 148 páginas, R$ 28,90), que chega às livrarias no dia 16 de novembro. Segundo título da coleção Devorando Shakespeare, dedicado a histórias baseadas na obra do dramaturgo inglês, o livro se inspira na comédia “Noite de Reis”. ...
Durante muito tempo, costumava deitar-me cedo. Às vezes mal apagava a vela, meus olhos se fechavam tão depressa que eu nem tinha tempo de pensar: “Adormeço”. O começo inesquecível desta semana foi sugerido pelo leitor Rogério Martins. Talvez as linhas iniciais de “No caminho de Swann”, livro lançado em 1913 pelo francês Marcel Proust (1871-1922), não t...
O livro-sensação da Feira de Frankfurt, “Les bienveillantes” (“As benevolentes”), escrito em francês pelo americano Jonathan Littell, 38 anos, teve seus direitos de publicação nos Estados Unidos vendidos para a HarperCollins por US$ 1 milhão – notícia completa aqui, mediante cadastro gratuito. O romance, um tijolo de quase mil páginas, tem um narrador p...
Shakespeare não seria blogueiro por estar muito ocupado, e Jane Austen por não entender a tecnologia, mas Daniel Defoe e George Orwell postariam (sim, há que se usar a palavra justa) uma nota atrás da outra, alegremente. O exercício, bobo mas divertido, sobre como se comportariam os clássicos da literatura inglesa na era da internet é feito pelo jornalista Robert McCrum no novo e vitamina...
A língua portuguesa, hoje, não corresponde à realidade de todos os países lusófonos. Há grandes diferenças entre o português de Portugal e o português do Brasil. Anteontem, eu estive na casa do cônsul de Portugal, em um jantar para um escritor português, José Rodrigues dos Santos. Era um evento para quatro, cinco pessoas apenas. E eu passei o jantar inteiro ...
O Festival Paris Beckett 2006-2007, que começou no mês passado e vai até junho do ano que vem, comemora o centenário do nascimento do autor de “Esperando Godot” (1906-1989) com um riqueza de atividades – veja aqui o site oficial do projeto, em francês – capaz de matar de inveja os habitantes de ecossistemas culturais como o nosso, em que são escassos dois fatores abundantes...
De vez em quando, roubo uma nota que, se eu bobeasse, acabaria no blog do meu amigo Luiz Antonio Ryff, caçador de bizarrices. Esta é uma delas. Na Cidade do México, que não fica atrás do Rio ou de São Paulo quando se trata de criminalidade, policiais estão sendo submetidos a uma reciclagem originalíssima: cursos de literatura e aulas de xadrez. “O princípio é qu...
Entre na sua livraria de sempre. Uma bancada estará provavelmente inundada de tons pastéis, letras bordadas e títulos que falam de compras, sapatos e mamães apetitosas: é o canto das meninas. Outra mesa exibe cores agressivas e capas que mostram helicópteros, soldados, lasers e caveiras – o canto dos garotos. Fico exausta só de olhar para isso – será que os hábit...