Pelo que sei, os escritores são os únicos artistas que não têm uma tradição de aprendizado. Por meio de leitura, educação e conversa, eles têm que criar seus próprios cânones e objetivos. O que um professor poderia fazer? Já notei que jovens escritores freqüentemente supõem que a livre produção de suas próprias imagens e sentimentos machucará os outros, que sua criatividade é uma forma de agressão a que outros – principalmente os pais – não sobrevivem. Um professor pode mostrar a eles que a sobrevivência é provável, que há um vínculo forte e útil entre agressividade e criatividade.
Além disso, os escritores precisam de bons leitores, amigos que compreendam o que eles estão tentando fazer. Isso é essencial, pois se você disser a alguém que pretende se tornar artista, receberá uma resposta dolorosa e complexa. A outra pessoa também quer ser artista. Os outros estão a ponto de começar, mas ainda não deu. E, claro, você não parece ser artista, para eles. Quanto talento você acredita ter? Crê realmente que os outros estejam interessados em você?
O escritor inglês Hanif Kureishi, roteirista do filme “Minha adorável lavanderia” e autor do romance “O buda do subúrbio”, produz algumas das reflexões mais belas e originais que tenho lido sobre o ofício de escrever – ou, mais apropriadamente, sobre o tornar-se escritor, pois o papo aqui é muito menos técnico que existencial – em seu livro “No colo do pai” (Companhia das Letras, tradução de Celso Nogueira, 208 páginas, R$ 38). O livro é um comovente acerto de contas do autor com seu pai paquistanês, também ele escritor, e escritor caudaloso, mas amador. Por esse caminho, Kureishi acaba acertando contas consigo mesmo. E com a literatura.
19 Comentários
Caríssimo Sérgio,
O seu Todo Prosa me obriga a citar a roqueira: depois do seu site, os outros são os outros, e só.
Parece-me, que, se quero saber o que está
acontecendo pelo mundo inteiro, relacionado à literatura, só preciso ler o Todo prosa.
Parabéns pelo trabalho que você vem realizando.
Desde que acessei a primeira vez, nunca mais deixei de visitar sua coluna. Inteligente. Excelente.
O único porém é que meu gasto com livraria aumentou consideralmente!
Leio seus posts e também os comentários, que, em sua maioria, são bons.
Obrigada pelas informações de hoje, de ontem e por todas que virão.
Abração,
Silvana
Adoro esse escritor, ele é muito bom.
Mais um que vou atrás por causa do Sérgio.
Faço das palavras da Silva as minhas. Parabéns Sérgio!
Desculpe, “Silvana”.
Não só faço minha as palavras da Silvana como informo que acabei de anotar o nome do livro e estou indo à livraria destinar parte considerável de meu orçamento para o meu próprio proveito.
Silvana, Rafael, Lorena, Mozzambani, obrigado. É engraçado me descobrir num papel que nunca imaginei, o de dar dicas de investimento. Mas se vocês comprarem mesmo o livro do Kureishi, acho que não vão se arrepender. Abraços.
Ei, me coloca na lista dos que agradecem as colaborações… já tenho um monte de auto-presentes para este fim de ano…
Obrigado Sérgio por nos trazer informações de algo tão maravilhoso que é a literatura… cada acesso ao Todoprosa é uma surpresa ótima… obrigado a você e a cada um que entra aqui e deixa algo inteligente, agradável e merecedor de atenção, mesmo que seja uma opinião diferente da minha… valeu… feliz natal e um ano novo cheio de bons livros e de boa leitura que é o que faz das pessoas algo muito, muito interessante…
Foi por causa dos comentários daqui (do Sérgio) que li “O último leitor” e fiquei de queixo caído. Grato, portanto.
Este cara faz análise. “outros, que sua criatividade é uma forma de agressão a que outros – principalmente os pais” Isto é freudiano. Tem que chegar a hora de matar o pai e aí fica tudo bem.
Mas é muito chato quem vem: “-Eu fiz uns poemas. Será que você pode ler…” O oposto idem “-Eu escrevinhei uns troços aqui. Você quer…” Não tenho coragem.:)
Ele é autor também de belo livro sobre separação, chamado “Intimidade”;;;
Sou leitor assíduo aqui do TodoProsa e gostaria muitíssimo de saber o que a Clarice bebe. Hic! Abraços a todos & boas festas, mas sem exageros!
Johnny Walker, eu poderia dizer que adoro o John Daniel’s. Mas tomo muito suco de laranja. Qual o motivo da pergunta?:))
Que o cara foi freudiano foi. Agora ele deveria ter lido Jung que fez um trabalho sobre Loucura e arte mostrando que genialidade não tem nada a ver com loucura. Há que ter um controle sobre diversos aspectos. Outro que também defende a mesma tese é o Anton Ehrenzweig em “A Ordem Oculta da Arte: A Psicologia da Imaginação Artística”. Ou ainda a nossa Fayga Ostrower em ‘Criatividade e Processos de Criação”. A Melanie… muita gente já se debruçou sobre este pôbrema. Agora vou tomar uma limonada.:))
Mas que coisa! A gente não pode nem botar uns pitacos em paz que vem logo gente com pergunta indiscreta!
Je suis épateé! C’est pas possible, quoi!
Personal questions are not allowed from people we don’t know.
Eu escrevi um textozinho sobre incoveniências e uma delas é exatamente a respeito de pessoas que perguntam logo o quanto você ganha, qual a pasta de dente sem a menor cerimônia.
Claro que falei da incoveniência dos mosquitos e dos sapos.
Audácia deste Johnny Walker!
Vai ver que ele veio no carregamento que foi entregue ao Lula.
Joãozinho Andarilho,
Que coisa.
Eu agora só vou dar pitaco em Blog inglês. Farewell.
HAHAHAHAHA!!!
Só agora entendemos aqui. Você acha que matar o pai é assassinar o homem?
Johnny, você não conhece “a morte do pai” do Freud?
Você está pensando que eu mandei..:o)))))
“No colo do pai” já está em minha estante aguardando o final da leitura de “O lobo da Estepe” que estou lendo pela terceira vez… “O último leitor” também já comprei, li e babei… Sergio! Pode cobrar comissão das Livrarias! (rsrsrs)