Onde termina o sampling e começa o plágio, eis a questão. Que não é inteiramente nova: pouca gente deve se lembrar, mas em maio de 2006 uma estudante de Harvard chamada Kaavya Viswanathan (leia post da época aqui) foi do céu ao inferno quando descobriram que seu badaladíssimo romance de estréia era na verdade uma colagem de diversas obras.
A novidade do caso recente (em inglês) da alemã Helene Hegemann, 17 anos, de roteiro inicialmente parecido, é que a parte do inferno nunca veio. Seu romance de estréia vende mais que nunca e até ganhou um prêmio de prestígio depois que as acusações de plágio começaram a pipocar. Detalhe: Hegemann foi esperta – ou cândida? – o suficiente para incorporar à própria tessitura de seu livro o atualíssimo tema do sampling, do reprocessamento de retalhos alheios, do imediato domínio público em que cai ou deveria cair qualquer criação artística na era da informação digital. “Não existe a tal da originalidade, de qualquer maneira: apenas a autenticidade”, declarou ela em nota oficial.
O que eu penso de tudo isso? O terreno é movediço, mas eu diria que – como comprova o chamado “caso dos escritores Jerominho” – o recurso pós-moderno do sampling tem um potencial nada desprezível. Roubar um pouquinho, todo artista rouba. Mas quando rouba frases ou mesmo páginas inteiras, tem a obrigação moral de escancarar a fonte com todas as letras. No próprio texto ou, no mínimo, numa página de agradecimentos – coisa que Hegemann não fez. O resto é desonestidade mesmo.
21 Comentários
Quem melhor resolveu a questão, creio, foi o polonês Andrej Czesc no seu Pesadas nuvens brancas: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u693611.shtml
Acho que o link do Bernardo (acima) está incorreto.
Chamar de sampling o roubo de frases ou de páginas inteiras é meio estranho, não? Sample seria tomar um pedaço, transformando-o. Isso sempre foi feito. Agora, pegar toda uma linha de pensamento ou de fatos é bem mais que um pedaço… Acho a Hegemann está distorcendo demais seu sample…
nada a ver o titulo do link com a matéria!
Como diria o Aldir Blanc, quem cita a fonte é água mineral.
Nosso amigo Juliano está certo, onde está a matéria sobre o Liam Gallagher???
Hein!? Gallagher!? Uééé…
J.K. Rowling, as colagens e os processos de plágio « Acompanhe novidades de O Livreiro
Já li sobre isso no Prosa. O pior é que eu estava lendo esta semana o livro de memórias da russa Elena Gorokhova, superelogiado no NY Times, “A Mountain of Crumbs”, e pesquisando no google descobri…
http://www.noga.blog.br/2010/02/curiosidade-matou-o-gosto.html
…foi sem querer, pena, eu estava curtindo… e acabei na suspeita. Tá virando mania ou o quê?
Sou da turma que menciona a fonte direitinho, sempre, graças a Deus.
“To give an Author to a text is to impose upon that text a stop clause, to furnish it with a final signification, to close the writing” escreve Barthes em “Death of the Author”. Se tem ou não razão, apenas o tempo o dirá. O texto pode ser lido na íntegra em http://www.ubu.com/aspen/aspen5and6/threeEssays.html#barthes
Esse negócio de “sampling” sempre deu no que falar. Alguém aí de lembra da música “U Can’t Touch This” de MC Hammer que foi sucesso nos anos 90 que nada mais é do quem um sampling da música “Superfreak” de Rick James? Teve dois casos parecidos uma é “Ice Ice Baby” de Vanilla Ice que é sampling da música “Under Pressure” de Queen e vi na Wikipédia em inglês que o rapper Vanilla Ice desconhecia a música do Queen Tem também a música “Set Adrift On Memory Bliss” da banda PM Dawn que é sampling da música “True” de Spandau Ballet que tem até um coro maneiro. Dá para conferir no YouTube.
Quem copia é mediocre,quem aproveita para modificar está aperfeiçoando e não roubando nada de ninguém.A música é assim,um eterno aperfeiçoamento.Tenho um site http://www.mad3d.com.br só de walpapers gratis para todos.Wm 3D.A última coisa que me preocupa é direito autoral.A NASA também não.Basta saber usar.Se eu ver cópia barata do que faço vou cutucar,se houver aperfeiçoamento do que faço vou aplaudir.
Em certos casos até a cópia barata é aceita.É o mesmo que fazer escola.
Se alguém quiser ver meu site esteja a vontade.Tem imagem 3D de graça para todos,sem frescura.
Madison Brizzi
Penso como Chacrinha: “Nada se cria. Tudo se copia” Agora copia a obra interia deve suporte o ônus dos direitos autorais, mesmo citando a fonte.
Desculpem-me pelo link errado. Aqui vai o correto: http://livrosquevoceprecisaler.wordpress.com/2009/02/16/pesadas-nuvens-brancas/
É lamentável quando dizem,”nada se cria tudo se copia”.
Sérgio, hoje saiu outro comentário no blog da New Yorker, vc deve ter visto: http://www.newyorker.com/online/blogs/books/2010/02/t-s-eliot-was-wrong.html. Gostei disso: “Cutting and pasting shouldn’t be considered writing. And though “mixing” has a nice ring to it—what about blending? Or melding?—it doesn’t hide the dirty reality that someone is getting robbed.”
É a morte da criatividade.
Na minha opinião não existe sampling…copiou é plágio. Quer inserir frases ou páginas inteiras, então dê o crédito a quem realmente merece. Imagine se um dia começarem a samplear contas bancárias, esposas, mães, partidos políticos, filosofias e religiões?…ou será que isso já existe!!!
Plágio ou Remix? O desenvolvimento de software que, como muitos, considero técnica e arte (o slogan do WordPress é ‘code is poetry’) é baseado na reutilização de componentes.
O que software tem a ver com literatura? Muito, pois ambos consistiam em trabalho essencialmente solitário, autoral. Mas isso há 40 anos.
Ao se orientar à inteligência coletiva, o software conseguiu atingir um grau maior de complexidade e relevância para os dias de hoje, basta considerarmos o mundo interconectado e de interfaces gráficas no qual vivemos (alguém ainda se lembra do MS-DOS?).
A mudanças proposta pela coletividade sem fronteiras (sei que não é bem assim, mas deveria) internet hoje, incluindo a discussão do copyright) remonta ao paradigma da ‘orientação a objeto’ que há décadas influencia o desenvolvimento de software.
Música, vídeo e, agora, jornais e livros, em ambiente on-line, também não deixam de ser software.
Dito isto, passemos a um segundo aspecto: livros conversam com livros. O que deve ser considerado plágio, então?
Capítulos inteiros de ‘Rayuela’ (Cortázar) são provenientes de livros de outros autores. Páginas e mais páginas de jornais e livros foram ‘remixadas’ por Nabokov, dos Passos, Machado e Burroughs. Algumas delas, com citação das fontes.
Em outra esfera, o que dizer da readaptação, ‘sequels’ e ‘prequels’ que foram sugeridas para Holmes, Drácula, Oz e até nosso ‘Casmurro’, entre outros.
Seus autores são plagiadores ou prestam homenagens?
O movimento de fanfics, muito popular entre os mais jovens, pode servir de parâmetro para entendermos o que vem por aí. O conceito de copyright certamente sofrerá mudanças porque a cabeça das pessoas mudam.
O que a internet potencializa na verdade não é muito diferente do que tivemos sempre: livros conversam com outros livros.
Antes, isolados, soterrados em poeiras de antigas bibliotecas, era mais difícil notarmos esse diálogo. Como éramos surdos a esses diálogos, não poucas vezes, confundimos nossa própria ignorância com a ‘genialidade’ de certos autores.
Claro que existe genialidade e inovação, mas, antes na entonação do que a gênese de algo inteiramente novo.
Leia Borges. Mas, para para entender sua genialidade leiam Robert Burton, Thomas browne e John Wilkins.
Antes, isso era praticamente impossível para nós que não vivemos em Bibliotecas. Hoje, basta fazer uma busca no Google Books.
Todos os textos do mundo tendem a estar disponíveis em um imenso repositório de dados e informações acessíveis através mecanismos de buscas e filtros.
A criatividade (de leitore e escritores) estará no saber usar tais recursos, agregando a essa experiência o espírito de nosso tempo.
Parece-me apropriado indicar o site a seguir aos interessados no assunto: http://www.plagiarismtoday.com/
Houellebecq: o Ctrl+C/Ctrl+V como ‘método’ | Todoprosa - VEJA.com
Quem cita fonte é água mineral. – Aldir Blanc