A cidade natal do colombiano Gabriel García Márquez, a pequena Aracataca, que ele pôs no mapa, não quis sair de casa para lhe retribuir o favor: num plebiscito realizado domingo passado, uma alta taxa de abstenção – leia-se indiferença – impediu que o nome da cidade fosse trocado para Aracataca-Macondo, em referência à localidade fictícia onde se passa a trama da obra-prima de García Márquez, “Cem anos de solidão”. Dos 22 mil eleitores da cidade, apenas 3.600 apareceram para votar, abaixo da metade do mínimo necessário. Notícia completa, em inglês, aqui.
Moral da história? Talvez esta: o brilho da literatura, por mais forte que seja, costuma perder quando confrontado com o sol a pino da vida mundana. Ou ainda: a cidade está ressentida porque faz duas décadas que o escritor não a visita. Ou não, nada disso: rebatizar o lugar como Aracataca-Macondo era uma idéia de jerico mesmo.
16 Comentários
Sérgio,
os moradores fizeram muito bem! Impor a literatura a realidade, ambas perderiam a graça.
Bah, que mudança mais sem-graça!
Além de ideia de jerico é de mau gosto. Não mudar o nome da cidade e adicionar outro com hífen é coisa de fresco.
Mais ainda, esta é o tipo de homenagem que o Gabo deve dispensar.
Eu trocaria para Macondo simplesmente.
Mas o que tem se a cidade não quer mudar o nome pra Macondo? Tá, tá certo, o nome da cidade é imortalizado pelo Gabo em uma obra prima, mas esse seria realmente uma homenagem a ele? Ao meu ver a melhor das homenagens seria construir uma biblioteca chamada Gabriel García Márquez nessa tal Aracataca e colocar nela as principais obras do mesmo.
Se Márquez foi o idealizador de tal ideia acho que é tempo de se recolher aos seus aposentos.
Os dois nomes nao significam muito.
O livro sim. A Historia é um mundo de sonho surreal.
Num plebiscito pra mudar o nome do Brasil pra “Pindorama”: você compareceria?
NUNCA! NEVER! NEVER MORE!
Concordo com Fábio. Alem disso, duas décadas sem aparecer na cidade? Putz…
E o pior, isso cheira a projeto de lei de politico puxa-saco do interior
Além do péssimo nome sugerido – até porque Macondo é, no livro, a anti-cidade -, tem o provérbio bíblico de que nenhum profeta é reconhecido em sua cidade natal. Tudo indica que os aracataquenses(ou seja lá o nome que for) não tenham idéia do que significa ter um cidadão da terrinha como Nobel.
Com a eleição de Lula e sua provável re-eleição eu já estava duvidando que o povo pudesse resistir a pobreza mental!
Dá-lhe povo de Aracataca!
No Brasil a coisa tá pior, com certeza! Canso de ver topônimos de ruas com 30 , 40 anos de existência. Consagrados na memória do povo ser mudado para um nome de artista ou político só @#$$$#$ com a cabeça da população e com suas tradições. Bairros e ruas e locais públicos são criados todos os dias no Brasil, que esperem os homenageados!
Abs.
Aliás estes homenageados não esperam mesmo! :o)
mudar nome de cidade (que aliás, já tem um bem… “pré-colombiano”, não é mesmo? …ou seria “pré-histórico”?) está me cheirando a plágio internacional…
explico: que mais nossos vereadores de Sampa fizeram, no primeiro ano do governo Serra, além de sugerir umas dezenas de mudanças de nomes de rua? e isso esteve impresso nos jornais, se me desacreditam…
coisa de quem não tem mais o que fazer.
“Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vítima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores.”
(Oswald de Andrade-1890/1954-Manifesto Antropófago)
Que tal mudar o nome de Recife para Pasárgada?
Há algum tempo, nos Rio Grande do Sul promoveu-se um plebiscito para mudar (ou não) o nome de uma cidade chamada Não me Toque para Campo Real. Ainda que pudesse ser considerado constrangedor, o nome não foi mudado.
Aracataca é um nome disgramado, mas deve ter fundas raízes antropológicas que o justifiquem e despertem afetividades. Portanto, Macondo deverá ser aproveitado de outra maneira, e eu desconfio que o próprio Garcia Marques concorda.
Aqui em Salvador continuamos passando o desconforto de uma Câmara Municipal safada (pleonasmo?) ter mudado o nome do Aeroporto 2 de julho (de 1822,data da confirmação da independência do Brasil) para Luiz Eduardo Magalhães, o falecido filho do bandidão-mor ACM.