Contra a maré: a jovem escritora americana Edan Lepucki faz, no site “The Millions”, uma interessante lista de seis “Razões para não se autopublicar em 2011-2012” (em inglês, acesso gratuito). Autora (agora no feminino, com o colunista ajoelhado no milho, valeu Hilary Kaplan!) de uma única novela mais ou menos obscura – que as grandes casas editoriais esnobaram e que acabou lançada por uma editora pequena – e no processo de escrever seu segundo livro, alguns dos motivos que Edan enumera para ter tomado a decisão de não eliminar intermediários na relação com o leitor são previsíveis e até banais: a crença no papel fundamental dos editores, por exemplo, ou o fato de nem sequer possuir um leitor eletrônico. No entanto, ela parece se aproximar de uma verdade pouco comentada quando observa que a onda das autopublicações não tem incluído muitos exemplos de “ficção literária” – isto é, aquela literatura artisticamente ambiciosa, mais inquieta com questões de forma, que vai buscar seus leitores numa parcela menos numerosa e mais exigente do público.
Antes que me atirem pedras, convém esclarecer: não considero a ficção literária superior a outras formas de ficção, apenas diferente; para mim, é um outro gênero, tanto em termos de conteúdo quanto de marketing. Muitos dos escritores que tiveram sucesso na autopublicação são autores de uma ficção de gênero do tipo puro. Amanda Hocking escreve fantasia juvenil, com anões e tudo. Valerie Forster, que foi publicada pelas vias tradicionais antes de se estabelecer por si própria, escreve thrillers legais. Histórias romanescas e sentimentais também se saem bem sem uma editora por trás. No entanto, com exceção de ‘Anthopology of an American girl’, de Hilary Thayer Hamann, não consigo pensar em um romance literário autopublicado que tenha sido elogiado pela crítica e vendido bem. Não quero dizer que isso não possa – ou não deva – acontecer, apenas indicar que se trata de um caminho duro para autores de certos tipos de história. Leitores como eu não estão à procura de livros autopublicados. (…) A menos que Jeffrey Eugenides, Alice Munro e outros comecem a publicar seu trabalho via CreateSpace, não vejo a paisagem da ficção literária passando tão cedo por mudanças nesse aspecto.
No Brasil, onde a proporção é invertida e a maioria absoluta dos ficcionistas publicados se acotovela no quarto-e-sala da literatura literária, essa reflexão pode ser especialmente relevante – isto é, como subsídio para um futuro (próximo?) em que a autopublicação tiver algum peso em nosso mercado. Ou será que a inversão inverte também a equação de Lepucki?
11 Comentários
Sérgio, perdoe a ignorância, mas o que quer dizer exatamente “literatura literária”? É um sinônimo para literatura de ficção? abraço e parabéns pelo tema do post. Muito relevante.
Nelson, não é sinônimo de ficção, é um certo tipo de ficção. Como digo no post, “aquela literatura artisticamente ambiciosa, mais inquieta com questões de forma, que vai buscar seus leitores numa parcela menos numerosa e mais exigente do público”. Opõe-se à ficção comercial ou de gênero, policial, ficção científica, fantasia etc. Como no Brasil temos pouco disso, a maior parte da nossa ficção acaba caindo na categoria “literária” mesmo. Ainda que não seja tanto. Um abraço.
Complementando a matéria do Sérgio: o que conta realmente no Brasil em termos de mercado editorial é o eixo Rio-São Paulo. Isso por fonte segura, seguríssima. Em termos de Brasil isso é muito pouco. Minha esperança é que com a difusão das festas literárias, feiras, mostras etc, o quadro venha a mudar um pouco, pelo menos a médio prazo.
mercado editorial, não: mercado consumidor de literatura, de livros em geral, perdão!
Li e reli sem entender o que o jornalista quis dizer. Pareceu que o texto dele foi cortado ou que não tinha espaço para mais dois paragrafos porque acho que não chegou a lugar algum. Ou pode ser que tenha escrito isso voltado para um grupo restrito de pessoas, autores conhecidos dele que sabem do que ele está falando.
Ricardo, a ideia de Edan Lepucki não é complicada. Se você me disser qual foi a parte que não entendeu eu explico de novo.
Parece que ser publicado por uma editora tradicional serve de chancela ao publicado – que poderia contar com toda a estrutura, marketing etc. Quase ninguém está disposto a ousar/arcar com a autopublicação, que na maioria das vezes não ousa ‘literariamente’ – mas tudo isso já se disse, e nem o leitor está acostumado a buscar esse escaninho e surpreender-se. Esperam-se as exceções.
Há menos de dois meses, publiquei os meus três primeiros livros. Escrevê-los nem foi tão difícil como eu poderia inicialmente supor, e tenho mesmo até ideias prontas para escrever outra obra, caso queira e encontre leitores por aí. Cheguei à conclusão de que a publicação de um livro é algo deveras desanimador, pelo menos para um escritor iniciante. Embora as minhas singelas obras houvessem sido aprovadas por pelo menos um grande selo editorial nacional, hoje vejo-me contrafeito por não encontrá-las nas livrarias do país. Motivo: não pude financiar os custos da publicação e da distribuição dos livros. O resultado disso, é lógico, foi ter de publicar os meus livros por editoras pequenas, cuja vendagem é feita sob demanda e apenas pelo site de suas livrarias virtuais. É impressionante, hoje eu sei, como é difícil vender um só volume por tal via. Acreditem, é muito complicado. Nem sequer o esforço de divulgar as minhas obras, especialmente pelo Twitter, surte algum efeito. É uma pena, pena mesmo. Nunca pretendi vender dez milhões de exemplares. Não, nunca. Tudo isso é constrangedor! Nem sei se voltarei a escrever…
Caro Sérgio, a maioria dos grandes autores se autopublicaram, Nietzsche por exemplo foi um. Acho que os editores e as editoras estão DESESPERADOS com a facilidade do escritor se autopublicar hoje em dia, sem falar que os livros eletrônicos e os tablets estão aí, a preços populares (os ebooks de autores consagrados, a maioria livre para downloads em compartilhamento de arquivos. Até as distribuidoras estão desesperadas, já que as redes sociais, se bem usadas, são uma maneira do autor independente alavancar suas vendas. Nunca gostei de editoras e editores, salvo raras exceções. Em suma, editoras e editores “convencionais”, vocês estão DEMITIDOS! Ou então, reinventem-se!
Puro preconceito. A autopublicação liberta talentos dos grilhões da industria literátia convencional. Antes, no Brasil, pouco se lia. Agora que muita gente está lendo e consequentemente o mercado se expandindo, querem determinar aquilo que as pessoas devem ler. As grandes editoras visam lucro. Nada mais. Tudo é comércio. Prova disso é a infinidade de biografias sem conteúdo de celebridades que atualmente, estão lotando as prateleiras das livrarias. Enquanto isso, talentos são desperdiçados, amargando uma longa espera por uma resposta de alguma editora que eventualmente analise sua obra. Algo raro de acontecer! Na maioria das vezes, ignoram o trabalho de gente desconhecida. Muitos dos futuros talentos estão ainda no anonimato e se a autopublicação pode torná-los notórios, então ela é sim muito boa.
Bom, concordo com o Ricardo Azavedo, pois, embora o tema seja muito interessante, foi completamente mal explorado pelo autor. Me admira que a Veja, tão rigorosa nos critérios de comentários dos leitores, nao o seja com seus autores.
O texto é confuso, sem encadeamento lógico e truncado, além de não deixar claro ao leitor qual a discussão pretendida.
Mas, vindo de uma publicação do escopo da Veja, que está acostumada a maltratar seus leitores, não devíamos mesmo, ficar espantado com a falta de um posicionamento crítico por parte de um de seus colunistas.
Resta saber se, agora, meu comentário irá passar pela censura e poderá configurar entre os outros 9.
Obrigada.
Paula, repito para você o que disse ao Ricardo Azevedo, que acabou não respondendo: me diga qual foi a parte que você não entendeu que eu repito. Longe de maltratar leitores (!), sou conhecido por ser um cara muito paciente.