“Por que só digo agora,/ velho e com minha última gota de tinta,/ que a potência nuclear Israel põe em risco a já frágil paz mundial?”
É curioso que o escritor alemão Günter Grass, Nobel de literatura de 1999, tenha abordado retoricamente em seu polêmico poema-manifesto “O que precisa ser dito” – publicado na quarta-feira em diversos jornais do mundo com duras críticas a Israel – a questão do longo silêncio que finalmente se quebra.
Foi um desses atrasos que, em agosto de 2006, arranhou sua imagem de tal forma que faz a manifestação de agora ser recebida com maior perplexidade. Naquele momento, veio a público a confissão de Grass – parte de seu livro de memórias “Descascando a cebola” – de que tinha sido nazista na juventude, tendo pertencido às tropas SS em 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial. Uma informação que ele mantivera em segredo até então.
Muitos alemães tinham e têm histórias semelhantes. A diferença é que o autor de “O tambor” havia passado seis décadas como uma das principais vozes da consciência moral alemã, instando seus compatriotas a encarar de frente o passado nazista, sem no entanto aplicar a receita a si mesmo (leia aqui o post da época no Todoprosa).
O escritor Joachim Fest, biógrafo de Hitler, foi um dos críticos que não perdoaram a Grass o fato de ter saído tão tardiamente do armário nazista – “com a última gota de tinta”, como ele mesmo talvez dissesse. “Não entendo como alguém pode se colocar numa posição de superioridade por 60 anos”, atacou Fest, “e só então admitir que também esteve envolvido. Para usar um dito popular, eu não compraria um carro usado dessa pessoa.”
Isso contribui para tornar o episódio do poema – de forte impacto político, mas com valor literário próximo a zero – ainda mais complexo. A crítica às intenções belicosas de Israel contra o Irã é compreensível e, de resto, não falta quem a formule dentro do próprio país. Como veio de fora, e ainda por cima de um alemão, as acusações de antissemitismo que se multiplicam em Israel e na comunidade judaica internacional também eram previsíveis. Mas como não especular o que mais Grass teria guardado no armário para dizer, e com que motivações, antes que acabe realmente a sua tinta?
24 Comentários
A credibilidade de Strass é a mesma de um pedófilo q resolvesse fazer uma palestra sobre educação infantil…
Ao Gehinom com ele…
Há coisas das quais não nos perdoamos até que as consideremos
irrelevantes ou temperamentais. Para atavismo sacudido, não teria tempo.
O problema é equacionar as incongruências entre A e B.
O cigarro que fumo hoje, não é o mesmo cigarro que fumei ontem.
Não mais que a última gota de tinta tenha se anunciado; o destempero
da lira será sempre maior.
Os mitos jamais serão apontados pelos que soerguem suas casas.
As fábulas de ambos os lados, calhordas que sejam, mantém o foco.
Que fazer?
Coisa de quem ainda não prcebeu que perdeu a guerra e que a ideologia nazista não passa de doença mental.
Este idiota devereia ser preso por falar tamanda ignorancia e burrise. Um nazista que contamina o mundo com sua mente podre. A ameaça ao mundo é o Ira, só cego não ve isto!
Israel deveria antecipar a sua última gota de tinta.
Uma vez nazista, sempre nazista. É um Rick Martin literato tocando tambor para agradar iranianos.
Enquanto criticou o nazismo, o “alemão” era o máximo e amealhou até o nobel da literatura, mas quando resolve fazer uma crítica a política israelense passou a ser incoerente e péssimo escritor. Vale o dito popular: “..aos amigos tudo, aos desafetos os rigores da crítica”!
O duro da lavagem cerebral que recebemos é: ninguem pode discordar ou criticar Israel que é chamado de antissemita.
Será uma ditadura fria ou Israel é realmente o dono da verdade que uma critica já é vista como heresia?
Concordo com os dois últimos comentários. Curioso que estou lendo o excelente O Avesso da Vida, do Philip Roth. No 2º capitulo, Judéia, Roth, por meio de Nathan Zuckerman, faz considerações interessantes sobre esse assunto.
Só li dele O tambor e Gato e rato. Considero-o um escritor do mais alto nível, para mim o de livros artisticamente mais bem sucedidos dentre todos os prosadores que ganharam o Nobel a partir de 99, com exceção de V. S. Naipaul, cujo Uma casa para o sr. Biswas é o melhor romance que já li até hoje.
…encarar de frente… – esquisito, hem?
Vê-se que você não tem muita familiaridade com o Kama Sutra, Dilson.
O impacto da frase so e grande (e suscita tanta necessidade de lembrar outros pecados do autor que nao teema ver com a frase) porque o sentimento existe no subconsciente da maioria que algo de manipulacao existe para nao se mostrar a impunidade dos criminosos que governam Israel (e EUA?)
todo mundo tem direito a uma opinião, que dirá um escritor da magnitude Grass. Chega disso de pensamento uniforme, no mundo de hoje ter uma opinião diferente é um crime??????
Engraçado como onde tem judeu tem guerra. Mas a culpa nunca é deles.
O discurso fácil do antissemitismo é sempre utilizado pelo governo de Israel para atacar os que criticam as ações daquele Estado. Aqui no Brasil com o kit gay foi a mesma coisa, quem foi contra é porque é homofóbico, assim não precisa entrar no mérito da questão. É preciso ser realista, ataque preventivo foi uma invenção norte-americana para justificar a derrubada de Saddam, e o acesso ao petróleo Iraquiano, tudo sob a vista grossa da comunidade internacional. A guerra contra um inimigo externo sempre é a saída encontrada por governos em dificuldades para criar o sentimento de “união nacional”, o senhor Obama não está fazendo nada de novo. Quanto a Günter Grass, ainda que tardia, sua crítica é importante os motivos de uma guerra sempre devem ser questionados.
nazismo nunca mais!
E porque o articulista não explicita o que pensa a respeito dos fatos abordados por Gunter Grass, ao invés de, como muitos, à falta de argumentos contrários ao que dito pelo escritor, ou de vergonha de defender posições injustificáveis de Israel e dos seus apoiadores ocidentais intransigentes, voltarem as baterias, sem qualquer reflexão aprofundada, contra um jovem de 17 anos de idade que, já velho, possivelmente se envergonhava do passado que talvez lhe tenha sido imposto pelas circunstâncias da época?
Prezado Marcelino, aqui não tem esse maniqueísmo não. Este é um blog de literatura e o que me interessou, na manifestação de Grass, foi a sua posição moralmente frágil diante do poder político – não por ter sido membro da SS na juventude, mas por ter escondido isso por 60 anos enquanto passava por vestal diante dos conterrâneos. Essa mancha não se apaga e torna mais curiosa, a meu ver, sua manifestação de agora. É minha modesta contribuição ao debate. De resto, se ele tivesse dito que Netanyahu e a direita israelense ameaçam a paz mundial, teria minha simpatia. Ao dizer que Israel o faz, como se questionasse o próprio Estado e sem mencionar o papel abertamente beligerante de um bandido como Amahdinejad, perde a razão. É simples assim, já que você se interessa por minha opinião como cidadão. Um abraço.
um escritor medíocre e na política e na sua autopromoção apenas mais um oportunista
Dizer que Grass é um escritor medíocre é não conhecer a sua obra magnífica.
Quem diz que o poema é antissemita é porque não o leu ou é muito desonesto.
Qualquer crítica ao estado apartheid de Israhell vira antissemitismo. Não se pode criticar nada, tudo o que os judeus fizerem é perfeito.
Que nojo.
Escritor alemão Günter Grass fala em aposentadoria - Radar Editora Elise