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Pornografia com bilionário é fácil. E com assalariado?

09/11/2012

O que acontece quando uma boa escritora feminista como a inglesa Julie Burchill, ex-menina-prodígio do “New Musical Express”, ataca o estranho fenômeno editorial desencadeado pelo sucesso de “Cinquenta tons de cinza”? Aqui (em inglês), escrevendo no “Observer” sobre Bared to you – lançado no Brasil pela editora Paralela como “Toda sua” – de Sylvia Day, uma imitação descarada que também tem vendido feito pão quente por lá, ela nos dá a resposta. Acontecem risadas, risadas restauradoras da nossa fé na inteligência do homem – e da mulher, claro. Principalmente da mulher.

Sempre achei a ideia de obscenidades “ao gosto feminino” especialmente patética, como papel higiênico com crinolina. Mesmo antes de ler qualquer coisa do gênero, minha opinião era que esse tipo de “pornografia da mamãe”, como é conhecido de forma bastante revoltante, demonstrava um lado sádico e não masoquista da mulher moderna. Parecia ser só mais uma forma de atormentar os homens, surgida quando estávamos prontas para algo um pouco mais forte do que anúncios televisivos que os retratam como débeis-mentais incapazes de encontrar o próprio traseiro usando as duas mãos, um GPS e um são-bernardo. Escuta aqui, homenzinho – você não é um bilionário jovem e lindo que pode levar uma mulher ao orgasmo com o simples derrubar de uma abotoadura de ouro e ônix!

No dia em que um livro sobre as delícias de ser delirantemente dominada por um homem que ganha salário mínimo se tornar um sucesso galopante, eu acreditarei que as mulheres estão de fato passando por uma onda masoquista. Mas enquanto os heróis forem, como são, uniformemente super-ricos – além de jovens e bonitos – acho que essa febre é impulsionada por desejos que não são apenas físicos, mas fiscais.

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A propósito da edição em inglês da revista “Granta” dedicada aos jovens escritores brasileiros, que chega às livrarias neste momento, aí vão os links para os textos sobre o Brasil que o escritor mexicano Juan Pablo Villalobos vem publicando – o último sai na semana que vem – na edição online da revista: um, dois e três (em inglês). O narrador é um extraterrestre que veio ao nosso país em busca de fechar bons negócios para seu planeta em torno da Copa do Mundo e das Olimpíadas.

O resultado da brincadeira do autor de “Festa no covil” (Companhia das Letras), que mora atualmente em São Paulo, é divertido: crítico sem ser preconceituoso, um tanto fixado em clichês – o que é compreensível – sem ser tolo ou ofensivo. Definitivamente, algo parece estar começando a mudar na percepção internacional sobre a vida por aqui. Recomendo em especial o terceiro texto, um guia de sobrevivência em tópicos que contém as duas dicas literárias abaixo (as outras tratam de costumes, telenovela, sexo, língua, futebol, Giselle Bündchen etc.):

Questões literárias: Se você for estrangeiro e quiser conversar sobre livros, deve estar bem preparado para responder adequadamente à seguinte pergunta: qual é seu escritor brasileiro preferido?

Dica que pode salvar sua auto-estima: Não tente ler Guimarães Rosa em português.

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Mapa da mina para autores de literatura policial em busca de um mistério inusitado: arqueologistas israelenses descobriram um poço datado de cerca de 8.500 a.C. com duas ossadas dentro, a de uma moça de 19 anos e a de um rapaz um pouco mais velho (mais detalhes aqui). Como eles foram parar lá? Acidente? Pacto suicida? Assassinato? Estamos falando do período neolítico, no fim da pré-história, e de um dos poços mais antigos de que se tem notícia, provavelmente cavado pelos primeiros agricultores do vale Jezreel. Devido à escassez de informações sobre a época, o escritor que embarcar nessa aventura terá uma tela praticamente em branco para o livre exercício da imaginação. Eu mesmo cheguei a ficar tentado por cinco segundos, o tempo de lembrar que meu romance sobre temas contemporâneos tem me dado trabalho suficiente, obrigado.

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James Ellroy afirma (em espanhol) que não lê um livro há 30 anos. Só escreve. “Me basto e me sobro”, gaba-se. Não chega a me impressionar. Conheço um escritor brasileiro de 30 anos que está no mesmo caso.

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Bom fim de semana a todos.

16 Comentários

  • Claudio Faria 09/11/2012em14:46

    Você conseguiu, Sérgio: estou curioso para saber quem é o escritor brasileiro que também não lê mais nada, que “basta a si mesmo”.

    No mais, o texto da escritora inglesa é ótimo mesmo.

    • sergiorodrigues 09/11/2012em14:59

      Que não lê mais nada deve haver alguns, Claudio. Esse tem 30 anos e não lê um livro há 30 anos, feito o Ellroy.

  • Claudio Faria 09/11/2012em15:06

    Infelizmente conheço vários casos desses. Pena, não sabem o que estão perdendo.

  • Rodrigo 09/11/2012em15:10

    O Pondé abordou o mesmo tema em uma coluna na Folha.
    Trecho:
    “Dinheiro compra até amor verdadeiro.” Imaginemos duas situações hipotéticas.
    Hipótese 1: Alguém convida você para um longo fim de semana na costa amalfitana na Itália. Executiva, hotel charmoso, longas caminhadas por ruas quietas e antigas, sem pressa, vinho (não “bom vinho” porque isso é papo de pobre querendo parecer rico, do tipo que os jovens chamam de “wanna be”, gente que queria ser chique, mas não é).

    Hipótese 2: Alguém te convida para um fim de semana longo na Praia Grande, você pega oito horas de Imigrantes, trânsito infernal, o carro ferve, você fica na estrada esperando o socorro da Ecovias. Chega lá, apartamento apertado, cheiro de churrasco na laje por toda parte. Crianças dos outros gritando em seu ouvido.

    Onde você acha que o amor verdadeiro nascerá? Se responder “hipótese 2”, é mentiroso ou não sabe nada acerca dos seres humanos, vive num aquário vendo televisão e se olhando no espelho.

    http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/1143488-elas-gostam-de-apanhar.shtml.

  • Raquel Sallaberry Brião 09/11/2012em15:30

    Sergio,

    a frase da capa “Ele me possuiu e eu fiquei obcecada” diz tudo.
    A criatura no lugar de ficar apaixonada,encantada e outras tantas coisas que se fica, não… Ficou obcecada.

    Logo ali, ele, que talvez tenha gostado tanto quanto ela, vai perceber a psicopata carente com que se envolveu e se possível sairá de fininho!

    Tem muito disso. Cada vez mais. Gente totalmente vazia que se gruda nos namorados/namoradas pois não tem vida própria.

  • Pedro 09/11/2012em16:08

    O correto não é “creolina”?

    • sergiorodrigues 09/11/2012em16:40

      Creolina é outra coisa, Pedro. Crinolina é um tecido rígido feito de crina.

  • Sérgio 09/11/2012em16:48

    Prezado Sérgio,

    Um escritor que não lê livros há 30 anos? Nem James Joyce ou Dante se gabariam com uma bobagem dessas.

    Abraços

  • Luiz Antonio Ryff 09/11/2012em17:39

    Nomes, Sergio! Queremos nomes! 😉

    • sergiorodrigues 09/11/2012em22:12

      Ryff, meu caro, depois te passo por DM. 😉

  • hildete engel 10/11/2012em09:46

    livro, é um artigo como outro qualquer, pode-se examinar, comprar ou nao, a cada um cabe a escolha, nunca li paulo coelho e ele vive muito bem sem que eu jamais, tenha comprado um só livro dele.
    Mesmo assim, prefiro ter sempre deito sempre com duas coisas ao lado, meu marido e um livro, para uma noite agradavel.
    A leitura, nao importa se o livro é erudito ou agua com acucar, antes ou depois do papo ou algo mais com meu marido, é indispensavel para mim, habito do qual, nao abro mao.

  • clara lopez 10/11/2012em11:43

    Muito bom esse post, adorei o comentário da Julie, com o qual concordo. Já o de Ellroy acho muito pobre e pretensioso. abraço, clara

  • Rogério 11/11/2012em12:59

    Essa é mais uma das brincadeiras do Ellroy. Tanto não é verdade que ele sempre cita o Libra, do Delillo, lpublicado em 1988, como o livro que mais o influenciou. Ele lê muita poesia também. Mas como tem aquela persona que criou para entrevistas e festivais literários, diz essas coisas e muitos o tomam como arrogante.

  • Ingrid Vigel 16/11/2012em09:47

    Existe um livro erótico brasileiro muito bom mas lançado no Brasil por uma pequena editora permanece esquecido e ignorado pela mídia. Chama-se “Redes Sensuais” eu já li e recomendo… Explora o efeitos da internet nos relacionamentos, traições. Um romance super atual, sexy e inteligente.

  • Pedro 19/11/2012em18:15

    Como disse o Rogério, é bem provável que essa história do James Ellroy seja mesmo uma piada. E uma jogada de marketing, já que os americanos parecem ter um certo fascínio por histórias de gênios reclusos, que não leem, não saem de casa, não veem Tv, não fazem nada que uma pessoa comum faz.
    Pessoalmente, não gosto dos livros dele. Li “Tablóide Americano” e assisti o filme Los Angeles, Cidade Proibida”, o que para mim já foi o suficiente. Acho que ele mata gente demais nas suas histórias (além de escrever num estilo feio) e veicula uma idéia infelizmente muito presente na literatura policial americana: a de que ‘o sistema’ (a lei, a polícia, tribunais) não funciona, e de que a justiça precisa necessariamente ser obtida pelas próprias mãos (das mãos dos ‘bons’, é claro), matando e moendo os outros de pancada. A quintessência desse ideário é a obra de Mickey Spillane.

  • Lorena Rocco 21/11/2012em11:15

    Tenho me demorado a comentar tal tema a algum tempo porque me faltou palavras para expor o que realmente acho.

    Adorei tudo o que disse e citou e concordo com a maioria, principalmente a motivação das mulheres a ler livros eróticos.

    Beijo.