Bem, é um tipo de trabalho sedentário e introspectivo que se faz de pantufas, enfiando o dedo no nariz e coçando a bunda, você sozinho em seu escritório, e não há a menor possibilidade de ser de outra forma. Assim, qualquer um que entre nessa de olho em ganhos materiais e agitação mundana, eu não acredito que chegue muito longe.
Surpresa: Martin Amis, 57 anos, um dos romancistas vivos mais importantes da Inglaterra – e provavelmente, com sua máscara midiática enfezada, o mais famoso – está sendo anunciado hoje pela Universidade de Manchester como seu novo professor de “escrita criativa”. Deve haver muito estudante apavorado, mas em entrevista ao “Guardian” (acesso livre, em inglês, aqui), Amis trata de tranqüilizá-los:
Posso ser ácido na forma de escrever, mas não na forma como vivo. Seria muito difícil para mim dizer coisas cruéis a pessoas numa posição tão vulnerável. Imagino que eu vá ser surpreendentemente doce e gentil com eles. Uma das coisas que aprendi sobre ficção é que você realmente se expõe de uma forma que nenhum outro artista dito criativo faz. Na maioria das outras artes você está só exibindo um talento específico, de certa forma até na poesia, mas ao escrever ficção você desnuda não apenas seu talento, mas todo o seu ser, seu ser social, sexual e psicológico, e nada pode deixá-lo mais vulnerável do que isso. Estou bem ciente desse fato e vou levá-lo em consideração.
Tudo bem, mas fiquei curioso: será que alguém aqui escreve de pantufas?!
66 Comentários
E porque não? De chinelo de dedo, de papete, sapato de bico fino, sandália, mocassins, tamancos, tênis, descalço, de pantufas… Vai do gosto. Agora, enfiando o dedo no nariz? Que coisa mais mal educada e… Nojenta. Coçando a bunda vá lá. A gente coça o dia inteiro, esteja escrevendo ou não. Agora, pra coçar o saco precisa estar sem fazer nada, nem escrevendo.
Eu escrevo de chinelos franciscanos que, para perplexidade e total desapontamento de um de meus irmãos, possuo há 17 anos (tenho 29).
Gostaria de conhecer a opinião de quem já leu Campos de Londres. Você já, SR?
Obrigado.
Li, Thiago, faz tempo. Achei disperso e cansativo, embora me lembre de páginas empolgantes. Mas me diverti muito com Success e Money (aqui, por razões insondáveis, traduzido como Grana). Amis tem boa mão para o humor, mas costuma perder um bocado na tradução. Entrevistei o cara uma vez e ele me disse que considera “Time’s arrow” seu melhor livro. Nunca li.
Caro Sérgio:
Acho que “escrever de pantufas e enfiando o dedo no nariz” seja apenas sentido figurado…
Caro Da Janela: acho que entendi isso. Só fiz uma brincadeira.
Acho que a observação mais interessante é: “Assim, qualquer um que entre nessa de olho em ganhos materiais e agitação mundana, eu não acredito que chegue muito longe.”
Escrever, aliás, lidar e produzir arte, é algo que realmente não nos dá a oportunidade de traçar um plano de carreira. É estar à mercê demais do alheio, por isso ao menos o momento da criação tem que ser nosso demais, coçando a bunda e cutucando o nariz, rs.
Em geral, escrevo só de cueca e chinelo Havaianas (nenhum motivo esotérico: é só que sinto muito calor). Meu computador fica ao lado da janela, aqui no terceiro andar. Do outro lado da rua, posso ver um posto de distribuição do jornal Extra que também serve como posto de troca. O caminhão chega cedo. Hoje chegou uma da manhã. Em diagonal, também do outro lado da rua, tem uma garagem/oficina onde se guardam vans. O segurança do período noturno rouba a gasolina das vans, passando-a para outros veículos que chegam, são abastecidos e vão embora. Até hoje ele não foi descoberto. Essa mesma garagem recebe as visitas noturnas de uma patrulhinha da PM, porque um dos policiais mora ali nos fundos: os PMs param pra fazer um lanchinho e ir ao banheiro às 3 ou 4 da manhã. Às vezes comem em pé mesmo, do lado de fora da viatura, seus sanduichezinhos de pão com mortadela. Às vezes, abrem as portas e se sentam com as pernas pra fora, as escopetas e metralhadoras atravessadas placidamente nos joelhos, enquanto mastigam que nem bois. Aqui ao meu lado, na casa ao lado, mora um cara que é gay. Gay e pai-de-santo (que clichê!). Minha janela abre justamente para o terraço dele, que fica no segundo andar. Às vezes ele mata galinhas em sacrifício. Em outras, recebe uma entidade que dá uns Ê Ês bem fortes. Os fiéis sentam-se no terraço, muito respeitosos, enquanto a tal entidade fala com ar professoral, dá conselhos e responde às perguntas deles. Eles sentam-se em tocos de madeira que ficam todo o ano expostos às intempéries, e por isso têm grandes cogumelos cinzentos grudados às suas cascas. Todos os dias ele faz soar um sino por vários minutos dentro de casa. De vez em quando sinto cheiro forte de incenso.Mais pra baixo, perto de um dos dois começos da rua, mora um mendigo. Um domingo, vi dois PMs achincalhando-o: enconstaram-no contra a parede e ficaram ameaçando-o, prestes a dar-lhe socos e tapas. Ele parecia um animal acuado: trocava o peso de um pé para o outro, os olhos baixos olhavam de um lado e de outro, com a buscar a impossível fuga, escutando enquanto os dois polícias vociferavam. Esse mendigo é “nosso”, ninguém está incomodado com sua presença. Fiquei com muita raiva dos dois canas. O mendigo é jovem, deve ter menos de 30 anos. Seria bonito se não fosse tão sujo: parece um árabe, a bele marrom, de barba e bigode. Magro. Diviso uma beleza exótica embaixo de tanto encardido: os olhos são duas jaboticabas, o cabelo é uma juba vigorosa. Às vezes ele ronda o hortifruti que tem aqui, quando lhe dão uma banana e algumas laranjas. Tem dias em que está levemente inquieto, anda de cá pra lá, passa a mão em garra pela juba. Outro dia apareceu de cabelo todo raspado. Não gostei: ficou parecendo um leão pelado. Algumas casas depois da minha, na mesma calçada, morreu dia desses uma senhora muito gorda que andava com uns vestidos imensos e sempre com um lenço no cabelo. Parecia uma baiana. A morte dela foi bonita: deitou-se no sofá para descansar e não levantou mais. O filho foi acordá-la e ela tinha morrido. “Morreu como um passarinho”, dizem. Acho difícil: nunca houve um passarinho com todo aquele peso.
Em tempos de Beavis and Butthead, Os Simpsons, South Park e Jackass, a menção ao hábito de coçar a bunda e cutucar o nariz é, convenhamos, apenas um clichê. Não acredito que, diante do que se vê na televisão e se ouve no rádio (nem falarei da internet…), alguém fique escandalizado com observações tão prosaicas.
Felicito-me, no entanto, que algum escritor tenha o realismo de reconhecer sua atividade não tem nenhum glamour. Quando alguém insiste na idéia de que o escritor precisa “viver” para saber escrever, ele não está senão propagando o mito, que muitos autores nutrem por vaidade ou presunção, de que, por trás de um romance bem concebido, há voz de um sábio que se situa em patamar superior ao ordinário dos homens. Quem escreve bem tem apenas a habilidade de escrever bem – nada mais.
Sim, é verdade que há um seleto grupo de escritores em cujos livros transpira uma sapiência quase que sobre-humana (Shakespeare, Cervantes, Goethe, Tosltói, Dante Alighieri, para ficar nos exemplos mais óbvios). A grande generalidade dos autores, entretanto, é formada por indivíduos comuns que desenvolveram um talento específico – o de escrever.
Por isso, é um tolice imensa acreditar que o escritor seja alguém habilitado a discorrer sobre todos os assuntos mundanos e metafísicos.
Martin Amis não é, justamente, o escritor que está recebendo um bombardeio de críticas lá fora, porque se tornou obsedado pela “malevolência” dos árabes e de sua cultura/religião? Parece que sua qualidade literária caiu um pouco… Só li dele o “Trem noturno” e adorei. Um romance policial diferente.
eu.
Seta do Tempo é sensacional, talvez o melhor Amis que li. Também gosto demais de A Informação. Ok que eu cortaria algumas partes – as que aparece um grupo de vagabundos, meio nada a ver com o resto. Se tivesse sido melhor copidescado, seria uma obra para se lembrar no futuro. Trem Noturno é irregular, tem partes boas e outras bem fraquinhas. Não li Grana e Campos de Londres. Folheei Grana num sebo outro dia, aliás, e não me interessou tanto.
Quanto ao Amis professor, acho que ele está querendo seguir os passos do Saul Bellow, seu grande ídolo e que também era professor.
Quem mora em cidades realmente frias, como Porto Alegre no inverno, escreve sim de pantufas.
Ou fica com os pés frios. Mas aí pode ser confundido com um cadáver e levado para o IML. Isto só se tiver sono muito pesado. Se não tiver, acorda.
Mas escrever dormindo também é difícil.
Professor Amis
Bem, é um tipo de trabalho sedentário e introspectivo que se faz de pantufas, enfiando o dedo no nariz e coçando a bunda, você sozinho em seu escritório, e não há a menor possibilidade de ser de outra forma. Assim, qualquer um que entre nessa de olho em ganhos materiais e agitação mundana, eu não acredito que chegue muito longe.
Surpresa: Martin Amis, 57 anos, um dos romancistas vivos mais importantes da Inglaterra – e provavelmente, com sua máscara midiática enfezada, o mais famoso – está sendo anunciado hoje pela Universidade de Manchester como seu novo professor de “escrita criativa”. Deve haver muito estudante apavorado, mas em entrevista ao “Guardian” (acesso livre, em inglês, aqui), Amis trata de tranqüilizá-los:
Posso ser ácido no forma de escrever, mas não na forma como vivo. Seria muito difícil para mim dizer coisas cruéis a pessoas numa posição tão vulnerável. Imagino que eu vá ser surpreendentemente doce e gentil com eles. Uma das coisas que aprendi sobre ficção é que você realmente se expõe de uma forma que nenhum outro artista dito criativo faz. Na maioria das outras artes você está só exibindo um talento específico, de certa forma até na poesia, mas ao escrever ficção você desnuda não apenas seu talento, mas todo o seu ser, seu ser social, sexual e psicológico, e nada pode deixá-lo mais vulnerável do que isso. Estou bem ciente desse fato e vou levá-lo em consideração.
Tudo bem, mas fiquei curioso: será que alguém aqui escreve de pantufas?!
Boa levantada de bola, Sérgio.
Não duvido que alguém escreva de pantufas. O Sérgio Augusto fala um pouco sobre isso em um ensaio publicado no livro “As penas do ofício”. Quem tiver curiosidade em ler, é só me pedir o link via email. Abraços!
Certo, não saiu meu email. Me encontrem no meu blog, então – e perdão ao Sérgio pela propaganda escancarada. É com boa intenção.
Rafael,
Concordo que nenhum escritor (com raras exceções) seja a representação da sapiência, um oráculo de conhecimento, mas daí dizer que a única coisa que um escritor tem é a habilidade de escrever bem é demais. Catedráticos da língua portuguesa escrevem bem, não escrevem? Professores de português, por conseguinte, também, não é? Podemos então, dessa forma, considerá-los escritores, certo?
Não há nada que faça de alguém que conheça a língua e escreva bem, um escritor. Ser escritor supera o “escrever bem”, e nisso nosso caro Sérgio também vai concordar. Para ser escritor não é necessário ser um sábio, mas possuir uma especial sensibilidade para o mundo, criatividade, imaginação e doação. Porque escrever é se doar.
Nada glamouroso, tá certo, mas também nada tão reles quanto fez parecer seu comentário.
Ah, escrever não é talento, é dom. Escritores de talento são os medíocres. Os bons escritores, estes são dotados.
Meu comentário foi pro Rafael, mas não sei dizer qual deles, o com Rodrigues ou o sem.
Dotados e esforçados, pois acima de tudo é necessário muito esforço. Essas coisas são repetidas (insistentemente) por escritores. Guimarães Rosa, por exemplo, disserta brilhantemente sobre o tema em Tutaméia. Tem sim, alguma coisa de inexplicável (mediúnico?). Mas, acima de tudo, é necessário esforço, muito esforço. Sabe aquela história dos 99% de transpiração (1% de inspiração)? É por aí…
Ok, esforço também. E muito.
Tibor,
Dou a mão à palmatória: a habilidade escrever bem não exaure o talento de um bom escritor, pois ele há de ter também imaginação fértil e uma certa sensibilidade. Confesso que apelei ao exageiro para reforçar o argumento, uma técnica de retórica que é muito eficaz em determinadas circunstâncias.
Só não concordo com a assertiva de que catedráticos e professores de português escrevam necessariamente bem. A não ser, é claro, se bem escrita você considere a composição que siga rigorosamente as regras da gramática normativa…
Como diria o Chaves, Isso, isso, isso.
Considero a composição que siga rigorosamente as regras da gramática normativa, o que concede a eles o específico “dom” de escrever uma carta ao síndico do prédio, ou ao pai de um aluno sem incorreções.
O que, de maneira bem rasteira, é “escrever bem”.
Ou escrever direito… depende como você prefere entender.
e a escrita “criativa” (que, me parece, será a cadeira do Amis)?
Tibor, foi pro sem.
Nossa, meus pêsames aos pais desses infelizes alunos… Algo ingênuo na alma deles irá morrer…
Já estava mesmo na hora de alguém revelar isso… rsrsrs
Esse negocio de professor de “escrita criativa” é mais uma forma das universidades “tentarem” romper com sua pesada tradicao de torre de marfim. Uma tentativa de colocar verniz sobre uma arte absolutamente fora de quaisquer tipos de controle ou de “caixa de disciplina / cátedra”. O gato (`mestre`) nao ensina seu pulo principal.
Murilo Mendes ensinou cultura Brasileira na Italia, Joao G. Noll, ensinou literatura nos USA. Mas nunca vi, algum escritor dizer: “fui aluno dele em 19… “
Quando fiz Publicidade e Propaganda havia uma matéria que era de criação, com enfoque maior para redação criativa (o professor dizia-se redator). O que ela pretendia? Tornar cada aluno um redator competente. Mas era impossível conciliar alunos absolutamente sem tendência pra coisa com a matéria propriamente dita. Assim, o que existia era um sem número de trabalhos horríveis. Ensinar a escrever é até possível. Dá pra aprender técnicas. Dá pra se aprimorar na linguagem, adquirir um vocabulário mais extenso… Mas aprender a escrever, ser um escritor (seja lá qual especialidade), nada tem a ver com isso. Duvido que haja um bom autor hoje em dia que diga: aprendi a escrever com sicrano ou beltrano. No mais, aprendeu técnicas, e olhe lá.
De pantufas, talvez não; mas de polainas, talvez sim.
“Escrita criativa” – uma tradução mais ou menos de “creative writing” do inglês – é a denominação dada, nos países anglo-saxões, aos cursos de escrita que não são apenas as antigas redação e retórica (que continuam existindo e vão bem de saúde…). Corresponde ao que existe por aqui, com o nome de “ateliê literário”, se não me engano, e costuma ajudar na cesta básica de alguns escritores. Autores mais ou menos consagrados fazem “critique” e dão conselhos a jovens inflorescentes. É um tratamento da criação literária próximo ao que se dá no ensino de outras artes.
isso sem contar os recentes cursos de graduação que objetivam formar “escritores”.
Meus sais, onde estão os meus sais…
Corresponde a pijama, creio. 🙂
Sei que já existem 2: um aqui do Rio (PUC) e outro no RS (Unisinos).
O problema das pantufas é que elas são muito quentes. Do equador para baixo isso se torna sinal de má higiene. Eu, por exemplo, escrevo com um ventilador apontado ao monitor do PC para não esquentar mais ainda este verão burlesco.
Quem inventou o monitor de tela plana morava no Suécia. Só pode ser.
quem aqui (como eu) ainda escreve (os originais) no papel?
Mudando de alhos para bugalhos, alguém poderia me explicar o que significa “ludopédio”, palavra utilizada pelo Sérgio no Post sobre Carnaval, primeiro parágrafo, quarta linha?
E são CARÍSSIMOS esses cursos de escritor. Hihihihi.
Ludopédio é sinônimo erudito de futebol. A palavra foi criada por um latinista do início do século XX (fugiu-me agora o seu nome) que se opunha à disseminação do vocábulo football, um anglicanismo que tomava conta dos aficionados pelo esporte bretão que então estava se popularizando (demoraria algumas décadas para o aparecimento da forma aportuguesada: futebol).
O indivíduo acima foi uma espécie de proto-Aldo Rebelo, arquiinimigo dos estrangeirismos, a ameaça mais terrível que há contra a pureza da inculta e bela.
Muito obrigado, Rafael. E por quê não consta de nenhum dicionário?
Boa pergunta. Acredito que nenhum dicionário o registre porque esse substantivo nunca se popularizou, criação artificial que era. Alguns ainda hoje o utilizam, normalmente com intenção irônica. O único que parece tê-lo integrado ao vocabulário corrente é colunista Daniel Piza do Estadão, que sempre que escreve sobre futebol encabeça seu comentário com o subtítulo: ludopédio.
Infelizmente, as pessoas mais indicadas para solucionar sua dúvida, Aurélio Buarque de Hollanda e Antônio Houaiss, já não estão mais conosco. “Terra sit eis levis”.
Obrigado mais uma vez. Vivendo e aprendendo.
Mais um detalhe: ludopédio é formado pela reunião dos substantivos latinos ludus (genitivo: ludi), que significa jogo, esporte, brincadeira e pes (genitivo: pedis), que significa pé. Etimologicamente, ludopédio significa “jogo com os pés”.
Pronto, lá vem com humilhação.
Rsrsrsrsrs
Desculpem, Tibor e Rafael, mas o Houaiss registra ludopédio, sim.
O latinista a que o Rafael se refere é Castro Lopes. Emplacou uma ou outra palavra, como “cardápio”. A maioria foi para o lixo da história.
Também já se propôs substituir “football” por balípodo.
Abraços.
Blz, esse blog é melhor do que os cursos para escritores! E bem mais barato!! 🙂
Videoconferência Brasil-Portugal Língua Portuguesa: Globalização, estrangeirismos: purismo ou acolhimento
“O que se critica, desde essa época, é a presença excessiva e redundante de termos estrangeiros. Isto é que efetivamente provocava e provoca preocupações e tentativas de correção de rumos. Nascidas de quem? Obviamente, de especialistas e de escritores, sobretudo em tempos de afirmação de nacionalidade e de sedimentação do idioma, sobretudo num tempo em que o nacionalismo ainda era uma virtude. E alguns desses senhores eram puristas tão ciosos, que chegavam a propor ações singulares para substituir o termo estrangeiro como “anidropodoteca”, de saudosa memória “anidro”, sem agua; “anidropodo”, sem água nos pés, “anidropodoteca” e chegaram a propor, para substituir a francesa galocha, o ludopédio, ou balípodo. Houve quem propusesse ludopédio, mas outros puristas disseram: não, ludopédio, ludos, isso é coisa latina; ludos, jogo; pés, pede; não, ludopédio não, é melhor não. É melhor usar balípodo, é mais grego, mais castiço.
http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=artigos/docs/globalizacaoeestrangeirismo
Sérgio,
O “Time’s arrow”, foi publicado no Brasil como A seta do tempo. Li e realmente é muito bom. Começa com um cara na leito de hospital e vai regredindo no seu passado até chegar a Auschwitz. Fala de nazismo, da perseguição aos judeus, etc. Uma história densa e o resultado é muito bom mesmo.
Amis deve gostar desse romance porque deve ter sido muito difícil escrevê-lo, do ponto de visto de técnica romanesca certametne foi um “tour de force” para ele.
Já vi essa afirmação dele em outras entrevista, de que realmente o Times arrow é o seu preferido.
Agora, quanto a escrever de pantufas e metendo o dedo no nariz, certametne que isso é só figurado… ele referiu-se ao fato de que escreve em casa, na intimidade de seu lar, portanto, deve colocar-se à vontade para isso. Ou o cara teria de pôr gravata e paletó em casa?
Ludopédio e balípodo por galocha? É novidade pra mim. Não parece ter nada a ver, etimologicamente, mas não vou dizer que nunca se propôs isso. Tem maluco para tudo.
Hahahahahahaha…
Pra todos vocês, um ótimo carnaval e até quarta-feira que vem. Sou filho de Deus e, nestas épocas, faço retiro espiritual.
Cezar, ao contrário. Outro dia li uma entrevista do Amis em que ele dizia que o Time’s Arrow foi um dos livros mais fáceis de escrever.
Bom Carnaval, Tibor!
Cézar Santos, caro amigo comentarista,
Você podeira colocar os dados referentes ao livro “A Seta do Tempo”? Ou a editora se possível, pois no seu comentário deu entender que faz um tempo que você o leu, ao que tudo indica deve ser difícil achá-lo. Desde já agradeço.
A Seta do Tempo saiu pela Rocco. É bem fácil de encontrar nos sebos de São Paulo.
Valeu Jonas,
Obrigado pela resposta…
Este [Antonio de] Castro Lopes, inventor da palavra “ludopédio”, não era apenas latinista. Foi um dos introdutores da homeopatia no Brasil e teve importante atuação politica no período imperial. Chegou a Ministro da Fazenda [era médico como o Joaquim Murtinho e o Antônio Pallocci] e de Relações Exteriores. Foi também banqueiro e introduziu o uso de notas promissórias no Brasil. Escreveu vários livros importantes, como “Dissertação Acerca da Utilidade da Dor” e “Memória Sobre a Possibilidade e Conveniência de Supressão dos Anos Bissextos”. Muito patriota [como o Aldo Rabelo] escreveu um livro inteiro, de mais de 200 páginas, dedicado a novas palavras que deveriam ser criadas para substituir os estrangeirismos. Chama-se “Neologismos Indispensáveis e Barbarismos Dispensáveis”, de que possuo a segunda edição, de 1909, da Francisco Alves.
Mr. Ghost(WRITER),
Amigo, só vi sua mensagem hoje. O Jonas já respondeu à sua indagação… realmente “A seta do tempo” é da Rocco e foi lançado em 1996, em tradução do Roberto Grey.
E ao amigo Jonas, que coisa, não?
O Amis achar que foi muito fácil escrever o livro… coisas da genialidade, certamente. De qualquer forma, se foi fácil, deve ter sido por causa da longa maturação que a história ganhou na sua mente ao longo de anos… Já li sobre muitos escritores dizerem isso, que uma história fica depurando tanto tempo na cabeça que quando se vai escrevê-la ela sai com muita facilidade.
Saint-Clair, você vive em um lugar apropriado para “observar”, enh?! Caramba, que fauna por aí!
:o)
Voltando ao autor: li e aprecie o london fields, sardônico e dinâmico.