Não é novidade: fazer e escrever livro no Brasil é um péssimo negócio. Autores, editores e livreiros vivem de um mercado sem lógica. Para cada sucesso há incontáveis fracassos. Incontáveis e injustificáveis. Livros muito bons, com ótimo apelo comercial e qualidade literária passam nas mais brancas nuvens e dois anos depois do lançamento são vendidos a quilo ao papeleiro, porque nem as lojas americanas nem as superbancas de jornal se interessaram em adquirir aquele título para revender a 9,90.
Então eu queria entender melhor por que tantos autores-blogueiros, por exemplo, gostariam tanto de ter os seus livros publicados por uma editora grande. Em que isso contribui, exatamente? Eu não consigo achar que ter o seu livro exposto numa boa livraria por alguns dias (porque as livrarias são pouco mais do que hotéis onde os livros dormem um dia ou dois) faça muito mais pelo seu sucesso literário do que divulgá-lo na internet, por exemplo. O que se quer? Ser lido ou fazer da literatura o seu ganha-pão?
Hmm, e se a resposta for “nem uma coisa nem outra, mas ser carimbado oficialmente como escritor num mercado em que a informalidade costuma se confundir com a irrelevância” – não ficaria mais claro esse quadro?
São boas as ponderações de Anna V. em seu blog Terapia Zero (dica do Bom dia, França) acerca do debate eterno – e, nos últimos meses, mais aceso do que nunca – sobre a dificuldade que autores novos encontram para publicar seus escritos por editoras tradicionais.
Para tornar a pintura mais completa, acho que ficaram faltando umas poucas pinceladas:
1. Nunca foi diferente. A novidade de nosso tempo é propiciar à famosa figura do “autor inédito desprezado pela alta burguesia editorial insensível e covarde” dois trunfos até pouco tempo atrás impensáveis: um palanque muito melhor do que o velho botequim para se queixar da sorte, chamado blog; e a possibilidade de atingir um público expressivo em sua própria e baratíssima plataforma pessoal de publicação, chamada – outra vez, veja só – blog.
2. A situação não é muito diferente em países de cultura literária e mercado editorial quinhentas vezes mais maduros. Vale a pena dar uma olhada no quebra-pau que rolou há poucos dias no blog de livros do “Guardian” – aqui, em inglês. As semelhanças entre a insatisfação britânica e a nossa são maiores do que as diferenças.
3. E por último: sem base em pesquisa nenhuma, assim no olhômetro, parece evidente que nunca na história deste país os autores novos tiveram tanta facilidade de se lançar por casas editoriais mais ou menos tradicionais quanto nos últimos cinco anos. Agora que a febre dessa gincana maluca – quem vai achar o próximo gênio? – parece estar passando, os comentários de Anna V. se provam ainda mais oportunos.
58 Comentários
Acho que os autores que querem um espaco em uma das grandes editoras querem algos meio abstrato como uma miscelanea: a) a grife da editora leva a maior probabilidade de venda; b) dará maior probabilidade de divulgação; c) eventualmente possibilitará respeitabilidade ao agregar o nome “tradicional”, o status do establishment ao do neófito. Assim penso.
Concordo com o João, principalmente com o argumento “c)”. Pelo menos com livros estrangeiros, dou preferencia a editoras mais tradicionais, pois a tradução geralmente é de melhor qualidade…
@Sergio: Se não for abusar de boa vontade, gostaria que você desse uma olhada em um conto de um amigo meu. caso eu possa enviar-lhe, me avise 😉
(Meu e-mai lesta no comentário…)
[]’s
Alguém tem de dizer a esta Anna V. que “fazer e escrever” um livro não é um péssimo negócio, simplesmente NÃO é um negócio “tout court”. Será que ela entenderá isso algum dia?
Bem, Sérgio, já que você botou o dedo na ferida eu gostaria agora que você desse um passo além. Apontar que o Rei está nu é mole, difícil é arranjar roupa pra ele. Já que você é um “jornalista literário” e, também, escritor, o que você sugere que nós, autores jovens, façamos? Porque me pareceu (pode ser que eu esteja lendo errado, nunca se sabe) que você está dizendo que nós somos uns choramingas ingratos. Se, como insinua a “brilhante” Anna V., querer ser escritor por estas bandas não tá com nada (e você vai atrás, insinuando que a questão é de vaidade, vã vaidade), o que podemos fazer? Virar traficantes? Participantes do BBB? Mães de filhos bastardos de Senadores da República? Posar pra Playboy ou pra G Magazine? Inventar algo escabroso no nosso passado e tentar ser entrevistados no programa da Marcia Goldsmith ou da Sônia Abrão? Virar críticos literários, despejando todo nosso fel e toda nossa frustração em jovens autores que ousam escrever e tentar ser publicados?
Acho que é mole pra você, com vários livros editados, atarrachar um ar blasé e dizer que a maioria dos novos autores são “irrelevantes”. Será que você não ficou ansioso pela publicação do seu primeiro livro, não, hein? Será que você nunca reclamou das editoras? (Se você me disser que os editores são pessoas maravilhosas, que só querem o bem dos seus contratados, eu vou te acusar de ingênuo).
Gostaria que a Anna V. também pudesse apresentar sugestões. Já que no Brasil escrever não leva nem A) ao sucesso financeiro, nem B) a se conseguir um razoável grupo de leitores, o que – em nome de Jeová – nós vamos fazer?
Cortar os pulsos?
Acabei de lançar meu livro EMBRULHOS (Sergio! Desculpe o merchandising!) e querem saber? Nem passou por minha cabeça mandar os originais para uma grande editora… Preferi lançar-me à edição de Autor e querem saber? Não estou nem um pouco arrependido. Do ponto de vista de leituras estou tendo ótimos retornos de leitores espalhados por vários estados e do ponto de vista econômico já paguei a gráfica com apenas 30% dos livros impressos. MEsmo que virasse um razoável sucesso de vendas receberia de direitos autorais o que receberei vendendo os livros restantes.
Enquanto canais de vendas como o MERCADO LIVRE me cobram de 5 a 6% de comissão, as livrarias me cobram entre 30 e 40%… Penso que o caminho é mesmo a auto-publicação como vem acontecendo com o mercado fonográfico, afinal, é bem mais recompensador comprar um CD do “Fogo do Cordel encantado” depois de uma apresentação do que em uma loja!
Para finalizar: Se os autores independentes não descobrirem atalhos até os nossos parcos leitores não será o mercado editorial que o fará.
Abraços!
Mozzambani
http://www.embrulhos.blogspot.com
Caros internautas, e blogueiros contumazes,
Por que vocês não fazem exatamente como o Mozzambani ou mesmo o Carlos Drummond, ou mesmo o Manuel Bandeira e tantos outros, como o Monteiro Laboato , que resolveu por todos inventar a sua própria editora?!
Publique seu livro. Divulgue seu livro! Distribua…
Chorar não adianta. E, reiteirando a Anna Z, nunca se publicou tanto nesse país autores jovens. E talvez a Anna tenha esquecido de dizer que nunca foi tão barato publicar um livro por aqui. Até as gráficas estão mais “em conta”. O break-even point diminui. Se paga uma edição com menos livros vendidos.
O problema é: quem lerá? Cony argumentou recentemente – ao contrário do que mostram as pesquisas – que nunca se leu tanto no pais> As pessoas lêem blogues, emails, e outras traquitanas. Se isso vale de consolo, parece que o mestre está correto.
Acho que o Bemveja poderia abrir, por exemplo uma editora: a Bemleia publicaciones e editar todos os amigos blogueiros, e fazer uma espécie de corrente: leia o meu livro e você terá mais 10 livros de blogueiros inciantes para ler nos próximos 10 dias! Esqueça Proust e toda a grande literatura que não deu tempo ainda para armazenas em seu chip e abasteça sua vida de nossas pérolas juvenis.
Ora, francamente!
Saint-Clair, como o problema mexe com áreas sensíveis de auto-estima e tal, vou dar um desconto. Mas que é preocupante o modo como você leu errado tanto a Anna quanto a mim, é.
O que ela diz me parece, basicamente, o seguinte: dêem menos importância ao mercado editorial tradicional, considerem com carinho outras formas de publicação e divulgação que estão se abrindo. Belo conselho. Se para chegar a isso ela foi obrigada a dizer que não existe bicho-papão, que o rolo é bem maior do que parece à primeira vista, bom – você devia ficar agradecido. Faz parte do crescimento.
A isso eu achei conveniente acrescentar: sim, mas a chancela simbólica ‘oficial’ dada por uma grande editora ainda tem uma importância nada desprezível nesse mercado. É inegável que tem.
De observações assim você parte para chegar, sem transição, a uma explosão raivosa. O que eu sugiro, você pergunta? Escrever, claro, e tentar ser lido, Saint-Clair; escrever e tentar ser lido. Fora isso – muito importante – evitar de todas as formas a armadilha do ressentimento, da vitimização, que está sempre à espreita no caminho de qualquer escritor. Publicado ou não.
Sérgio, lamento mas a tentativa de “touché” não funcionou: se o problema mexe com áreas sensíveis da auto-estima, não são com as minhas que ele mexe. Não tenho do que reclamar, pessoalmente: nunca mandei livro meu pra editora nenhuma, grande ou pequena, nem pretendo mandar por enquanto.
Não acho que minha leitura do que Anna V. e você escreveram, por ter privilegiado um outro aspecto (mas que está também presente no que vocês disseram), seja “preocupante”. Preocupante seria se eu, como a maioria dos leitores do TodoProsa, batesse cabeça a seus pés achando que você tem razão em 100% das vezes. Afinal, o que você quer: uma claque ou interlocutores?
Se eu quisesse claque, meu caro, estaria empenhado em fazer média com os leitores, aceitando convites para jantar, formar comunidades, dizendo “você andou sumido!” e rapapés do gênero. Como nunca fiz nada disso, achei que estivesse claro: me contento com leituras que sejam feitas de boa fé e que tenham um mínimo de pé e cabeça. Dizer que, para mim, “ser escritor não tá com nada” (eu que não faço outra coisa na vida) é mais do que preocupante. É desanimador.
A publicação do livro de papel é o sonho de todo autor por uma questão prosaica: vaidade. O orgulho de ver materializada em livro a idéia é o sonho de todo escritor, e não, necessariamente, ser muito ou pouco lido, que é uma vaidade acessória e secundária. Uma estante com Dostoiévski, Camões, Shakespeare e EU – eis o sonho inconfesso das pessoas com veleidades intelectuais.
Transformar esse sonho em realidade nunca foi mole pra escritor iniciante algum. Manuel Bandeira, João Cabral, Drummond e tantos outros custearam do próprio bolso os primeiros (e às vezes os segundos, os terceiros…) livros. A outros grandes, como Kafka, nem chegaram a tanto. Se para os grandes publicar é preciso e não é mole, imagine pros outros mortais, menores e mais vaidosos…
Não, Sérgio, eu jamais conseguiria imaginar você aceitando convites pra se encontrar com seus admiradores, participando de uma comunidade que foi criada para o TodoProsa no Orkut, nada disso. Jamais! Não me parece que seja esse o seu perfil.
O ponto número 3 diz tudo: reclamar? Gente como André Sant’Anna, Mirisola, monsieur Freire, entre outras sumidades, sendo publicada por grandes editoras e ainda temos que aguentar os outros candidatos ressentidos demonizando editores? Vá lá, talvez seja uma forma de justiça que mesmo gente sem talento esteja em boas condições no mercado. Mas não dá para todas as pobres vítimas ganharem chance. Sorry.
sobre esse tema, contribui algumas vezes aqui no TP. Editoras são importantes, mas qnd agregam valor. escrever é apenas 1 dos “12 trabalhos de Hercules”, publicar é outro, assim como distribuir, divulgar, e por aí vai. segue a minha modesta contribuição à presente discussão:
1. (publicado ou não) não basta ser escritor, tem que ser empreendedor.
2. se não te publicam, se publique (internet está aí para isso); se preferir papel (existem alternativas em conta) escolha canais alternativos de distribuição.
3. não largue o seu emprego (por enquanto, tlvz nunca seja a melhor escolha)
4. divulgue na internet (comunidades, blogs, mailing lists, etc.); escolha com atenção seu público alvo (definitivamente, este não será composto por outros escritores).
5. crie um plano, estabeleça metas.
6. acorde cedo e escreva (independente da inspiração). trabalhe 8-17; depois, se levante de sua cadeira e vá a luta: palestras, eventos, bate papos na saraiva, etc.
7. contribua (gratuitamente) com outros sites, blogs, revistas, jornais, etc.
8. leia sempre o TP (mas não deixe de acompanhar das novidades do pontoLit) 🙂
Puxa saco…
No programa do Amaury Jr. Vi a vocalista da banda Pato Fu dizendo que tem um projeto de “disco virtual” em que o consumidor paga (avulso) por música baixada, caso queira parceladamente. Estao tentando diminuir perdas com a famigerada pirataria. Vou ver se consigo algo similar com os meus textos. Por enquanto tenho 2 blogs e as visitas de um, do genero lírico, passa de 600 visitas em um ano. Em abril lancei um livro de poemas em papel, impresso. E nao vendi mais do que uma dúzia! (putz! @#*¨!).
O diacho é converter ester leitores do blog em leitores do papel!
Nao sei se isso é algo direto ou apenas sonho de uma noite de verao tropical…
Ainda nao consegui, mas sonho com isto…
Tem também a questao do custo —na Web é grátis —mas o papel tem custo. Pretendo ainda fazer experimentos com lancamento por uma editora virtual.
o inquisidor: vc tá de mau humor. relevarei. agora, não confunda camaradagem com puxa-saquismo. tenha certeza: não preciso disso. abs.
Gostei muito das considerações da Anna V. Texto informativo, bom de ler. Só incomodou a sensação de impotência – mais uma vez – diante da aparentemente inexorável situação do livro e da leitura neste País.
São de partir o coração os comentários:
“Um autor brasileiro desconhecido que tem um livro lançado por uma grande editora não vende. As pessoas não compram, ora. Sei lá por quê, com certeza há vários motivos na psique do consumidor brasileiro de livros (essa figura misteriosa). Mas já vi investimentos razoáveis em marketing, anúncios, até resenhas boas, nada disso faz as vendas decolarem. Nada. E acredite, todos se frustram. A editora, o autor, o livreiro, todo mundo.”
“Seria bacana se as pessoas pudesse visitar os depósitos das editoras. É tanto livro bom, bonito, e legal, e nenhum pedido para nenhum deles…”
No entanto, antes de desfalecer de tanta tristeza, gostaria de colocar na roda um aspecto do problema que não costuma aparecer por aqui – a responsabilidade do poder público com a produção e o consumo da literatura nacional.
Em países como o Japão e a Coréia (são os únicos de que tenho dados concretos), algo entre 20% e 30% da produção editorial é vendida a bibliotecas públicas, escolares e acadêmicas.
Se o governo, que já é (de longe, muito longe) o maior comprador de livros do País (o orçamento de 2007 para gastos com os três programas de livros didáticos mantidos pelo governo federal foi de R$ 850 milhões), adquirisse para bibliotecas públicas significativa parcela das tiragens nacionais, não haveria tanto encalhe dos depósitos das editoras, nas prateleiras da livrarias ou nas gavetas dos escritores.
Há uma lei federal, a nº 10.753, de 2003, conhecida como Lei do Livro, que determina caber ao Poder Executivo “implementar programas anuais para manutenção e atualização do acervo de bibliotecas públicas, universitárias e escolares, incluídas obras em Sistema Braille” (art. 7º). A mesma lei estabelece que “a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios consignarão, em seus respectivos orçamentos, verbas às bibliotecas para sua manutenção e aquisição de livros” (art. 16) e fixa, ainda, que “a inserção de rubrica orçamentária pelo Poder Executivo para financiamento da modernização e expansão do sistema bibliotecário e de programas de incentivo à leitura será feita por meio do Fundo Nacional de Cultura” (art.17).
Já existe, portanto, previsão legal e dotação orçamentária para a criação de mais bibliotecas e a atualização dos acervos das já existentes. São mais de cinco mil municípios brasileiros. Imaginem se cada município tiver uma biblioteca, assim como cada escola pública de educação básica e superior. Façam a conta. A efetivação da medida – já prevista pela lei – pode representar uma bela maneira de aquecer o nosso mercado editorial e dar visibilidade à produção literária brasileira, além de formar novos leitores e possíveis consumidores de livros.
Para quem não sabe, o art. 215 da Constituição Federal determina que “o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”. Pronto. É dever constitucional do Poder Público dar um jeito de mudar o quadro triste que a Anna V. e tantos outros denunciam. Cabe ao Estado atuar de modo a garantir condições de publicação para quem escreve, circulação dos textos publicados e meios de acesso a esses livros para quem desejar lê-los. E cabe a nós cobrar.
Desculpe a extensão do comentário, Sérgio!
Publicar está se tornando verbo reflexivo porque escrever há um bom tempo é verbo intransitivo no Brasil. Empresário nenhum e Governo algum vão resolver isso. Governo, melhor dizendo, Governos, vários, talvez – se isso fosse preocupação nacional, o que está longe, muito longe de ser – poderia talvez diminuir isso investindo pesado em educação, o que, talvez, viesse a dar resultados daqui muitos anos. Mesmo assim não tanto porque no mundo inteiro ler (especialmente literatura) não tende a ser algo atual no futuro.
O desejo de ser lido não é nada além de uma vaidade.
“Ah, mas como vou ganhar dinheiro?” Sendo caixa de supermercado, limpador de vidraças, motorista de táxi.
Escrever não tem nada a ver com grana. Escrever não é profissão, escrever é religião.
Porra! só têm gringos por aquí!!!!!!!!!!!
Caro sérgio,
Depois de tantas reflexões (algumas nem tanto assim, é verdade!) sobre assunto, que tal uma pequena mudança no título de seu texto?:
Refletir, verbo publicável?
“Nataniel, escritor fracassado, decide suicidar-se. Carrega o revólver, coloca-o a seu lado, na escrivaninha, e põe-se a redigir a carta de despedida. A carta se alarga, se ilumina, respira, vive. É a obra, a ansiada obra!
Para poder publicá-la, Nataniel não se suicida.
Trata-se, agora, de encontrar editor. É quando Nataniel descobre que não devia ter desistido do suicídio.”
Glauco Mattoso
Sérgio, obrigada pelo link, e por alimentar este debate no seu site. A matéria do Guardian é ótima, me identifiquei bastante com o teor do que é dito lá. O objetivo do meu post foi dar um depoimento de quem trabalhou anos e anos em editora. Não tenho a pretensão de apontar soluções ou mesmo dar conselhos aos escritores. No máximo, alertar para o fato de que conseguir ser publicado por uma grande casa não resolve os problemas do autor em busca de leitores (ou reconhecimento/ fama, o que for). Na maioria das vezes, pelos problemas de auto-estima que você bem apontou, é preferível culpar a editora (que não divulgou, não distribuiu, fez uma capa feia, etc.) do que admitir que ninguém se interessou em comprar o seu livro.
Um abraço.
Perguntaram uma vez ao Tom Wolfe por que ele escrevia e ele respondeu: fama, dinheiro e belas amantes (as famosas três motivações do artista segundo Freud). O problema do Brasil é o excesso de diletantismo, as pessoas escrevem sem muitas expectativas claras e se decepcionam quando o resultado é a indiferença, o silêncio, os encalhes etc.
Isso ocorre porque o gargalo no mercado literário é muito estreito: competir pela clientela (ou seja, consumidores) e pela atenção de longo prazo das pessoas (ou seja, leitores) é uma tarefa complexa.
Há dois fatores que ampliam essa dificuldade: primeiro, a superabundância de material p/ leitura disponível dispersa a atenção do leitor. Há muita literatura à disposição hoje em dia, e dois gêneros recentes, auto-ajuda e administração, tomaram o espaço anteriormente ocupado por romances etc na vida daquelas pessoas que destinam apenas intervalos breves de seu tempo p/ leitura. Fora as telenovelas, internet, filmes etc.
Além disso, a qualidade do cânone literário já existente não encoraja, entre leitores mais consistentes, a busca por novidades.
Acho que 90% dos escritores publicados no Brasil têm e terão um day job, e com razão; em última instância, o livro é um objeto de consumo sujeito às leis da oferta e demanda, e não há demanda expressiva pela literatura brasileira atual. As massas não comeram o biscoito fino que você fabrica a menos que identifiquem nele uma novidade.
Finalmente, caberia observar que as editoras brasileiras estão lucrando e muito ultimamente, o mercado se ampliou bastante, embora não em decorrência da venda de ficção brasileira.
não *comerão*
Ana Z.,
Nos tempos em que não tinha dinheiro para comprar livros, eu costumava a freqüentar bibliotecas públicas. Sabe qual a recordação mais viva que guardo dessas instituições? Um silêncio quase sepulcral e o vazio de pessoas. Só havia movimento, quando um grupo de estudantes, sempre ruidosos, chegava para fazer um trabalho escolar. Eram garotos e garotas desambientados, que não se concentravam nos livros, davam risadas, um provocava o outro. Via-se claramente que nenhum deles estava no local por livre e espontânea vontade. Havia, é verdade, aqueles que mergulhavam profundamente na leitura, como eu; eram, todavia, exceção.
Por mais que se editem leis e por mais que o Governo compra livros e livros, a leitura não aumentará no País. Os principais beneficiados serão algumas editoras, que ganharão o dinheiro fácil que o Estado costuma a proporcionar para certos grupos privados.
Enquanto não houver demanda por livros, estes continuarão encalhados nos depósitos. Para que haja demanda, o nível educacional precisa crescer; para que haja demanda, o conhecimento e a cultura deverão se tornar bens desejáveis; para que haja demanda, o reconhecimento social deve recair sobre aquele que cresce na vida graças à aplicação e ao estudo.
Eis nossa tragédia: o nível educacional está cada vez pior; cultura e conhecimento são desprezados, tidos como ornamentos inúteis e pedantes; o reconhecimento social recai sobre aqueles que sabem balançar as pernas diante de uma bola e sobre aqueles que são espertos o bastante para ludibriar os demais.
Leis e dinheiro do Governo, repito, não mudarão o quadro.
“Não é novidade: fazer e escrever livro no Brasil é um péssimo negócio.”
Deixe ver se entendi, a Anna está reclamando?
Ninguém, ninguém é obrigado a escrever. Ninguém pediu/mandou que alguém escrevesse..E tem mais, o livro que o fulano tem em mente, se não for escrito, não fará falta a ninguém, mesmo porque existem livros demais no mundo.
Portanto, quem quer escrever que escreva, mas não vale ficar choramingando, relcamando que não tem mercado, que não tem leitores, etc.
Escrever chega a ser uma maldição, portanto, quem quiser que assuma essa maldição.
Se o carinha achar que ser publicado por uma grande editora é fundamental, que vá à luta; mande seus originais pro editorzão, faça jogo de influência, etc.
Editora tem direito de publicar quem for interesse dela, já que é o dinheiro dela que está em jogo. Tem direito até de pôr o preço do livro lá em cima, como a Cia das Letras e a Cosac fazem, com suas edições luxuosas e caras…
O escritor que achar que o mundo não pode ficar sem seu livro, pode bancar a coisa, participar de concursos, etc… Formas para ser publicado existem.
Agora, achar que escrever é um “negócio”…ai é brincadeira.
Achar que escrever é uma “missão”, é outra brincadeira…
E governo não tem de bancar escritor coisa nenhuma.
Governo tem de estabelecer um sistema de ensino de alto nível, acessível a todas as classes, não para incrementar a venda de livros, mas para melhorar o nível cultural do povo. Ai o mercado de livros ganha como consequência natural.
PS. Uma historinha real que talvez clarifique alguma coisa ou não: Aqui na minha cidade tem um escritor com mais de 40 livros publicados em pouco mais 40 anos de carreira (média de 1 por ano). O cara não está nem ai…participal de tudo que é concurso, já bancou edições, etc. Ela acha que seus livros são importantes, então batalha pra publicar. Houve época em que ele vendia exemplares nos botecos. Os livros do cara acrescentam para a história literária? Fariam falta se não existissem? Não sei…
Acho (é, eu escrivi acho sim, e daí?) que o problema todo é o fato de que muitos jovens escritores se acham o próximo grande gênio salvador da literatura brasileira… A grande maioria odeia paulo Coelho (e quem não odeia?), mas no fundo o inveja pela fama, pelo número de livros vendidos no mundo todo, pela projeção que ele tem no mercado. No fundo, todos esses jovens talentos que se lançam no mercado querem ser o próximo paulo coelho em quase tudo que paulo coelho é…
O excesso de auto-reconhecimento do talento desses jovens escritores os fazem pensar que eles são, obrigatoriamente, necessários ao mercado literário pelo simples fato de que querem ser…
Acho que o mercado deveria fazer uma experência: um ano inteiro com livros editados com preços justos. Tenho certeza que o mercado se aqueceria. Coloca o preço justo no livro. Não precisa apoio do Estado, incentivo fiscal, só o preço justo bastaria. O que já vi de gente abandonando seu desejo pela irrealidade do preço do livro. Gente que pega o livro, deseja o livro, e quando descobre o preço simplesmente larga o livro decepcionado. Além disso, o autor novo deveria estar abaixo do preço justo. Não há motivo para que alguém pague 40 reais num primeiro romance de um autor para ver se vale a pena. E se os estoques das editoras estão cheios, é porque editam muita bobagem. Discretamente, para não se darem por vencidos, acredito que os editores deveriam baixar os preços dos livros. O preço da brochura aqui no Brasil deveria ser o de uma edição capa-dura. Sério mesmo, é o preço correspondente ao capa-dura, só que numa edição brochura. ‘O Passado’ do Alan Pauls é capa-dura e está na faixa que as editoras vendem edições brochura… É muito desejo de lucro, um jogo em que só o editor ganha. E não venha me dizer que o editor perde sempre, coitado, porque todo dia novas editoras surgem, as grandes editoras estão sempre em crescimento, compram direitos internacionais caríssimos… Coloquem o livro numa faixa de preço justo e essas pessoas que largam os livros com pesar e desejo frustrado irão comprá-los.
É isso ai, Vinicius,
a usura dos caras não os deixa ver que poderiam ganhar ainda mais grana com esse negócio de livro (sim, para editor livro é negócio sim, é não há mal nisso).
Rafael,
os brasileiros não lêem porque a educação é ruim ou a educação é ruim porque os brasileiros não lêem?
Se o sujeito passa anos na escola e sai sem saber ler, provavelmente não será consumidor de literatura. E por que você acha que ele sai da escola sem saber ler?Como é que se desperta o interesse por leitura em escolas – ou cidades – que não têm livros? Não é força de expressão, há quantidade enorme de municípios brasileiros sem qualquer espaço de leitura ou livraria.
A existência de bibliotecas silenciosas e desprovidas de leitores se explica não só pela ausência de interessados, mas também pela falta de acervos atualizados e estimulantes. Aliás, me parece óbvio que a falta de um condiciona a falta de outro. Voltamos ao efeito Tostines.
Você e os tantos outros que ainda acreditam que cultura é só a cereja do bolo defendem a idéia de que é necessário, primeiro, investir na educação para, depois, oferecer cultura aos preparados para o seu consumo. Besteira. Se as duas coisas não caminharem juntas não funcionam.
É evidente que só a existência de leis e a previsão de dinheiro público não resolvem. Todavia, me parece claríssimo que são essenciais para a consolidação de ações de fomento à produção e à fruição de cultura ou, mais especificamente, para não fugir ao tema do post, à publicação, circulação e consumo de literatura nacional, você não acha?
O que precisa ser revista é a posição de muitos que provavelmente defendem a interferência pública em áreas como saúde, segurança e educação, mas condenam, com veemência, subsídio público para a cultura. Eu gostaria de saber por que, já que são todos, igualmente, direitos sociais previstos para os brasileiros.
A dúvida existencial do sujeito que não sabe se quer publicar o que escreve é legítima, mas é problema dele. Já o impasse de quem deseja ser publicado e não consegue assim como o de quem quer ler e não tem livro é problema do Estado. Porque produzir cultura e a ela ter acesso é direito. Não aceitar uma coisa dessas é como achar ruim que existam hospitais públicos ou programas de distribuição de remédios. Ou é cegueira ou masoquismo, credo!
Ana, como o Rafael, eu não acho que nesse caso existe o efeito Tostines: a educação leva à leitura, e ponto. Foi assim nos outros países do mundo: os livros de bolso, mais baratos porque fabricados em maior quantidade com material mais pobre, estouraram nos Estados Unidos depois da Segunda Guerra, quando a porcentagem de pessoas que iam para a faculdade aumentou muito. Quem estuda lê, não o contrário.
Eu concordaria com você se os recursos do governo não fossem tremendamente limitados. É preciso selecionar os gastos, e incentivar a produção literária vem depois de criar um público leitor. Público que só vai surgir da educação, não dá para escapar esse fato. Criar um sistema como o que você sugeriu seria bom para as editoras e os escritores, que ganhariam mais dinheiro e precisariam se preocupar menos com o gosto do público, para os políticos, que poderiam posar de defensores da cultura nacional, e para os poucos que já lêem por gosto, que poderiam ler mais gastando menos. Para quem não lê, a oferta da biblioteca pública não faz diferença.
Abraços,
Lucas
eita comentadores, vai dizer?
:>)
lobo antunes no último mais! diz que pra fazer um livro decente é necessário trabalhar 10 anos, 10 horas por dia… e se publica tanta coisa ruim pq ninguém pode ficar 10 anos, etc…
…
eu acho bonito o cara dizer “eu sou escritor, quero viver de literatura, ficar na torre me marfim escrevendo a grande obra”. o engraçado é que a maioria não sabe escrever uma frase decente.
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quem vive a vida real, com família, trampos, filhos, amigos, vida social, etc…, quase não tem tempo para sentar e escrever. e, se a atividade da escrita não for mais forte que todo o resto, ele deve deixar isso de lado e ir cuidar da sua vida sem se preocupar com a “grande obra” que provavelmente deveria ter feito.
Olha, gente, como escritora recém-publicada me senti na obrigação de dar o meu palpite, mas aí o destino interviu, fez com que eu escrevesse um coment todo charmosinho e na hora de publicar, boom. Deu erro no navegador. É fácil tecer as mais mirabolantes teorias, mas a verdade é que esse negócio de escrever não é mole. A gente tem aquele impulso irresistivel, se entrega, se arrebenta, reescreve mais de cem vezes, sofre pra acertar por anos, pra se aceitar, sofre pra publicar, depois sofre pra vender, que no meu modo de ver as coisas não é vaidade nenhuma, só uma conclusão normal de um trabalho feito. Eta vida sofrida essa de escritor, como aliás a de pintor, de designer, de escultor, de músico, enfim. Na próxima encarnação quero nascer homem e peão de obra.
Noga,
Por mais bela que seja a literatura, não acredito que a vida de um peão de obra seja mais fácil que a do escritor. Carregar sacos de cimento nas costas é muito mais árduo e degradante que escolher palavras diante de um computador. O mais frustrado do escritor pode consolar a si próprio com o sentimento recôndito de que sua obra, rejeitada pelo público, está além do entendimento do vulgo; o peão, coitado, nem pode se dar ao luxo de sentir que o prédio que ajudou a erguer é obra sua.
Ana,
Uma multidão de livros empoeirados não instrui ninguém. Estudei em escola pública, de baixíssima qualidade, e lá havia uma biblioteca. Diria que 97% dos alunos não sabia onde ficava a biblioteca; os 3% restantes preferiam ficar nas redondezas da quadra de esportes e da lanchonete a se isolarem em meio a pilhas de papéis encardenados. A fração irrisória dos que iam à biblioteca era constituída pelos desprezados da turma. O meu professor de português e literatura, recordo-me bem, podia ser encontrado com mais facilidade nas intermediações do cafezinho, onde ficava discorrendo interminavelmente sobre futebol, do que na biblioteca, onde, aliás, nunca o vi de corpo presente.
É inadmissível uma escola não ter livros. Se o problema fosse só esse… No Brasil, há escolas que não têm sequer um quadro negro no qual o professor possa rabiscar sua incultura.
O trágico, caríssima Ana, é que os próprios professores não se interessam pela leitura. Já presencie docente fazendo chacota dos alunos estudiosos: “bando de bitolados”.
Tal estado de degradação pouco tem a ver com a carência de livros, pois eles, veja só, existiam e estavam disponíveis.
Discordo do Lucas num ponto. O sistema educacional sozinho não alterará o quadro. A questão é sobretudo de valores: a cultura não é vista como algo valioso por si só. Pelo contrário, quem gosta de ler, tem vocabulário mais amplo que o ordinário e carrega livros para lá e para cá é geralmente olhado de esguelha, uma criatura impertinente, elitista, que gosta de se exibir, sujeitinho tedioso, chato, maçante, de quem ninguém gosta.
Faça o teste: numa conversa de pessoas que não vivem no meio literário, cite, sem mais nem menos, o nome de Dostoievski e veja a expressão de enjeitamento que todos manifestarão em seguida.
Lucas,
você acha que as escolas americanas que instruíram os compradores de livros de bolso não tinham boas bibliotecas? Ou que a leitura já não fazia parte da vida dos norte-americanos daquele período?
Lamentavelmente, os livros não estão na vida dos brasileiros. Será que não cabe a educação formal promover esse econtro? Como se forma um público leitor sem livros?
Além do mais, insisto na idéia de que o preparo para a leitura, com a presença de livros na escola, é condição obrigatória para qualquer educação de qualidade.
Biblioteca escolar provida de acervo rico e variado que atenda a alunos e professores não é luxo – é necessidade.
Se os acervos desse tipo de biblioteca incluírem, entre outros títulos, autores nacionais contemporâneos, tanto melhor, você não acha? Seria bom para a educação, para os alunos, para os escritores, para as editoras, para a cultura nacional e até para o político pai da idéia.
Sobre o uso dos limitados recursos do governo que você menciona, quero lembrar que as dotações orçamentárias para a cultura, educação ou qualquer outra área são definidas a partir de critérios fixados por lei. O orçamento anual prevê uma parcela a ser usada com educação, outra com saúde, outra com segurança e assim por diante. É no âmbito da fração definida para a cultura que existe concorrência, ou seja, a disputa por verba ocorre somente entre ações culturais. Isso significa que o fomento à publicação de autores nacionais ou à manutenção de bibliotecas públicas não concorre com as campanhas de vacinação das criancinhas nem com a construção de novas escolas, mas com o incentivo ao cinema nacional, à dança e à cultura popular ou com as ações de proteção do patrimônio histórico e artístico, por exemplo.
A pergunta que se deve fazer não é se estimular com verba pública a produção literária nacional é mais urgente que cuidar da educação, mas se é mais importante que financiar o Cirque du Soleil ou o último filme da Xuxa.
Um abraço,
Ana
Noga,
Já fui peão de obra. Acredite, não é vida fácil, até pela remuneração, que é muito baixa.
Quanto à possibilidade de a vida ser mais fácil pelo fato de ser homem, sei não… Acredito que as coisas são muito mais difíceis pra mulher pobre, principalmente se for negra. Pra classe média pra cima as dificuldades são as mesmas pra ambos os sexos, descontando-se as particularidades digamos “particulares” de cada caso, de cada um… Caímos ai numa área complicada, né?
Portanto, escritor não tem vida mais sofrida que ninguém, ou tem tanto sofrimento como os outros.
Cara escritora Noga: “…mas aí o destino INTERVEIO”.
Desculpe corrigir, mas foi irresistível.
Oi, Rafael!
Só depois de enviar minha resposta ao Lucas é que li seu comentário.
Concordo com você em muitos aspectos. Sei que a simples presença de livros na escola não resolve – é preciso um mediador que seduza o aluno para o texto.
Também acho que o professor não está preparado para ser esse mediador (ele também precisa de um que o aproxime da leitura).
No entanto, continuo defendendo a ampliação e a modernização urgentes do acervo das blibliotecas públicas e escolares, por uma simples razão: não dá para formar leitores sem livros, não é mesmo?
Junto com essa medida, é fundamental aperfeiçoar a formação dos professores e, certamente, achar maneiras de melhorar, no imaginário do brasileiro, a figura do leitor.
Um abraço,
Ana
“Hechas, pues, estas prevenciones, no quiso aguardar más tiempo a poner en efeto su pensamiento, apretándole a ello la falta que él pensaba que hacía en el mundo su tardanza, según eran los agravios que pensaba deshacer, tuertos que enderezar, sinrazones que emendar, y abusos que mejorar y deudas que satisfacer.”
Tais são, segundo Cervantes, os propósitos que animaram D. Quixote a sair da sua terra, sagrar-se cavalheiro e aventurar-se pelo mundo.
Guardadas as devidas proporções, Ana, você pretende o mesmo: “bom para a educação, para os alunos, para os escritores, para as editoras, para a cultura nacional e até para o político pai da idéia.”
O máximo que o D. Quixote conseguiu foi danificar a pá de um velho moinho de vento. Como você é menos pretensiosa, talvez consiga mais; porém, não se iluda, o menoscabo pela cultura é vertiginoso neste triste trópico.
Você disse muito bem que não é o caso de tirar dinheiro da saúde para alocá-lo à cultura. Os recursos da cultura é que devem ser canalizados para os eventos verdadeiramente culturais, em vez de mega espetáculos, como os promovidos pela Xuxa. Concordo! Sob o nome de Cultura, dá-se dinheiro a lixos culturais.
Porém, Ana, você sabe como o processo de escolha do Estado funciona? Como o Estado é impessoal, os critérios devem ser fixados da forma mais objetiva possível numa lei aprovada pelo Congresso. Você consegue imaginar um conjunto de critérios objetivos pelos quais seja possível distinguir um recital de Bach da performance rebolativa do DJ Lacraia cantando o rap da eguinha pocotó? Há critérios objetivos que diferenciem um poema de Manuel Bandeira de uma frase pornográfica pichada num muro?
É por isso que o Cirque du Solei será sempre beneficiado pela renúncia fiscal: a lei não enxerga diferenças qualitativas.
Pode-se instituir uma comissão de notáveis encarregada de selecionar os trabalhos artísticos dignos do patrocínio estatal. Pergunto a você: existe, neste vale de lágrimas, uma comissão estatal que seja verdadeiramete composta de notáveis? Você acredita mesmo que esses notáveis, estando encarregados de decidir o destino de dinheiro, irão agir com plena isenção de espírito?
No final das contas, o resultado prático da aplicação maciça de dinheiro estatal na compra de livros não será o incremento da leitura, mas o enriquecimento de alguns.
Rafael, além de destacar que o Estado é impessoal e que os critérios de alocação de recursos para a cultura devem ser fixados da forma mais objetiva possível numa lei aprovada pelo Congresso, você me pergunta se eu sei como o processo de escolha do Estado funciona.
Por acaso sei. Você – e qualquer um – também pode saber, consultando a Lei nº 8.313, de 1991, conhecida como Lei Rouanet (discutida e aprovada pelo Congresso), e o Decreto nº 5.761, de 2006 (do Presidente da República), que a regulamenta. Estão na página do Ministério da Cultura. Os processos e critérios de escolha – bastante objetivos e impessoais – estão todos lá. A página do Ministério ainda fornece as listas de projetos beneficiados com recursos públicos. Aliás, todas os programas oficiais desenvolvidos em favor da cultura estão lá. Você os conhece?
Não acho quixotesco acreditar que a lei e certas instiuições, em princípio, existem para garantir direitos. É preciso conhecer os instrumentos existentes até para reclamar e para desqualificá-los.
Essa posição cética que você demonstra a respeito do que é público ou estatal não leva a lugar nenhum, espalha desânimo e dá uma preguiça…
Um abraço!
Ana, uma coisa é ter boas bibliotecas e opções de leitura, outra é criar um programa de compras em massa que subsidie a produção literária nacional. Sou a favor do primeiro projeto, contra o segundo.
Certo, o orçamento estabelece quanto vai para a saúde e quanto para a cultura. Mas orçamentos podem, e devem, ser discutidos e alterados. A minha escolha, portanto, não seria contra os livros e a favor da Xuxa. Seria contra os livros e a Xuxa e a favor dos professores e de incentivos para os alunos estudarem. Como o Rafael lembrou, os livros, na maior parte do tempo, estão lá; o que falta é estímulo para pegá-los e lê-los.
Abraços,
Lucas
Sem bons professores no ensino básico nunca haverá leitores verdadeiros. No caso do Brasil, se pelos menos os professores fossem bem formados e remunerados, a primeira metade do caminho estaria percorrida.
É verdade, Lucas. Falta mediação – professores leitores, bibliotecários leitores, colegas leitores – que aproximem os alunos dos livros. Uma forcinha da mídia também cairia bem.
Você lembrou uma coisa importante – os orçamentos são discutidos e alterados no Congresso. É uma pena que tão poucos acompanhem as discussões.
No mais, desculpe, mas eu vou bater na mesma tecla – você não precisa ser contra os livros e a Xuxa e a favor dos professores e de incentivos para os alunos estudarem, porque essas coisas estão em pacotes orçamentários diferentes.
Programas de promoção da leitura e formação de bibliotecas podem ser promovidos com os recursos da Cultura. Formação de professores e incentivo ao estudo são ações realizadas com a verba da Educação, oriunda principalmente do FUNDEB (aquele fundo previsto pela Constituição e composto por recursos originários de impostos). Portanto, para comprar livros com dinheiro público não é preciso, necessariamente, tirar recursos da educação.
Um abraço!
Prezada Sra. Noga,
Acho que todo escritor que se preze deveria trabalhar como peão de obra.
Aliás, conheço uma pessoa no além que trabalha no setor de distribuição de vidas futuras. Posso mexer uns pauzinhos e conseguir que você venha na próxima encarnação como funcionária de uma fábrica de tijolos na China. Que tal?
A discussão é posta em bases erradas. A Anna deveria apontar o nome de um único escritor realmente bom dos últimos dez anos que não tenha encontrado editora e leitores. Claro que não uma multidão de leitores, que isso não é para qualquer um (e costuma não ser para literatura de qualidade), mas leitores em número razoável. O problema é que há muito zé-mané sem noção que acha que o escreve é significativo – e na verdade é ruim de chorar! Aliás, mesmo o que havia de bom (ou menor pior), em matéria de literatura, nos blogs acabou indo parar em editoras respeitadas e encontrou leitores. Galera e Pelizzari, por exemplo. O que ficou nos blogs é porque (surpresa!) não presta. A vida é simples; a vaidade é que complica.
Ana, eu conheço a Lei Rouanet.
Sabe qual tem sido a grande contribuição dela para o mercado editorial? Luxuosos e caríssimos exemplares de propaganda institucional mascarados de livros culturais.
Pense na Shell ou no Bradesco. Eles contratam um fotógrafo de renome e um historiador ou sociólogo; o fotógrafo tira belíssimos retratos de, por exemplo, fazendas mineiras antigas; o historiador escreve um texto qualquer sobre essas fazendas, apontamentos históricos geralmente banais. O conjunto é vistosamente diagramado, impresso no mais precioso dos papéis e ricamente encardenado. Um luxo de livro é parido. Coloca-se, em seguida, o nome da instituição patrocinadora do produto na capa (Banco Itaú – As Fazendas Mineiras do Século XIX). Depois, os nababescos exemplares são distribuídos aos principais clientes, aos amigos dos diretores, aos parentes. Um punhado é reservado para algumas poucas bibliotecas públicas.
Num país decente, tais livros seriam arcados exclusivamente pelas próprias empresas que os patrocinaram. Afinal de contas, não passam de uma forma sofisticada de propaganda institucional. Aqui no Brasil, com a Lei Rouanet, os custos de produção desses livros são em parte subsidiados pelo erário, graças ao mecanismo da renúncia fiscal. Bom para as empresas, bom para o fotógrafo, bom para o historiador, bom para a editora, bom para os clientes agraciados com o mimo – ruim para o resto da população.
Tal é a razão por que não vejo na compra maciça de livros pelo Estado o emplastro que aliviará a nação do crônico mal do apedeutismo.
Num meio em que a intelecção do gibi da Mônica é visto com a mais extenuante das tarefas, os esforços de diversificação do acervo bibliográfico pouco efeito terão sobre os índices de leitura. Neste contexto, programas de incentivo à leitura atrairão os ratos de biblioteca de sempre.
Eu não acredito que mecanismos legais, por mais bem intencionados que sejam, alterem os hábitos profundamente arraigados da Nação.
Não todos os escritores escrevem por vaidade.
Nem pra ter leitores.
Muitos escrevem porque têm alguma coisa a contar. Ou por um simples desejo de se comunicar.
Para estes, basta um leitor só.
E sim, concordo com Monteiro Lobato. Para escrever um livro bom, bom de verdade, você precisa de muitos anos de dedicação. Eu gostaria de saber quantos desses escritores vaidosos não publicados dedicaram não 10, mas, vamos dizer, 5, a escrever sua obra.
Sei que Sérgio Faraco demorou 30 anos pra escrever um conto. Quem está disposto a isso?
(Desculpem qualquer erro de português, não sou brasileiro.)
Desculpa, mas esse Sérgio Faraco deve ter sofrido um AVC. 30 anos pra escrever um conto, de duas uma: ou ele era um retardado, ou era um retardado… hahaha!
Ai que engraçadinho. Então Hemingway era um retardado também, quando ficava feliz, no final do dia, por ter escrito 50 palavras boas…
Ai, ai, ai, Roger. 50 palavras equivalem a, aproximadamente (em média), uns 200 toques. Isso dá 1/4 de página. Pra se escrever um conto bom, bastam algumas poucas páginas. Isso significa que Hemingway era até bastante prolífico.
Bobinho, você, que não sabe fazer contas.
Ha,ha,ha,ha!! Nem eu sei fazer contas! 50 palavras dão 1/6 de página. Mas o raciocínio continua o mesmo…
Roger, você está certo, é preciso muita dedicação mesmo, 5 anos é um tempo razoável, não se pode ter pressa em publicar, se não você vira um Nelson Ruffato de Oliveira Terron.
sou escritora,meu email é le_09876@hotmail.com
Estou escrevendo uma excelente história de amor.me escreve?
sou escritora.Queria lançar meu livro aqui.meu msn é le_09876@hotmail.com
me escreve?
Como disse Cory doctorow: “faça maluquices com seus livros”… é o que estou fazendo…
Meu nome é Hugo Maximo e meus livros estão disponíveis gratuitamente na internet pelo sistema Creative Commons
no meu Blog “Por uma Vida na Matrix Menos Ordinária” ( http://matrixordinaria.blogspot.com/ ).
Depois de três livros publicados da maneira tradicional resolvi atacar em outras frentes, a exemplo do autor
Cory Doctorow e de outros escritores, defensores do sistema copyleft de direitos autorais.
Se achar interessante ou que vale à pena, e puder ajudar de alguma forma a divulgar por aí, agradeço humildemente e de coração.
De qualquer forma, fica o convite. Se gostar e puder ajudar a divulgar fico grato e contente.
Desde já agradeço.
um grande abraço,
Hugo Maximo
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