A idéia foi roubada de um post do blog de livros do “Guardian”, blog que foi uma das melhores notícias da – em geral mais louvada do que merece – blogosfera literária em 2006: eleger o livro mais superestimado do ano. Soa antipático? Soa, claro. Uma antipatia à moda inglesa. Mas não deixa de ser uma forma inteligente de retrospectiva. Ao inverter os sinais habituais em busca de identificar aquele livro que ocupou mais espaço em nossas vidas do que – percebemos claramente agora – fazia por merecer, estamos refletindo sobre o passado recentíssimo e nos imunizando contra uma praga comum nas listas que proliferam nesta época do ano, a do “vamos dar uma força para o Zé”.
No blog inglês, melhor do que o post em si foi a resposta que ele provocou nos leitores, cada um em busca do seu livro superestimado de eleição. Mãos à obra, portanto, moçada. Fica aqui a minha contribuição: “Mastigando humanos”, de Santiago Nazarian (Nova Fronteira), foi tratado por parte substancial de nossa imprensa literária como um livro de originalidade lancinante, apenas por ser narrado por um jacaré. O papagaio de Verissimo chegou poucas semanas depois, e com prosa bem melhor, mas não a tempo de revogar tanto pasmo zoológico.
56 Comentários
Falando em bichos… As prateleiras das livrarias estão repletas de autores com fortes tendências zoológicas. Algumas antas, outros asnos… E não foram agraciados com a perplexidade maravilhada dos críticos. Preconceito?
Putz, bem lembrado, Sérgio. Dei uma folheada nesse livro, achei bem fraco mesmo. Agora, a coisa mais superestimada da semana foi o show do Caêta no Circo. Dá um puxão de orelha no Paulo Pires, dá…
Bicho por bicho, pra mim o Veríssimo é uma anta!
Vista Parcial da Noite, Luiz Ruffato.
Detetives Selvagens,do Bolano.
Li pouco do que saiu este ano, ainda mais no Brasil, então me abstenho. Mas eu prefereria, Sérgio, saber a sua opinião sobre o outro lado da matéria citada pelo Guardian: e os livros mais subestimados do ano, quais são? Acho que você já falou de alguns por aqui, mas se houver mais boas dicas são sempre bem-vindas. Abraços.
Lucas, não toquei nesse lado porque vêm aí, semana que vem, umas notas mais alentadas de destaques do ano, que inevitavelmente incluirão coisas que nossa imprensa esnobou. Aguarde.
Agora, a observação do Walter sobre ‘Os detetives selvagens’ me chamou a atenção por duas razões. Primeiro, eu gosto à beça do livro – até aí, cada um na sua. Mas… superestimado, Walter? Por quem? O que eu vi foi a imprensa tratando o livro mal. Perdi alguma coisa?
O Amor Esquece de Começar.
Cinzas do Norte – Milton Hatoun
qual mais seria?
Novidade vai ser você roubar idéias de um fórum ou blog sem fama…
Blogs do Guardian e NY Times: os mais superestimados de 2006.
Falando em livros com bichos, um livro com bicho que não recebeu menção da ONU por pura falta de iluminação:
http://www.joio.com.br/index.php?q=node/1037
Esse é bom.
Superestimado: “Mãos de cavalo”, Daniel Galera.
Subestimado: “Deixei ele lá e vim”, Elvira Vigna.
(Senti necessidade de esclarecer, a respeito de “Mãos de cavalo”: o livro é bom, mas, pelo que andei lendo quando do lançamento, achei que o autor tinha virado um novo Proust ou Flaubert. É um livro bom, como centenas de outros)
Eu acho o Daniel Galera muito foda falando de videogames…
Taí (Fabio Negro) o nível dos leitores desse tal de Galera… Diz o sujeito que ele é “muito foda falando de videogames”. Imagino outro sujeito dizendo que gosta de Proust porque ele é “muito foda falando de madeleines” e de Kafka porque é “muito foda falando de baratas”… Chegamos a este ponto! No espírito da coisa: fodeu!
1- nunca li Mãos de Cavalo e nunca vou ler
2- Daniel Galera é muito foda falando de videogames e foi UNICAMENTE isso o que eu quis dizer.
Sua intenção de tentar cruzar livro com videogame, ou de tirar uma opinião minha sobre o livro foi risível. Há-há! Minha glande foi pra sua boca.
O Proust é muito foda falando de homossexuais!
Tô com o Marcelo e não abro.
Voltando à proposta do post, que, como sempre, é esquecida pelos “comentadores”, acho superestimado – não que tenham falado muito, mas é porque falaram bem – o novo livro do Luiz Vilela – como tudo dele, que é muito ruim, chato e raso.
Também o “Rubem Fonseca melhor que o próprio Rubem Fonseca” é muito ruim, e nosso blogueiro favorito, que de resto combina muito com meus gostos, elogiou. Para mim, esse livro “contanto sobre sexo para Zveiter”, ou algo assim, é um embuste.
Mãos de cavalo – Daniel Galera. Com videogame ou não.
Concordo com o Sérgio sobre o livro de Bolaño (engraçado, acho que foi o melhor livro que li em 2006). E salvo uma resenha de lançamento aqui outra acolá, não se falou muito nele.
Olha a história dos caranguejos novamente…
Tá certo que o Galera se perde no início descrevendo telas do google earth, mas a narrativa é boa, acima da média da literatura brasileira contemporânea.
Sérgio, se há um livro que foi superestimado pelo grande público foi o tal “Caçador de Pipas” do Khaled Housseini. Não dá para virar os olhos para esse fenômeno. Afinal, lá se vão mais de 50 semanas que o tal romance lidera o ranking de livrarias publicado na VEJA. E o preço? Algo em torno de R$25,00 ou R$30,00. Tomei o livro emprestado de um amigo (não me pareceu prudente investir nele um mísero centavo que fosse) e o li com o espírito desarmado, de modo a não firmar um senso crítico (ou critiqueiro) antes de encerrar o prefácio. Pois bem! Nenhuma surpresa. O livro é muito ruim. A história, recheada de clichês, apresenta-se como um perfeito roteiro para um filme de hollywood, seguindo a linha do Código da Vinci. Nota abaixo da média recebe de mim, também, a tradutora. Encontram-se no livro erros gramaticais grosseiros, como o uso corriqueiro dos pronomes do caso reto tomando de assalto o lugar dos pronomes do caso oblíquo, v.g. “vi ele” “chamei ele” e por aí vai. É isso!
Superestimado todos os anos: Paulo Coelho!
O livro mais superestimado foi o do João Paulo Cuenca. Ah, ele não lançou nada esse ano? então vai ser o livro over-rated de 2007. e tenho dito.
Para mim, o pior e mais preconceituoso dos últimos tempos é o livreiro de cabul, escrito por aquela norueguesa politicamente correta que não entende de nada.
A família de Daniel Galera era proprietária de uma locadora de fitas de video-games em Porto Alegre, a Galera Games. Ou seja, isso é um fato marcante na infância dela, na formaçao, na tragetória. Por isso está tão presente na sua obra. E isso é sério.
O tal de Braz, além de aparentemente não entender nada de livros, não saca xongas de mulher. Todo poder às norueguesas! E o Caetano é muito foda falando bobagem!
“O Paraíso é Bem Bacana” do André Sant’annn foi o superestimado do ano. Para mim um projeto que infelizmente não deu certo. Tanto é assim que depois do período tradicional de divulgação nos jornais e revistas, ninguém falou mais nada.
Quanto ao subestimado, fico com “Dedo Negro com Unha” do Daniel Pellizzari, que para mim é um bom escritor, mas que infelizmente não vi muitas resenhas sobre o livro por aí.
Quanto aos internacionais, “Conhecimento do Inferno” do Lobo Antunes pegou carona na novidade da chegada da Alfaguara por aqui e foi lançado como uma obra-prima, algo que o livro não é. Já o subestimado internacional, sem dúvida, foi “Zama” do Antonio di Benedetto que é uma obra-prima mundial, mas que por aqui ninguém falou nada.
Videogame também marcou muito minha infância, então pra mim é totalmente compreensível que o Galera queira tratar disso nos escritos dele. Só não acho que ele tenha encontrado o tom certo pra isso da mesma forma como ele encontrou pra outras coisas no romance dele (como a cena do parto da esposa do protagonista, ou a amizade dos adolescentes, por exemplo).
Considerando que é um assunto ainda inédito na literatura (não vamos achar no cânone grandes passagens falando de Nintendo), acho que só a tentativa já serve de alguma coisa. É um desafio e tanto, e não me surpreende que muita gente não entenda o que ele está querendo fazer.
Pra muita gente é como se fosse assim: quando Zé lins ou Graciliano Ramos fala das coisas da infância deles, é literatura; quando Galera ou alguém das gerações mais recentes fala, é referência pop e pobreza intelectual/literária. O que muita gente não entende é que a partir dos anos oitenta dois terços da infância da classe média vem com um símbolo de ® depois de cada lembrança. Mario Bros não é um só um produto tecnológico qualquer, ou algum divertimento besta; é algo que faz parte significativa do imaginário das crianças que o jogaram. Não tem como cortar isso fora sem estar mentindo.
palmas!
‘O último leitor’, parecia interessante, todo mundo dizia que era interessante, não era. Análise pobre, demorada. Repetitivo, enfim um desperdício do meu dinheiro.
Caramba, Leandro, é mesmo: olha outro aí que eu também ponho ao lado do romance da Elvira Vigna: “Dedo negro com unha”, que é ÓOOOOOTIMO, e pouca gente falou. E, pelo que andei lendo, os que resenharam não entenderam direito. Sendo franco: não entenderam foi nada. Pena, porque o Pellizzari é um grande autor. Espero só que ele não se desestimule e continue escrevendo, porque os seus leitores só ganharão com isso.
Superestimados: Os dois do David Toscana ( “O último leitor” e “Nossa senhora do Circo”). O cara é um embusteiro, além de ser pró-terroristas do Hezbollah.
Subestimados: “Zama” do Di Benedetto, fazia tempo que não lia algo tão bem escrito e bom e “A imitação do amanhecer” do Bruno Tolentino, livro lindo.
Pelé: The Official Autobiography, superestimado em quatro mil euros.
“Aquilo é que é mulher” acredita em papai noel, duendes e no politicamente correto. Argh. deu vontade de vomitar. Vai se informar sobre outras culturas antes de criticar o modo de vida de cada país.
Sem sombra de dúvidas o ‘Mastigando Humanos’ de Santiago Nazarian.
Pomada para o cotovelo? Alguém?
Fabio: a partir de janeiro, vou começar a escrever regularmente sobre videogames.
A história da Galera Games, descrita pelo marcelo, é real.
Eu acho que omitir videogames da literatura contemporânea é como omitir a televisão ou a internet. É birra de quem acha que existem temas nobres que merecem figurar na literatura e temas vulgares que não merecem. Acho que o Breno falou muito bem no comentário dele.
Fiquei feliz de ver menções ao “Dedo Negro com Unha”, do Pellizzari, como um dos subestimados do ano. Verdade verdadeira. (embora o livro, tecnicamente, seja de 2005).
Ainda dá tempo para não subestimar o livro do Edward Pimenta, “O homem que não gostava de beijos”, que o Sergio comentou no blog. Excelente e divertidíssimo.
No seu blog ou na revista Piauí, Galera?
Aliás, cadê aquele texto seu que compara Diadorim com a Samus Aran? Vi numa propaganda da Piauí, peguei uma lupa e consegui ler a primeira página toda. Agora falta publicarem na revista, né? Pra eu ler o resto.
Escrever sobre videogames com senso crítico e até literário é um TESÃO; no fórum linkado no meu nickname a gente, às vezes, tenta fazer uma lance legal assim, bem de vez em quando. Eu mesmo tô rascunahndo algo grande sobre Final Fantasy 4. Já jogou?
Leia esse artigo aqui, se puder:
http://filmelog.blogspot.com/2006/02/cabea-de-pirmide-cinema-videogame-e.html
(ei, se tu me mandar o Mãos de Cavalo, eu leio 🙂
É surpresa, Fabio. Aguarde 🙂
O texto na piauí foi adiado algumas vezes. Talvez publiquem na próxima edição.
Vou conferir o fórum. E não joguei Final Fantasy 4, não. Ando meio enferrujado em games, mas pretendo resolver isso em 2007.
Vou mandar uns mails pra Piauí pedindo agilidade na bagaça.
Acredito que você manje de emuladores, né?
Então precisa jogar os seguintes: Final Fantasy 4, Final Fantasy 6 (esse é pra quem é RPGista hardcore) Secret of Mana e o lendário Chrono Trigger, classificado por Zuenir Ventura como “o jogo que não acabou”.
Mastigando Humanos é um livro muito abaixo de suas positivas críticas, isso me é certo. Mas tem tanta coisa superestimada, sabe?
Ano passado foi a vez do Contos Negreiros, do Marcelino. Acho ele um dos camaradas mais bacanas pra se conversar na vida, mas, no caso deste livro, pra mim ele errou feio a mão — mas não foi a opinião consensual da crítica, e me preocupo quando há consenso. Do mesmo modo, no ano passado, o livro do Pellizzari, Dedo Negro com Unha, foi o grande livro do ano. O livro revela um autor que tem o domínio de sua obra e de sua prosa, como deixei claro na época numa resenha pr’O Globo. Mas a DBA ferrou o livro e quase ninguém viu. Diferente do Marcelino (editor, inclusive, do livro do Mojo), que saiu pela Record com um megahype em cima.
Neste ano, eu vi pouca gente falando bem de um belo livro, A arte de Odiar, do Julio Cesar Correa, um policial de fôlego que saiu pela Bagatelas!, coletivo editorial do Rio. Ele vem com livro novo e também bom pela Bom Texto (pode até ser que já tenha saído). Esse é o subestimado pra mim.
Agora, livros como o do Jabor, o do Veríssimo (os novos), o último do João Ubaldo foram mesmo superestimados. O do João Ubaldo ainda é bom, mas não tão bom assim.
E não vi uma linha em lugar nenhum de um importante relançamento de ficção científica (outro gênero pro qual nem grandes editoras, como a Companhia, dão bola),que é o Jogo do Exterminador, do Orson Scott Card, pela Devir.
Ah, e AINDA subestimam o Mutarelli. Tanto que ele vai largar os quadrinhos pra se dedicar só à literatura (ainda que ele SEMPRE tenha feito literatura, mas antes em quadrinhos, o que a intelligentsia não valoriza nunca). Quem sabe agora acordam?
Eu concordo com o Delfin, a tendência maior, especialmente na imprensa comercial, é a de subestimar ou nem registrar a existência.
Estamos na cultura da resenha de lançamentos, ou o livro é discutido, (brevemente é claro) no seu lançamento ou nunca mais.
Ainda bem que blogs como esse e as revistas eletrônicas estão dando maior espaço para discussão.
“Joana à Contragosto” daquele balofo do Marcelo Mirisola! Ele deveria mesmo ter se suicidado ou ter ido criar galinhas depois de “O Azul do Filho Morto”, mas não, fica lançando uns lixos desses… aff…
E quanto ao Santiago Nazarian, eu até concordo com o fato de ele ser superestimado, mas é ainda melhor que qualquer coisa do Fernando Veríssimo…
“O adiantado da hora”, do Cony. Não li e não gostei. Chato dizer isso, mas é verdade. Li alguns trechos, e não gostei nem um pouco. Prefiro o Cony de antigamente.
Superestimado (ficção): “O Último Leitor” (do Toscana, não do Piglia)
Superestimado (não ficção): “O Mundo é Plano” (Thomas Friedman)
Subestimado (ficção): “A Promessa do Livreiro”, John Dunning
Subestimado (não ficção): “3000 Dias no Bunker” do Ricardo Fiúza
ah! Quase me esqueço de colocar o “Nem Anjos, Nem Santos” de Ivan Klíma. “Amor & Lixo” dele é bem mais interessante
Travessuras da Menina Má. Tanto se escreveu sobre a “Volta de Vargas Llosa à arte de contar bem uma estória”… Ô, livro chato.
Gente, que implicância com o Nazarin! Ele é tão lindinho!
Para o Espezinhador: Achar que o Veríssimo é uma anta, só pode ser inveja!
Tudo bem que o ” livro do papagaio” é bem ruinzinho, mas daí a achar que ele é uma anta, é desconhecer tudo que ele escreveu antes. Aliás, acho que as editoras deveriam parar com esta mania de encomendar livros para coleções sobre os pecados capitais, sobre os dedos das mãos, etc, só poderia dar no que deu.
Hum, realmente, o “Travessuras da menina má” é bem ruinzinho. Foi a maior decepção do ano.
superestimado: A luz do dia (graham swift). cem mil clichês.
subestimado: por acaso (the accidental – ali smith).
o lobo antunes não é lançamento. gosto do livro mas fato é pretensioso. já demora este nobel para o lobo antunes.
“Mastigando humanos” é seuperestimado, ruim e pretensioso.
Mastiga a paciência do leitor.
O livro subestimado de 2006, para mim, é o romance Mar profundo, do cingalês (é estranho que o país tenha sido renomeado de Sri Lanka e o gentílico permaneça) Romesh Gunesekera, publicado em junho pela L&PM.
Da personagem Senhor Salgado e do trecho no mercado em Colombo, principalmente, não consigo esquecer.
É uma prosa simples e muito rica, e não li nada, nada em publicação alguma.