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Quando escritores ganhavam medalhas olímpicas

08/08/2012

Em vez de duplos mortais carpados, tetrâmetros iâmbicos cataléticos? Exatamente. Embora quase não se fale nisso, entre 1912 e 1948 os Jogos Olímpicos distribuíram medalhas de ouro, prata e bronze para escritores (mais especificamente, poetas), além de músicos, arquitetos, pintores e escultores, por obras inéditas que tivessem o esporte como tema.

Não que faça muita falta saber. O fato de o primeiro vencedor da medalha de ouro olímpica na modalidade literatura, em 1912, ter sido o próprio Barão Pierre de Coubertin (foto), o grande ideólogo dos Jogos e o maior entusiasta da inclusão das artes entre as modalidades competitivas, torna tudo bastante suspeito.

Curiosamente, ao inscrever sua obra “Ode ao esporte” nos Jogos de Estocolmo, Coubertin adotou um pseudônimo alemão duplo – “Georges Hohrod e Martin Eschbach”, talvez imaginando que o texto fosse bom demais para ter sido escrito por uma pessoa só –, o que fez sua medalha ser computada inicialmente no quadro da Alemanha.

Se o panteão dos escritores com medalha de ouro não inclui nenhum grande nome da literatura, o que sugere uma baixa adesão dos maiores artistas da época à ideia de disputar uma medalha olímpica, nem todos são inteiramente obscuros.

O nome de maior destaque é provavelmente o do poeta francês Charles Guyot, mais conhecido pelo pseudônimo Géo-Charles (1892-1963). O medalhista de ouro dos Jogos de Paris, em 1924, era um personagem ativo dos círculos modernistas da cidade, amigo de Jean Cocteau, Blaise Cendrars e do artista plástico e poeta pernambucano Vicente do Rego Monteiro. Era também um amante da cultura brasileira, sobre a qual publicou dois livros: Poèmes du Brésil, de 1949, e L’Art baroque au Brésil, de 1956.

Os demais poetas medalhistas de ouro são o italiano Raniero Nicolai (1920), o montanhista alemão Paul Bauer (1932), a finlandesa Aale Tynni e o italiano Gianni Stuparich (1948) – os dois últimos, em conformidade com novas regras, cada um em sua categoria, respectivamente a lírica e a épica.

Em 1949, o Comitê Olímpico Internacional decidiu acabar com as competições artísticas. Motivo: um estudo concluiu que praticamente todos os participantes eram profissionais, o que contrariava o espírito dos Jogos.

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Falando em competições artísticas e medalhas: o jornalista Carlos André Moreira, do jornal gaúcho “Zero Hora”, merecia uma na categoria crítica literária pelas ponderadíssimas resenhas que vem publicando sobre cada um dos contos da “Granta” de jovens autores brasileiros. São cinco blocos de texto, dos quais quatro já estão no ar – aqui o mais recente, que tem no pé links para os demais.

2 Comentários

  • Rodrigo 08/08/2012em15:51

    Grato pela informaçao, Sergio Rodrigues. Nao sabia disso.

  • Odisseus 18/08/2012em01:17

    Jorge Luis Borges lembra-nos que os feitos e medalhas do poeta francês Charles Guyot, dos italianos Raniero Nicolai e Gianni Stuparich, do montanhista alemão Paul Bauer e da finlandesa Aale Tynni são relatados na Enciclopédia das Olimpíadas das Letras, publicada em 1951 por Herbert Quain, autor também de April March, “una novela regresiva, ramificada”, nas palavras do escritor argentino.