Nos suplementos literários da América do Norte, nada importa mais do que o conflito de interesse. Ele deixa os editores temerosos e os autores amargos. Ninguém se queixa se os resenhistas não sabem escrever, pouco entendem de seus temas, põem os leitores para dormir ou superestimam absurdamente a qualidade de um livro. Mas se existe uma chance de que a violenta demolição promovida por Bruce do romance de Samantha tenha sido motivada pela resenha podre que o marido de Samantha fez do livro de Bruce seis anos atrás, aí é um escândalo. Trata-se de uma área popular de polêmica, em parte porque é uma questão literária que até os iletrados acham que entendem.
Ano passado, o “Washington Post” publicou um abjeto pedido de desculpas por ter permitido que Marianne Wiggins falasse mal do romance de John Irving, Until I find you. Irving é amigo do ex-marido de Wiggins, Salman Rushdie. O excelente artigo dela passou longe de ser a única crítica negativa do livro. Não importa. Os editores do “Post” decidiram que não deviam ter confiado nela para lidar honestamente com o romance do amigo de seu ex-marido.
O artigo (acesso livre, em inglês) de Robert Fulford no jornal canadense “National Post” levanta questões interessantes sobre a relação entre escritores, resenhistas e editores de suplementos literários. Exagera um pouco, a meu ver, na crítica aos que se preocupam com o conflito de interesse – uma preocupação legítima, que em doses sensatas não nos faria mal nenhum importar. Mas acho que o artigo acerta ao apontar os riscos do exagero. Como o mundo literário é pequeno e quase todo mundo acaba por se conhecer, levar esse cuidado a extremos poderia nos fazer mergulhar num grande silêncio. E por que supor que todo resenhista é um canalha até que prove o contrário? Seria preferível que, como diz Fulford, parte dessa energia fosse gasta na luta por resenhas melhores.
22 Comentários
Clap, clap clap
Creio que o correto é separar o pessoal do profissionao, sempre. Se o resenhista tem algum problema pessoal com o autor ou autora, melhor ele nem escrever sobre o livro. E se escrever, que seja justo.
Essa preocupação exagerada é típica desses americanos malucos, que só podem ter algum problema sexual. Gente satisfeita de cama não fica inventando essas frescuragens.
Mas que as resenhas que estão publicando no Brasil estão esquisitas estão, claro as honrosas exceções. Vez ou outra leio e é claro que o cara está puxando brasa para a sua sardinha. Sei de autores que são muito competentes em estarem em vários eventos, ou seja, sabem se promover. Claro que a literatura tem de ser no mínimo mediana. E nos bastidores existe QI.
Outro problema é mostrar a obra de literatos ou pensadores. De vez em quando se extrai trechos tolos e fica-se com uma parte da obra do autor, a que o articulista mais gosta. Recentemente li uma autora em duas páginas e só deram atenção ao fato de ela ser homosexual. E a mulher é muito mais do que um gênero. Eu acho esta questão complicada. Já fiz resenha e parei porque queriam que em uma semana eu produzisse um texto de um autor que desconhecia. Impossível avaliar a obra de alguém que não se conhece em uma semana. Acabou em paráfrase. Desisti. Ainda mais com o editor que tinha na época. Jovem Promissor me roubou um título que tinha a ver com o meu texto e botou num texto dele sobre um autor que muito admiro. O texto dele sobre este autor estava uma miséria. Mas o editor era ele. E não passou de um jovem promissor. Hoje nem sei onde se encontra. Talvez fazendo revisão.:)
Clarice, creio que este é um outro problema, e quanto a ele concordo com você. É a lamentável sobreposição do foco sobre o personagem que o autor encena em detrimento dos personagens que ele cria, ou de sua obra…
Clarice, já disse que sou seu fã?
Uma vez o Renato Pompeu fez uma provocação num artigo que publicou numa espécie de autojornal criado por ele mesmo (“Notícias que não foram notícia”), chamado “Troca de favores até na poesia”, sustentando que os grandes poetas modernistas, como Drummond, Mario de Andrade, Bandeira, Murilo Mendes, Vinicius etc., construíram sua fama fazendo um intenso troca-troca de dedicatórias e epígrafes.
E o que dizer, então, de quem usa o espaço que tem em jornais ou revistas ou sites para propagandear seus próprios livros? Eu acho lamentável.
Marcelo, concordo, mas o autor também é importante.
Saint-Clair, é recíproco. Vamos começar a rasgação de seda. Vou lá no teu Blog. O meu eu botei agora. Tem de tudo, até literatura. Mas iniciei agora.
Se o Marcelino Freire lê isso, manda carta enfurecida ao Mário Sabino.
Clarise, Saint Claire, também amo vocês. E mais quem quiser fazer uma troca de elogios literários. Viva o compadrio brasileiro!
Poderiam chamar a panelinha de “Confraria do tapinha nas costas”…
Flávio,
Você também está convidado. Visitei o teu blog. Tá meio desatualizado e tome cuidado pois a edição está aberta.
Já até comecei a comemorar esta festa literária, estou meio grog, mas convido a todos a virem pro meu blog. Não resisti em fazer estes versos, Lispector. Chamo-a pelo sobrenome pois sou mascarado, max factor. Mas o que quero mesmo é quebrar todas as formalidades, Clarice. Deixar de lado o patronímico, chamá-la pelo nome, minha vice, e sermos presidentes de uma Academia, e deste modo, bela mia, escrever por patrocínio.
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