“Estes são os autores americanos mais importantes de todos os tempos”, proclamou há alguns Natais a revista francesa Lire: “Raymond Chandler, Faulkner, John Fante”. Há poucas semanas, Michel Tournier (que não tinha até agora reputação de idiota) elegeu como livro do ano em The Times Literary Supplement o novo romance de Amèlie Nothomb, Ni d’Eve ni d’Adam, que já havia proposto, naturalmente sem sucesso, para o Prêmio Goncourt. Em certo jornal italiano, um célebre crítico de cujo nome não quero me lembrar coroou como melhor livro de 2007 a obra completa de Dario Fo, “o Shakespeare do século 20”, juízo que, se exato, faria de Shakespeare o Dario Fo do século 17. “Sobre gostos não há nada escrito”, escreveu alguém que nunca abriu um suplemento literário.
Oscar Wilde argumentou que fazer listas do que se deve ler é uma tarefa inútil ou perniciosa, uma vez que um autêntico apreço pela literatura é sempre questão de temperamento e não pode ser ensinado. Propôs, em vez disso, listas do que não se deve ler: as obras teatrais de Voltaire, a Inglaterra de Hume, a História da filosofia de Lewes… Seguindo seu exemplo, Mark Twain opinou que a melhor forma de começar uma biblioteca é evitar os romances de Jane Austen. Prevenir, dizem, é melhor que remediar. Será que nossos suplementos literários se atreverão a alternativas tão ousadas?
Alberto Manguel apronta uma saudável e bem-humorada zoeira com as onipresentes listas de “melhores livros do ano” no Babelia de hoje, retratando os críticos como pequenos Noés que, diante do dilúvio de esquecimento prometido por um novo ano apinhado de lançamentos, lutam para salvar em suas frágeis arcas de papel um certo número de animais prediletos.
O melhor de tudo é que, para provar que essas instituições da imprensa literária, mesmo furadas em princípio e desde sempre, continuam sendo irresistíveis, o mesmo suplemento do “El País” que as critica traz a sua, com os dez livros mais importantes lançados na Espanha em 2007.
5 Comentários
Listas não digo, mas algumas dicas são importantes:
Nunca, jamais livros que constem de “os mais lidos” nas revistas e jornais.
Nunca, sob nenhuma hipótese, justificativa, circunstância ou forma de tortura, “livros” do paulo coelho.
Nenhum livro destes autores “da moda”. Estes que vem lá do Kafiriquistão, Estrovênia e outros confins.
Jamais livros destes sujeitos que são alçados à órbita de “filósofos” ( seja lá o que isso for…) e que no mês que vem ninguem mais sabe quem são…
Nenhum livro que seja considerado “visceral” por críticos decentes ( sim, existem uns pouquíssimos críticos decentes). Este adjetivo – “visceral” – significa que o sujeito escreveu alguma coisa que só ele e uns poucos iniciados vão entender ou então que o contrato com a editora tava acabando e ele escreveu qualquer coisa, só para não devolver o adiantamento…
E olha que em 2007 não saiu nenhum Pipoqueiro de Cabul… ou saiu?
Eric, saiu sim, viu? hehe É esse tipo de livro que sustenta o mercado, dizem. Então, é até bom que saiam mesmo. Brancaleone, eu também pensava assim, mas às vezes dá pra achar coisa boa na lista de mais vendidos. Se não me engano, Orhan Pamuk já esteve presente nela, há alguns meses. E recentemente li um excelente livro, best-seller do NY Times: “O menino do pijama listrado”, de John Boyne. Vai virar filme, inclusive. Nessas listas de mais vendidos., 90% é coisa de qualidade duvidosa, mas dá pra achar coisa boa. Sérgio, eu pensei em fazer uma lista de piores, mas ainda bem que não cheguei a ler tanta coisa ruim assim. Sobre os melhores, o “As horas podres” me surpreendeu bastante. Não sei se valeria estar entre os melhores, não parei pra pensar nisso. Mas fiquei muito surpreso com o livro, e gostei muito. Abraços!
Rafael,
Quem é o autor?
Deise, o Rafael está falando do livro de Jerônimo Teixeira. Um abraço.