Virou caso de polícia a filmagem, em Londres, do longa-metragem “Brick Lane”, baseado no livro homônimo da princesa do multiculturalismo inglês Monica Ali (leia aqui nota publicada no Todoprosa sobre o último livro da autora). A comunidade bengalesa que Monica Ali retrata no livro – e à qual ela pertence – está revoltada com o que alega ser um retrato preconceituoso e estereotipado de sua gente.
Os protestos ganharam tal vulto que a produtora cancelou as filmagens em locações na região bengalesa de Londres, seguindo o conselho da polícia. Não bastou. Está prevista para domingo uma passeata em que exemplares do livro serão queimados. “Ela tem direito à liberdade de expressão, nós temos o direito de queimar livros”, declarou Abdus Salique, líder de uma certa “Campanha contra o filme Brick Lane de Monica Ali”. O movimento reúne centenas de pessoas e foi lançado oficialmente ontem, segundo reportagem (em inglês) do “Guardian”.
Uma manifestação de trogloditismo? Claro que é. Mas é comovente também. Quer dizer que a ficção, tratada como uma excentricidade cada vez mais irrelevante em termos sociais, ainda é capaz de provocar toda essa mobilização em algum lugar do mundo? Bom saber que o papel não está restrito a cartuns dinamarqueses.
9 Comentários
saboroso, delicioso o trecho final da matéria… Sartre continua vivo: o inferno é o outro (que nos mostra quem somos).
Welcome to hell…
Poxa, estranho. Também fiquei feliz com isso. E gostei mais da resposta do figura: ela TEM DIREITO A LIBERDADE DE EXPRESSÃO, nós temos o direito de queimar livros”. Vá lá..não sou a favor de queimar livros (bem..há alguns..) mas é melhor do que queimar livrarias ou bibliotecas..ou seus escritores..
abrs,
Não há discurso capaz de tornar palatável o ato de queimar livros.
“Em qualquer lugar que se queimem livros, mais cedo ou mais tarde se queimarão homens.” A frase é de Heine, que teve seus livros queimados pelos nazistas.
Sou contra, evidentemente, o ato de queimar livros; todos os ditadores, sempre que puderam, fizeram suas fogueirinhas. Mas, no caso, os queimadores não estavam queimando livros; estavam queimando vários exemplares de um mesmo livro.
A autora agradece, pois cada exemplar queimado foi comprado em uma livraria e ela receberá direitos autorais.
Prq ninguém se importou enquanto o livro era apenas um livro?
Filmes são perigosos…
acho que poderia se queimar muitos livros, limpar de vez por todas as grande bibliotecas de lixos comercialóides, obras nascidas do capitalismo vicejante e “paramilitante” de algumas editoras.
com muitos eu quero dizer não milhares, mas talvez milhões de livros; suas bilhões de páginas alçando vôo com as fagulhas da enorme fogueira. …fabuloso.
magnífico! o que o tempo levaria centenas de anos para fazer, resolvido em poucas horas.
imaginem: uma grande fornalha estatal. com a cabeça de Baal, e no ventre trazendo a bocarra aberta e vaporante. Lá dentro, só alguns vagos gemidos retorcidos e enfim:o crepitar silencioso e totalitário.
para começar, que tal um novo Index? vou propor a algum político demente, desses corrompíveis. não deve ser difícil de achar.
– Queimar, queimar! Fogo neles! aargh…
(e esfregando as mãos, doidivanas:)
– Ardam, blasfêmias e heresias!
(no fim do ato eu me atiro junto. cai o pano)
FIM
que idiotice queimar livros, podemos sempre só ler os bons livros sem termos de queimar os maus…mas definitivamente nao devemos queimar os de Monica Ali. ela é fantástica – adorei o Alentejo Blue