Outra questão que eu acho muito grave é que os cursos de Letras rejeitam a Literatura e rejeitam aquele que faz literatura. Mais facilmente um autor sai de qualquer outro curso do que de um curso de Letras. O estudo de literatura é absolutamente culpado pela esterilização da literatura, pela incompetência do autor literário e inclusive pelo leitor e pelo mercado. A verdade é que é muito difícil um jovem interessado em literatura passar num vestibular para Letras e sair dali gostando de literatura. Isso é o que eu acho mais lastimável entre nós. Essa realmente é a nossa grande falência.
As palavras de Beatriz Rezende, crítica literária formada e ainda abrigada na universidade (é coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro), não trazem novidade para quem tem alguma vivência nesse campo, mas são marcantes pela contundência e pela clareza com que expressam um fenômeno esquisito que parece exclusivo das letras: não consta que cursos de teatro, cinema, arquitetura, artes visuais ou dança fomentem de forma sistemática o desprezo por seu objeto de estudo.
(É isso mesmo, aspirantes a letrados de todo o Brasil: na hora de escolher um curso universitário, talvez não seja má ideia ceder àquela pressão familiar por medicina ou direito, afinal.)
O tal desprezo, curiosamente, foi o pano de fundo do próprio debate sobre literatura contemporânea promovido entre Beatriz Rezende e Alcir Pécora pelo blog do Instituto Moreira Salles e pela revista “serrote”, com mediação do editor Paulo Roberto Pires (a conversa inteira, dividida em quatro vídeos, pode ser conferida aqui).
Pécora foi o responsável pelo momento mais midiático do debate ao dizer que a literatura se tornou o campo “das tias” – referindo-se ao clima de compadrio instaurado pela turma de escritores paulistanos conhecida como “Geração 90”, no vácuo deixado por uma crítica anêmica e um público leitor ausente. O que, como frase de efeito, é vagamente divertido, mas tem sabor de anteontem.
Se a literatura é uma arte esgotada, se nada de real interesse estético poderá jamais voltar a sair daí no Brasil e no mundo, como insiste Pécora, será preciso ir muito além das “provas” de decadência que ele cita: Paul Auster (!) e Bernhard Schlink (!!!!!). E também demonstrar o que há de especificamente literário numa perda generalizada de peso cultural que, tudo indica, leva todas as sete artes a se defrontarem com algum tipo de crise neste início de século.
A tarefa é monumental, mas não impossível, e talhada para o perfil de um intelectual acadêmico sério. Até lá, o niilismo literário difuso do estudioso de Hilda Hilst e Roberto Piva – “do que eu vejo no Brasil, acho tudo muito ruim, muito irrelevante” – soa apenas como desistência, nojinho ou má vontade. Exatamente aquilo cuja gênese sua colega de debate teve a coragem de situar na estufa da universidade.
O pior é saber que Pécora ainda é um dos poucos acadêmicos que se dispõem a conversar, pela imprensa, com o público situado fora da estufa. Pode-se imaginar o resto.
Frouxa e exasperante como debate intelectual, a conversa promovida pelo blog do IMS tem o mérito de confirmar que a literatura brasileira contemporânea é um bebê abandonado numa encruzilhada. São apenas dois os caminhos à sua frente: construir-se aos olhos do público ao mesmo tempo que constrói um discurso crítico para se autolegitimar; ou o suicídio.
64 Comentários
Este tal de “que” ou por que ou porque ou porqué ou “ké” ou “ki” dito ou escrito pela Iluminada fica coberta de razão em suas próprias palavras, a falada ou escrita: “… A verdade é que é…”, ou seja, a palavra “que” substitui substantivo, adjetivo, pronome, interjeição, aposto etc. e etc. se o Nosso Idioma, este possui tantos recursos linguisticos, palavras, não há a mínima necessidade de se usar “que!” ou “oh!”, melhor irmos à morfologia usando as palavras e seus significados próprios.
Tem Razão, cursar Letras é um suicídio…
Em vez de falar das ideias, do conteúdo, discute-se da forma da fulana se expressar (sendo que ela está falando, meio comunicativo mais informal, de improviso), que não abarca todos os recursos linguísticos do idioma.
Ler comentários de blog é realmente um suicídio, às vezes…
Como assim? Estou terminando Ciências da Computação mas não pretendo exercer nenhum emprego relacionado a essa área. Pretendo, isso sim, cursar Letras, já que adoro literatura, e seguir carreira, fazendo doutorado e tornando-me professor universitário. Escrevo bem esporadicamente, e não sei se quero ser escritor. Entretanto leio avidamente, inclusive livros de análise e crítica literárias. Estaria eu então fazendo mal em cursar Letras e seguir a carreira acadêmica?
Acho que a Beatriz tem (em parte) razão. Lembro-me do Gustavo Bernardo – professor de Teoria da Literatura e escritor – dizendo um dia: “Uma faculdade de Letras é o pior lugar para alguém que escreve estar. Isto porque passamos [ele se referia aos alunos, mas, claro, também se aplicava ao seu próprio caso] o tempo todo trabalhando em cima das obras dos outros. Não temos tempo para as nossas”.
Entrei para Letras já sabendo escrever, então, neste caso, não fui particularmente afetado por ficar só analisando obras dos outros. Mas não recomendo a ninguém manter a doce ilusão de que se vira escritor fazendo Letras. Vira-se professor, crítico, mas escritor não. Ainda bem que nunca tive essa ilusão. Quis fazer Letras porque gosto imensamente de Teoria da Literatura, e foi só esse o motivo que me impeliu a entrar no Instituto de Letras da Uerj.
Sobre o clima de “comadres” dos escritores paulista(no)s: é a mais pura verdade. A Ivana Arruda Leite o assumiu publicamente hoje, em seu blog. Mas isso não quer dizer que seja ruim.
Só pra finalizar: ter cursado Letras me ensinou mais sobre Psicologia do que sobre Literatura. O Instituto de Letras da Uerj é praticamente um hospício de portas abertas. Alunos loucos e muitos, muitíssimos professores idem. Gente profundamente neurótica com uma sensação absurda (e enganosa) de tremenda importância e poder. Gostei muito de ter estudado lá, foi muito interessante confirmar o que já intuía: não importa a classe social, a formação intelectual e o quanto você tem na sua conta no banco. O ser humano é ridículo e risível, mesmo tendo PhD em Harvard. Acreditem, fui profundamente libertador ter assistido àquele teatro todo.
Não é exclusividade do curso de Letras… Todos os cursos superiores do Brasil produzem esse mesmo efeito.
O problema maior ultimamente, principalmente na área de magistério, é o excesso de teoria. O pragmatismo foi invadido por teorias furadas. Chega-se a um ponto que disciplinas como estilística e semântica são renegadas a segundo plano. Por tudo isso, forma-se o aluno de Letras totalmente incapaz de decifrar o mais simples texto. Penetrar, compreender e gostar da poesia hermética de João Cabral de Melo Neto torná-se uma atividade quase impossível.
O problema sem dúvida é um só: falta de rigor. Em todas as sete artes o que se percebe é isso: artistas jogam com a sorte, traçam uma linha qualquer e ‘decidem’ que aquilo é genial. A raiz disso está submersa em um distante século 20 e os motivos são diversos: “marxilização” das artes, hormônios em substituição dos neurônios (consequência da Pop Art e da tal ‘revolução’ de 1968), excesso de informação circulante, acomodação derivada do avanço tecnológico. Etc. Etc. Etc. Os motivos são diversos, mas eles se traduzem em um único problema: a falta de rigor na hora de conceber o objeto artístico. Ninguém quer fazer como Bruno Tolentino, por exemplo, seguir as rígidas regras do soneto. Todos querem inovação, mas isso é apenas um embuste: inovação, nesse caso, é sinônimo de uma liberdade niilista onde a primeira vítima é a técnica. Daí que se queira celebrar qualquer traço, qualquer verso surgido de uma viagem regada a LSD ou haxixe. Na música, o Punk rock ‘institucionalizou’ esse processo. Todos querem ser James Joyce: a liberdade que ele propôs é tão fácil! Até a pontuação pode ser dispensada. (Sequer essa gente chega a ler Ulisses, para vir a saber que o livro, a despeito da liberdade radical, segue uma estrutura rígida em paralelo com os episódios da Odisséia.)
O poço – e consequentemente seu fundo – nos foi roubado no segundo capitulo: uns 50 anos passados. Quem ainda acha que milita escrevendo já não sabe pra quem , em nome de que ou mesmo (e isso é lamentável) se realmente milita. Em algum lugar, os que escrevem chegarão a curiosa conclusão que não suportam mais ler (o que escrevem) o que se publica. Cadeado na porta dos cursos de Letras.
Curso letras e não concordo! O curso está repleto de apaixonados por literatura e os professores incentivam esta paixão. Além disso, a literatura é nosso ‘gás’, por assim dizer. É o que nos movimenta e o que estudamos. Garanto-lhes que um bom curso de letras não fará ninguém odiar a literatura.
Estive na Faculdade de Letras da UFRJ, por 3 períodos. Já tinha feito Comunicação. Não consegui concluir por impossibilidade de horário mas achei as aulas chatíssimas, tive que estudar um capítulo inteiro sobre o trema! O que eu gostava mesmo era do laboratório de francês e de um piano que ficava na entrada da faculdade,tinha sempre um aluno de italiano tocando e cantando aquelas músicas maravilhosas …
Complementando: em compensação tive uma aula maravilhosa sobre a poesia que é a letra de “Roda Viva” , foi uma aula inesquecível!
“O que eu gostava mesmo era do laboratório de francês e de um piano que ficava na entrada da faculdade,tinha sempre um aluno de italiano tocando e cantando aquelas músicas maravilhosas”. Se os alunos fazem o curso, imagine a qualidade do curso.
Também curso Letras e não concordo. Tenho professores ótimos que a todo momento incentivam a leitura.
Fugi da Faculdade de Letras como o diabo da cruz. Diziam tanta besteira de lá que acabei com vergonha de prestar. Fui acabar em Publicidade porque a minha vontade de escrever era imperativa e eu tinha que ganhar a vida. Apesar de ser bem mais competitiva que a Faculdade de Letras, a Publicidade, no seu auge, acabou me deixando com grandes lacunas intelectuais na minha formação.
Tempos depois, já redator senior, me atrevi a um mestrado em Santa Catarina nos estudos culturais da Universidade Federal de lá. Nâo passei, é lógico, porque não se exigia apenas criatividade mas cultura literária, que eu não tinha muita, é evidente, por isso só me restou lamentar mais uma vez a chance perdida de uma base mais sistemática e ampla para a tão sonhada carreira de escritor, de intelectual.
Apesar de tudo, no entanto, a única coisa que torna um escritor, escritor, vim a aprender muitos anos depois, já na prática da escrita profissional, é o hábito, o compromisso diário com a máquina, a caneta, o papel. Conheci alguns escritores famosos – minha família sempre teve um certo acesso a artistas – e desse universo todo o que apreendi foi uma coisa só: artista nenhum nasce pronto. Gênios morreram na praia pela mais absoluta falta de uma coisa chamada disciplina, e outros, os tais medíocres, triunfaram muitas vezes justamente por causa dela. Acho que no final a gente sempre acaba tendo que escolher entre uma coisa e outra. Ser gênio, ou ser um mortal dedicado! Prefiro a segunda opção, e se acontecer é óbvio…
Li algo parecido há mais ou menos um mes atras. Letras… só na faculdade da minha vivencia, me dando o canudo que o leitor do meu porta a porta me proporcionar; ou então se eu puder usá-las na montagem que melhor me aprouver ou montá-las como a um Corcel que galopa ao meu bel prazer!
Achei lamentável o título desta matéria!
Esta matéria nivela a questão por baixo! Há um problema grave a ser debatido sobre a Educação e, consequentemente, a Literatura.
Um texto cheio de preconceitos e senso comum que não gera nenhuma reflexão…
Me faço presente como mais um universitário de letras (literaturas, especificamente). Acho sim que esse posicionamento tem razão de ser, mas não da forma autoritarista e generalizada como foi aqui apontado.
O problema, a meu ver, é mais relacionado a um academicismo excessivo que leva a um preconceito extremo em relação a grande parte da produção literária comtemporânea, restringindo drasticamente a quantidade de obras consideradas “boa literatura”. Em suma, não se trata da negação desta, mas a idealização da mesma, que, naturalmente, poucas obras vão alcançar.
Dizer que se aprende a odiar a literatura na universidade é simplesmente um exagero. Este tecnicismo excessivo é tudo que posso lamentar, mas é uma essência humana, contudo (ou vai dizer que, se você reparou, não torceu o nariz por um estudante de letras iniciar uma frase com pronome oblíquo?).
Uma discussão vinculada a esta e que eu julgaria mais interessante seria o fato de faculdades de letras formar teóricos, críticos e as demais relacionadas a artes formar sobretudo praticantes (cineastas, pintores, designers). Sei da existência de cursos superiores de formação de escritores, mas são poucos e repare que a área de letras é a única dentre as citadas que precisa de um curso específico para praticantes. Se a criação literária tivesse mais relevância a nível superior, talvez esta paixão pelas letras fosse mais facilmente desenvolvida.
PS: Visando modificar esse quadro, “ceder àquela pressão familiar por medicina ou direito, afinal”, continua me parecendo a pior decisão possível. Péssimo conselho.
Para que literatura se hoje o que se valoriza é a TV e principalmente a internet?
O público-alvo no geral tende a fazer outras escolhas, preferindo a informação fugaz das revistas, o som pasteurizado da “pop music”, o circo midiático da TV ou as trollagens das redes sociais a uma leitura de um livro tido por literário.
Esse é o fato e algumas ovelhas desgarradas não mudam isso.
Cursei Letras e não concordo. Sempre amei Literatura e lá passei a amar ainda mais essa arte.
Talvez o problema resida na decadência do Ensino como um todo. Lamentável, mas é a realidade nua e crua da Educação no Brasil.
Sou autor jovem, estou escrevendo meu segundo livro e até hoje não tive oportunidade de reconhecerem meu potencial. @autorcarlos
Eu estudo Letras e não concordo! Pode não ser minha disciplina favorita, mas é extremamente facinante…eu gosto de Literatura!
Sou graduada em letras pela UFC e confesso q fiquei desestimulada com algumas aulas de literatura,imaginem ouvir a/o prof.lendo Camoes a aula toda,sem entonação,pausas…todos dormiam. Mas tive uma profa inesquecível,vou aproveitar e homenageá-la aqui-profa Odalice de Castro, sempre nos convidando a ler as bibliografias básicas-assim ela chamava sua lista imensa de indicação de leituras. Além dela tb tive o prof José Linhares,outro grande mestre…enfim,uma andorinha só não faz verão. Universidade,profs e alunos são responsáveis por esse marasmo.
Não é bem por aí não, me formei em Letras há algumas semanas e não vi nem vejo essa “tendência” dominado os corredores e salas de aula. Pretendo seguir na área e não me arrependi da escolha que fiz, talvez o necessário, neste caso, seja que se trace um panorama menos generalizante. Abraços.
Não é bem por aí não, me formei em Letras há algumas semanas e não vi nem vejo essa “tendência” dominando os corredores e salas de aula. Pretendo seguir na área e não me arrependi da escolha que fiz, talvez o necessário, neste caso, seja que se trace um panorama menos generalizante. Abraços.
Podemos deixar Hilda Hilst e Roberto Piva fora disso?
Faço curso de letras, optei pelo curso nao pela literatura , mas discordo de algumas coisas , mas todos temos liberdade de expressão. Estou achando literatura dificil, mas o professor é muito bom , conheco outros otimos que me fizeram ter outra visão sobre o assunto, porém interpretação de poemas gosto muito.
Quando alguem gosta de algo tem que lutar com garra, pois nada nesta vida é fácil.
Olá, quanto à rejeição da literatura por parte dos que fazem letras eu não posso opinar, mas em relação a sociedade como um todo, esta é uma questão que deve ser ressaltada.
Vivemos numa sociedade no qual o contato com a literatura se dá apenas na preparação para o vestibular. Pois hoje as pessoas estão cada vez mais egoístas e só querem saber de livros de auto-ajuda que tratam de superação de traumas e de problemas de relacionamento. E como se não bastasse, nas universidades o que se prega é a formação de profissionais que estejam prontos para encarar o mercado de trabalho, esquecendo-se de formar sábios, pensadores, pessoas de conhecimento.
Estamos numa fase onde as pessoas só passam horas escrevendo e lendo bobagens em blogs, redes sociais e e não tiram um momento que seja para uma boa leitura.
Hoje se lê com frequência blogs de pessoas descrevendo suas viajens, comentando sobre seus artistas predilétos de novelas e filmes, ou ainda as revistas sobre futebol e moda. Tudo isso, junto ao vocabulário medíocre de pessoas desprovidas de conhecimento e repertório cultural, colaboram para a escasses da literatura. Sem contar com o funk, que na minha opinião expressa a realidade da juventude de hoje, uma juventude vazia, sem escrúpulos, promíscua, que experimenta a falência da moral, da sexualidade e da consciência política.
Enfim, faço publicidade e causei espanto ao fazer referência “Fabiano” de “vidas Secas” de Graciliano Ramos. Acredito que hoje é mais fácil falar do humorista “x” e “y”.
E cuidado para não serem agredidos ao falar de Kafka, pois podem confundir o nome do autor de metamorfose com uma bactéria.
Boas leituras e “vamos ao teatro…”
Eu concordo plenamente com as opiniões de Beatriz Rezende, cujos livros e artigos li e apreciei muito.
Primeiro, a crítica literária é bem clara ao mencionar que quem tem aspirações a escritor literário não vai realizar ou aprimorar sua vocação fazendo o curso de Letras. Basta comparar os grandes nomes do cânon clássico e contemporâneo para observar que eles saem de diferentes formações e áreas, mas não da Letras. Esse curso forma críticos literários. Quando forma, e SE acaso forma, diga-se. Pois quase 100% das faculdades (particulares, especialmente) possui apenas a licenciatura (formação de professores); nas que oferecem o bacharelado, o aluno escolhe Linguística, Tradução ou Literatura.
Excetuando-se alguns poucos nomes, quase todos os meus professores do mestrado e agora doutorado faziam o que o protagonista de Sociedade dos Poetas Mortos condena: dissecar a Literatura, em vez de a fazer apreciada. Como apreciar o texto literário quando se estudam diversas teorias sobre ele, obrigando a ler de 10 a 15 livros literários por semestre em cada disciplina, mas sem ler sequer um trecho da obra indicada durante a aula?
Finalmente, sejamos francos: o nível da quase totalidade dos alunos que ingressam no curso de Letras (sou formado em Jornalismo), é baixíssimo. E eu digo isso por experiência, tendo assistido a aulas na Letras desde a minha graduação e convivido com formados na área nos 5 anos em que fui professor de Literatura em colégios particulares. A maioria o escolhe apenas pela baixa concorrência em relação aos outros, metade não tem vocação nenhuma para o magistério, poucos têm uma uma cultura geral mediana, raros leram uma peça de teatro além de romance e poesia. E sendo otimista, um terço dos formados em Letras saem do curso com seriíssimas deficiências em seus conhecimentos de Literatura.
Não se esqueçam que Fernando Pessoa abandonou o curso de Letras…
Acho lamentável as declarações de Beatriz, por serem generalizantes e injustas. Para ser sincera, como Coordenadora de um Fórum de Cultura, ela deveria saber que dizer tais afirmações são ótimas para arrancar aplausos de plateias estupefatas, mas péssimas para fortalecer iniciativas de Cultura, como um todo. Acho que ela deveria falar por si só, ou melhor, calar-se. São essas ‘besteirinhas de salão’ disseminadas por aí que fazem com que o Centro de Letras e Artes da UFRJ, por exemplo, tenha sempre de brigar por mais respeito, apoio e verbas frente à lógica burguesa de fomentar as áreas tecnológicas. Contudo, se essa senhora sabe como fazer melhor, talvez fosse bom que ela saísse do palco e viesse até onde nós, pobres mortais, mais precisamos: a sala de aula.
Caros, Concordo com comentários anteriores, é lastimável ler esse artigo. Sou aluna de Letras, me formei na Universidade Federal da Bahia, onde o meu amor pela literatura foi infinitamente ampliado. Atualmente encontro-me na USP, como aluna do mestrado em Teoria da Literatura e até compreendo as razões pelas quais surgem afirmações como essas, mas não posso lê-las sem comentá-las. O universo academicista realmente apresenta diversas carência e age como se a Literatura dependesse deles para existir, a Literatura é a arte da palavra, qualquer ser humano dotado de um “dom” no trato com a linguagem poderá produzir literatura. Como uma amiga afirmou, a Academia existiria sem João Guimarães Rosa, mas a Literatura não seria a mesma sem ele. Enfim, aos que amam a Literatura cursem sim Letras e acreditem que poderão mudar o que há de equivocado no posicionamento acadêmico. Em relação aos leitores, no Brasil padecemos de questões que realmente nos levam a uma certa falência da leitura. Não me parece que um simples debate sobre a Literatura dará conta de problemas educacionais,da falta de um verdadeiro incentivo à leitura, e de questões referentes ao mercado editorial, preços e tudo o que está relacionado a isto. Com relação a estarmos num momento de não produção, ou de silêncio Literário, por assim dizer, não concordo também. Há de se observar outros suportes literários que não so mais o livro tal como o conhecemos, deixemos o arcaico de lado, mesmo que seja ele, o livro, um objeto de desejo, quase que uma extensão de meu corpo enquanto leitora apaixonada, e olhemos para as produções de blogs. Há uma infinidade de pessoas produzindo literatura na internet, este espaço de igual infinitas possibilidades. Posso estar sendo engênua, mas além disso tudo, penso que não precisaríamos de um novo “movimento literário” se é isso que os críticos esperam de nós, alunos e ex alunos de Letras, mas que deveríamos voltar nossos olhares para velhos conhecidos, não tão conhecidos assim, como o surrealismo, e compreendermos que a continuidade, sob novos moldes, métodos, ou formas, pode ser algo também inovador e valioso no sentido literario. Há um estado de espírito proposto pelo surrealismo ainda não alcançado por nós, Literatura Brasileira, por que então deveríamos esatr criando novos planos Literários? Para além disso, defendo uma liberdade total da Literatura em relação aos moldes e enquadramentos escolares que lhe damos, dessa forma, não seria preciso identificar novos conjuntos de características, mas posturas diferenciadas e linguagens que rompem com o cotidiano, nos levando a alçar novos vôos literários. Não sei se me fiz clara, no calor da emoção escrevi o que sinto pela literatura. E minha paixão não me permite calar diante de afirmações tão perigosas. A Literatura não está abandonada, exatamente por esta razão estamos aqui discutindo-a! Ela está viva! Não em razão da Universidade, mas porque ela é realmente um organismo vivo. A universidade é que vive às suas custas… Ah!!! E por falar em Robero Piva, temos sim, pelo menos um grande escritor, vivo, agitador de movimentos pela literatura, teórico e acadêmico, sempre disposto ao debate; o surrealista Claudio Willer!
Leiam! Amem a literatura e estudem se for o desejo!
Atualmente sou aluna do Curso De Letras.O que levou-me a prestar vestibular para este curso foi a LITERATURA.E até então, o curso corresponde as minhas espectativas em relação ao estudo literario. Cada vez mais me apaixono pela Literatura em todos os seus aspectos.
Se o curso “não forma” escritores como se afirma acima é porque necessita-se de um Dom nato,afinal nem todos nascem com o dote para escrita,uns somente nascem para apreciar esta Arte.
Nem todos os criticos e coordenadores, seja lá do que for, que estiverem atrelados a tais artes são “felizes” nos seus questionamentos. Toda teoria está sujeita as “margens de erro”. Não será esta “acima” as margens?
Prezados amigos, saudações.
Concordo com o comentário de Leticia Gomes Montenegro.
Fiz o curso de Letras e sai dele com uma gama enorme de conhecimentos literários e um “apetite voraz” para continuar “devorando” livros.
Além disso, ganhei confiança para fazer das palavras um jogo muito divertido e instrutivo…junto palavras e exponho sentimentos e pensamentos.
Existem os eternos, imortais e fabulosos autores consagrados…e existem os novos, os que fazem uso da sua sensibilidade e conhecimento para fazer da Literarura uma arte viva. Muito viva mesmo pois como diz a Letícia: “A Literatura não está abandonada, exatamente por esta razão estamos aqui discutindo-a!”
Saudações literárias.
O Todoprosa precisava mesmo uma postagem polêmica. As coisas andavam meio paradas por aqui.
Rapá, isso aqui tá mais animado que o “desentendimento” do Pécora (um espcialista em Vieira discutindo literatura contemporânea!?) com a Beatriz (que até tentou puxar alguma polêmica, mas com luvas de pelica…). Discussão sem graça, improvisada e sem substância e postagem polemiqueira. Assim como a academia é autista e hermética, o jornalismo cultural sempre me pareceu pseudo-crítico, carecendo de argumento embasado e sobrando em lugares-comuns. Tá certo que você, Sérgio, tem que produzir essas postagens pra ganhar seu pão, mas podia passar sem essa. Já fez melhores. Abs
“..é muito difícil um jovem interessado em literatura passar num vestibular para Letras e sair dali gostando de literatura…” Acho que faço parte dessa estatística dos que entram pra um curso de letras amando literatura; minha mãe sempre me incentivou a ter um conhecimento literário, tanto é que terminei a faculdade há 7 anos, estou tentando achar um curso de pós em literatura mas parece que ninguém se interessa pelo cURSO. Vocês conhecem alguma pós em São Paulo sobre Literatura Portuguesa ou Brasileira? Me ajudem!!! EU QUERO VOLTAR A ESTUDAR! Se puderem mandem e-mail para: claudiaramiro@hotmail.com
Links e Notícias da Semana #31
Concordo plenamente com a Beatriz. Sobre isso Sergio, o que tem a dizer sobre o curso de `Estudos Literários` oferecido a Unicamp, a pouco tempo, será que vale a pena? Pelo menos a iniciativa é importante né…
N~ao concordo com a Beatriz. Quando entrei na faculdade de Letras ja’ gostava de literatura e quando me formei, estava mais apaixonada ainda. Pq alguns professores nao sao competentes o bastante nao significa que o problema seja so’ do curso. E’ uma disciplina “dificil”, todavia muito intrigante, prazerosa e linda. E tem varias opcoes de pos na area. Se a intençao dela era causar polemica…foi fraquissima!Tenta outra coisa.
Bem, vejamos…
Nem quando eu contava tenros 18 aninhos – idade com que me inscrevi no vestibular para Letras – acreditava que esse curso tinha como objetivo formar autores. Para mim foi sempre muito claro que cursos de Letras formam professores, críticos, tradutores, revisores e linguistas. Quem procura esse curso com a intenção de se tornar escritor mostra-se, além de mal-informado, pouco inteligente, pois basta pensar em Cervantes, Balzac, Twain e tantos outros para saber que não é preciso estudar literatura para fazer literatura. Particularmente, acredito até que o melhor para quem quer escrever é não estudar literatura. Lembro que quando eu era criança – e já leitorinha voraz – procurava ler na orelha nos livros sobre o autor. Quando era formado em Letras, eu sabia que a história não deveria ser boa. Opinião de criança, sem ranço nenhum, é coisa que se deve levar em conta! A afirmação de Beatriz de que a incompetência do autor literário de hoje é culpa dos cursos de Letras é, portanto, em minha opinião, totalmente descabida.
Em primeiro lugar, não acredito que o autor contemporâneo seja incompetente. Hoje temos Daniel Galera, Carola Saavedra, Carol Bensimon, só para citar os muito jovens – e levando em consideração apenas os brasileiros. Bem, talvez eles não estejam à altura de, sei lá, Graciliano Ramos (porque Guimarães Rosa é covardia!), mas estão à altura do seu tempo.
Em segundo lugar, se há incompetência, a culpa é da pretensão: de ser inovador, de ser grande, de chocar. Talvez todas as experimentações estéticas já tenham sido feitas. Pois que se limitem a contar direito uma boa história. Que construam personagens interessantes, que bolem enredos intrigantes e tragam à tona questões relevantes do nosso tempo – há muitas, já que nosso tempo tem suas singularidades em relação a tempos outros.
Com relação a fomentar sistematicamente o “desprezo pelo seu objeto de estudo”, estranho. Não saí do curso de Letras odiando a Literatura, pelo contrário. Há, sim, aqueles que se formam detestando a Literatura, mas esses nunca gostaram dela. Escolheram Letras por causa das línguas e da Linguística.
O que percebo sim é um preconceito contra a Literatura por parte daqueles que se dedicam à Linguística. Um dia, na Semana de Letras da UFSM (onde me graduei), todas as oficinas relacionadas à Linguística e ao ensino de línguas se deram em salas com ar condicionado, ao passo que as ligadas à Literatura ocorreram em salas sem climatização (conhecem o calor de Santa Maria? Não queiram!). Ao comentar isso com uma das professoras de Inglês (linguista até a raiz dos cabelos), ouvi: “Quem mandou estudar Literatura?” Em outra ocasião, uma professora de Literatura da UFPEL contou ter reclamado ao reitor sobre a falta de verbas a pesquisas nessa área, ao que ele respondeu “Mas afinal para que serve estudar Literatura?” Mas isso é briga interna, ou como diz um professor meu, briga de fundo de quintal.
Por fim, há falhas nos cursos de Letras naquilo a que se propõe: formar professores (e nisso concordo com Beatriz, parte da incompetência dos leitores é responsabilidade dos cursos de Letras, que não formam bons formadores de leitores), principalmente no que tange ao ensino de Literatura – pelo que pude perceber tanto durante minha graduação quanto na vida profissional (já ensinei literatura, língua materna e língua estrangeira), a área de ensino de língua estrangeira é mais organizada e se esforça mais para criar políticas de ensino de língua estrangeira. E tem dado resultado, acredito eu: numa observação totalmente empírica, devo ressaltar, observo muito mais alunos que aprenderam uma língua estrangeira do que alunos que aprenderam a escrever bem em português ou interpretar textos literários – mas aí talvez essa seja uma comparação injusta: que lhes parece, é mais difícil aprender inglês ou interpretar poemas?
Em minha opinião, a primeira coisa que deveriam discutir num curso de formação de professores de Literatura é o ensino de Literatura na escola tal como é feito hoje em dia. Os currículos prescrevem leitura de Os Lusíadas e de O Auto da barca do Inferno no primeiro ano do Ensino Médio. Que adolescente vai gostar de ler tais obras?
Segundo ponto: para que focar tanto nas características da periodização literária? Não que eu considere irrelevante estudar o Romantismo,por exemplo (já que influencia os dias de hoje em diversas esferas), mas o foco deveria ser análise e interpretação de texto. Tanto faz se vou começar por Bocage ou Vinicius. O mais importante é que aquele texto faça sentido para aqueles alunos naquele momento. Certa vez trabalhei com um conto de Guimarães Rosa que abordava o luto. Coincidentemente, uma professora estava se desligando da escola numa situação muito peculiar. Calhou de eu relacionar o luto da personagem com o luto deles, mas foi coincidência. O professor deveria poder escolher o que e quando quer trabalhar com seus alunos segundo as demandas das turmas. Em tempo: os alunos adoraram o conto e a aula.
Terceiro ponto: por que a literatura estudada tem de ser brasileira ou portuguesa? Admirável mundo novo tem muito mais chances de aceitação junto aos adolescentes do que O Guarani. Por que não trabalhar as obras segundo o critério de adequação à faixa etária do aluno?
Para finalizar, acho engraçado quando as pessoas fazem afirmações como “hoje em dia lê-se muito pouco literatura”, “as gerações mais jovens só querem saber e TV e Internet”. Puro romantismo – no sentido literário do termo: idealização do passado. Quando houve época em que os jovens adoravam ler literatura? Meu pai não tinha TV, mas certamente ele arranjava outras coisas para se divertir. Ler literatura foi hábito que adquiriu depois dos 25 anos. Portanto, não nos desesperemos. Literatura nunca foi mesmo uma vedete.
Bom dia ao Sergio e a todos os comentaristas.
Creio que neste caso não existe uma verdade absoluta. Nem ela está completamente certa e nem ele, ambos fundamentam suas opiniões nos extremos, tendendo a uma crítica muito radical.
Se existe um descaso nas universidades – o que não acredito que seja em todas e com todos os acadêmicos – e um vácuo deixado por uma crítica anêmica e um público leitor ausente, eles são apenas um reflexo da PONTA DESTA HISTÓRIA e não DO INÍCIO, como alega a nossa colega no debate em questão.
Mais abaixo um comentarista fez a seguinte pergunta: “Para que literatura se hoje o que se valoriza é a TV e principalmente a internet? O público-alvo no geral tende a fazer outras escolhas, preferindo a informação fugaz das revistas, o som pasteurizado da “pop music”, o circo midiático da TV ou as trollagens das redes sociais a uma leitura de um livro tido por literário. Esse é o fato e algumas ovelhas desgarradas não mudam isso”.
Em parte concordo com ele. O público, principalmente os jovens, quer coisas sintéticas porque na maioria das vezes ainda não amadureceu sua intelectualidade. Mas isso pode mudar se a ponta desta história – que são as editoras – fizer a parte dela. Se não trouxermos o povo para a literatura, ele sozinho não virá. Para isso, é necessário uma renovação de escritores e obras, fato que hoje no nosso mercado é coisa rara.
Repito o problema da literatura não está na origem – nas faculdades-, mas na ponta – nas editoras-, que viciam o mercado com um paradigma antigo (quanto ao novo escritor) utilizado em mercados onde seus CEO,s têm pouca competência. Se houver renovação de escritores, certamente haverá renovação dos leitores, uma coisa é diretamente proporcional a outra.
Acabei de me formar em letras pela Unimontes (Montes Claros – MG) e sou mestrando em Teoria da Literatura na UFMG.Fico indignado com as considerações no mínimo irresponsáveis de quem reclama dos cursos de Letras e nunca de si mesmos. Penso que há uma diferença enorme entre gostar de literatura e gostar de estudar literatura. Querem que seu valor fique restrito ao puro gozo, e não encaram que a leitura de um texto literário requer muita dedicação e muita boa vontade. Reconheço que às vezes não há estímulo diante de algumas questões, tornadas importantes, mas que não não passam de futilidades. Mas, quero que tomemos consciência de que em nada temos a garantia de perfeição. Considero também triste e vergonhável a suspeita lançada sobre o valor do curso de Letras. Extiguiría-mos as faculdades de Letras e ficaríamos apenas em casa, lendo a nosso gosto? Não. Devemos lutar para que o texto literário realmente tenha seu espaço primordial, mas para isso devemos primeiro gostar de mais do curso de Letras para apostarmos tanto em sua sobrevivência. Eu estou disposto a lutar por mais que isso. Estou disposto a lutar por sua vida plena. Afinal, como diz nosso Deleuze: a literatura vai morrer só se for de rir.
Não concordo. Sou formada em Letras, com mestrado em Teoria Literária. Já amava literatura quando adolescente e depois da faculdade passei a gostar mais ainda. Sou professora da rede pública de ensino de SP e há 4 anos só leciono para o Ensino Médio por causa da literatura. Gostar de literatura é uma coisa, ser escritor é outra. E realmente não será o curso de Letras que vai definir um escritor ou não.
Pelo que entendi, a Beatriz quis dizer que os cursos de Letras não têm “revelado” autores. Além disso, li na declaração dela que, aqueles que fazem Letras e gostam de literatura, passam a estudar literatura apenas com fins acadêmicos, ou seja, não leem literatura pelo simples prazer de ler, mas sim pelo prazer de pesquisar e, talvez, amealhar títulos/status acadêmicos. Bom, ao menos foi essa a leitura que fiz. Abandonei o curso de Letras faltando poucas matérias para concluir e tudo o que posso dizer é o seguinte: estão sendo formados professores que mal sabem recitar poemas e não conhecem lhufas de literatura contemporânea. Ou seja: não há nenhuma perspectiva de vermos professores tentando fazer com que seus alunos passem a gostar de ler, mas sim a continuação das leituras obrigatórias de Machado, Alencar, Pompeia e similares.
Os acadêmicos de Letras se acham os donos da literatura assim como os taxistas se acham os donos das ruas.
E assim como os taxistas pensam que ninguém sabe dirigir como eles, os acadêmicos se imaginam os únicos conhecedores dos meandros da língua portuguesa.
Sou estudante de Bacharelado em Letras/Literaturas na Universidade Federal de Santa Catarina e concordo em partes com a Beatriz. De um lado, existe todo o pavor inicial de grande parte dos egressos dos cursos de Letras (especialmente no Bacharelado, onde as leituras são levadas ao nível mais alto, logo nas primeiras semanas). Mas passado isso, as coisas ficam mais calmas. Isso só comprova que o problema está na Educação básica. Os alunos não tem a formação suficiente e chegam no curso de Letras por três motivos básicos e principais: 1) o típico leitor pega-o-que-vier, que na apresentação inicial diz ler de Tolkei a bula de remédio(rs); 2) aquele que não passou em jornalismo, mas adora escrever e “letras pode servir para alguma coisa, afinal”; e os que geralmente tem mais sucesso, 3) chutam o balde e escolhem letras para confrontar o papai advogada e a mãe psicanalista (eu me incluo). De modo geral, estes três perfis dividem-se no curso: os bares são diferentes, os autores são drasticamente diferentes e poucos concluem a graduação. E isto é ótimo!
Um detalhe muito importante: Pensando em Brasil sim, pode-se afirmar que os escritores não saem dos cursos de Letras. Mas pensando em países de Língua Inglesa, a situação muda completamente. Basta pensar em J. M. Coetzee, Philip Roth, David Foster Wallace, Thomas Pynchon, Toni Morrison. O problema está nos Departamentos de Literaturas das Universidades brasileiras e não no curso de Literatura em si!
Não vi a entrevista, mas li o texto e os comentários. Fiz Letras e percebo, sim, uma carência do curso na formação de escritores. É claro que ninguém precisa de faculdade para exercer literatura, mas é fato que passamos todo o tempo do curso estudando a literatura alheia apenas – que é fundamental –, sem que nos seja instigada a produção textual fora da linguagem acadêmica. Eu e muitos de meus colegas escrevemos frequentemente em nossos blogs pessoais, que também julgo serem meios do fazer literário contemporâneo, como muitos defenderam nos comentários anteriores. Sou formada na UERJ, entrei em Letras porque não passei em Jornalismo, comecei amando língua portuguesa e saí com a certeza de que queria estudar literatura (acabei de começar o mestrado em Literatura Portuguesa). Não por decepção com a parte linguística do curso, mas pela descoberta do outro lado. Hoje, gosto dos 3: português, literatura e escrever. Uma das minhas poucas criticas à UERJ – mas, pelo jeito, não é um erro só de lá – é quanto à base que nos oferecem de produção textual: cerca de 2 períodos em que nos treinam (mal) a fazer resumos, resenhas e textos dissertativos nos moldes daqueles que fazíamos à exaustão para passar no vestibular. Simplesmente não basta. A universidade tem força e autonomia suficientes para organizar concursos literários, jornais de poesias, saraus etc. Embora esses eventos sejam lotados de exibicionistas, qualquer estímulo é válido, acredito. Quando eles ocorrem, é por iniciativa de professores solitários, e, na maioria das vezes, dos próprios alunos, e têm pouquíssimo ou nenhum incentivo e apoio (financeiro, inclusive) da instituição.
Em resumo, discordo de que a faculdade de Letras nos leve a odiar a Literatura, isso é uma grande besteira. Mas não entrem nela achando que terão respaldo universitário para se tornarem escritores.
Os comentário dos estudantes de Letras falam por si. Enquanto ex-aluno de jornalismo e frequentador de aulas do curso de Letras na UnB, dou meu depoimento: a impressão que os colegas do curso me deixaram é que não gostavam de literatura. Não gostavam nem de ler, raras exceções.
Sobre Pécora: acho inevitável essa ideia de que a literatura acabou. Inevitável, permamente e antiga.
Quem foi que disse que os cursos de letras têm o dever de fazer seus alunos gostarem de literatura, formar escritores literários? uma coisa não tem nada a ver com a outra! O curso de letras ensina gramática, didática, linguística e historia da literatura; forma professores, não poetas.
Gostar ou não de ler e escrever é característica de cada um, e isso independe da área de estudo.
Acho complicado dizer que o curso de Letras faz alguém odiar literatura… além do exemplo pessoal, conheço muita gente que se apaixonou por Literatura durante o curso de Letras! O que mais me incomoda, sinceramente, no curso de Letras, é uma visão elitista e conservadora, que não ajuda a formar PROFESSORES! Pois a maioria dos seus alunos vai para a sala de aula e não para as prateleiras de livrarias!Todo e qualquer projeto que tenta aproximar a teoria à prática de sala de aula é mal visto na academia. Pelo menos na visão de alguns professores e alguns programas de pós-graduação. Quando num evento literário eu perguntei sobre isso a Silviano Santiago, que, além de escritor e crítico literário conceituadíssimo, foi professor de grandes universidades brasileiras e no exterior… ele respondeu que a grade curricular de um curso de Letras deve mesmo se voltar para a teoria, pois a formação de professores deveria ser destinada ao ensino técnico… sinceramente, discordo! Ninguém decide ser professor no Ensino Médio… afinal quem não sonha com um salário mais digno? Acredito eu que as Universidades de Letras, que se propõem a formar pensadores na área devem também se preocupar com a formação do professor que ensinará literatura nos colégios Brasil afora, assim, o Lobato e qualquer outro escritor poderá ser trabalhado em sala de aula e a literatura não precisará esperar a Universidade para ser gostada ou não!
Discordo infinitamente!!! Estou no último semestre do curso de Letras da Universidade de São Paulo e simplesmente gosto a cada dia mais do que estudo! Antes de fazer letras eu só gostava de literatura fantástica, clássica e uma ou outra coisa e tinha muito preconceito com literatura nacional; hoje, estudo já há quatro anos o simbolismo brasileiro e português e estou pleiteando uma vaga de mestrado em literatura portuguesa. Fazer Letras abriu meus horizontes e me fez gostar de coisas que jamais imaginei ler um dia por vontade própria, como Bandeira e Clarice! E, além disso, fez com que eu tivesse ainda mais vontade de escrever, o que, embora sempre tenha feito, tornou-se algo muito mais frequente e consciente… O curso de Letras é muito bom, o que atrapalha é a quantidade imensa de alunos que simplesmente não sabem o motivo de estarem cursando Letras.
Acho realmente muito difícil o curso desmotivar alguém que, realmente, goste de literatura e faça letras por gosto e como primeira opção.
Eu recomendo a todos os jovens leitores e escritores que conheço que façam um bom curso de letras, duvido que vão se arrepender.
Bruno.
http://cerebro-casa.blogspot.com/
Assino embaixo. Passei por um curso de Letras na virada 80/90 e já estava ruim assim… Agora deve estar bem pior…
Cursei Letras – Português/Literatura e continuo amando a literatura. E não entendo o questionamento sobre o curso não formar escritores. Meu curso era de licenciatura, seu objetivo era formar professores. E o que pensar dos muitos escritores que nunca passarm pelos bancos de um curso de Letras e que, no entanto, são bem-sucedidos em suas carreira literárias.
Quem Ama literatura ESTUDA SIM LITERATURA, pois, naturalmente quer conhecer mais profundamente o objeto de desejo!
Há de fato muitos estudantes de letras NAO_LEITORES que querem apenas um diploma de ensino ” superior” para tentar melhorar de vida e tals.
Quanto a formar escritores, bem… qualquer ze mane pode escrever !
Agora, ser ESCRITOR e entender de literatura é outra coisa!!
Vocês fazem uma generalização tola e infantil. Podem-se citar dezenas de grandes literatos brasileiros que fizeram Letras. Outros não. E daí? A generalização como vocês fazem desqualifica suas afirmações.
KKKKKK mais uma piada da veja! Seu Sergio, a questão foi “Frouxa e exasperante como debate intelectual”, mas ” tem o mérito de confirmar” KKKK péssima redundância! E para mostrar que o próprio autor da elogiosa matéria sobre um péssimo debate com pessoas que nada tem a acrescentar é um ralo leitor: “(…) numa encruzilhada. São apenas dois os caminhos à sua frente(…)” HAHAHA até onde se saiba uma encruzilhada é feita por 4 caminhos! Horrível, hein?
Sério que isso é o melhor que você consegue fazer, Paulo?
Nossa, pois eu ADORO e no curso que faço só tem me aberto novas possibilidades…
Salman Rushdie televisivo e outros links | Todoprosa - VEJA.com
Literatura e universidade, a história de um divórcio | Todoprosa - VEJA.com
As pessoas passam o tempo todo lendo reflexões apressadas e sem substância”mas curtas e objetivas” na internet. Passam horas e mais horas vendo novelas, quando não coisa pior na TV, mas todo mundo diz que não tem tempo pra livro. Compram ingresso para dançar funk, mas livro é caro. Raskolnikoff, Fabiano, Emília, Riobaldo, não podem ser citados, pois quem houve acha pedantismo de quem fala.Existe demasiada discussão e veneno entre os poucos cultuadores das letras, essa entropia é destrutiva, devíamos olhar pro mundo lá fora, em que as pessoas ignoram a literatura para ser “seguidores” no twitter de posts do tipo “fui jantar”.
PRIMEIRO: NÃO SE ESTUDA LETRAS, MAS SIM, SE CURSA LETRAS!
SEGUNDO: QUEM TEM A OPORTUNIDADE DE CURSAR LETRAS, PASSA A AMAR A LITERATURA. ENGANA-SE QUEM DIZ QUE SÓ HÁ ESTUDO DA GRAMÁTICA….
ERA ASSIM QUE EU PENSAVA MESMO, QUANDO INGRESSEI PARA O CURSO DE LETRAS: “VOU ESTUDAR GRAMÁTICA PURA…”, MAS QUE NADA!!!! O UNIVERSO DE LETRAS É MAIOR DO QUE EU PENSAVA! E EU RESOLVI FAZER MEU MESTRADO EM LITERATURA JUSTAMENTE PORQUE MINHA GRADUAÇÃO EM LETRAS ME FEZ QUERER!!!
Acho a posição dele bastante reacionária. Curso Letras, adoro Literatura, concordo que os estudantes de Letras, em sua maioria, confessam não gostar de Literatura. Mas, há outros nomes de peso na crítica literária e um grupo em Santa Catarina que põe em xeque o pensamento do professor Alcir Pécora. Bom sempre escutar os dois lados. Quem sabe uma entrevista com Susana Scramim? E o que dizer de Carlito Azevedo? Enfim, uma polêmica entre os que cultuam os clássicos e não reconhecem o valor dos novos. Mais coisas entre o céu e a terra…
Cursei Letras, com habilitação em tradução, na Universidade de Brasília, não entrei por causa da literatura, embora sempre tivesse gostado de ler, mas devido ao meu interesse em linguística, gramática e línguas estrangeiras. Via muitos problemas no curso: Falta de investimentos, boas instalações, equipamentos (um problema geral nas universidades federais, principalmente nos cursos de humanas), falta de professores, desconhecimento de muitos destes acerca de como o mercado editorial funciona(o que é um problema tanto para futuros tradutores, quanto para aspirantes a escritores após se formarem, afinal, nem todo mundo quer seguir carreira acadêmica), alunos desmotivados, que, no fundo, queriam estar em algum outro curso mais concorrido e com nota mais alta no vestibular, ou simplesmente não sabiam o que queriam (o que é compreensível considerando como o ensino médio nos prepara muito pouco para o que vem depois e muita gente, senão a maioria, só descobre o que realmente quer fazer da vida depois dos vinte e poucos anos e não aos 17/18). Isso sem contar a desvalorização do curso, mesmo em relação a outros cursos de humanas tidos como fáceis de entrar, como se fosse um curso fácil ou inútil, nada mais que um reflexo do status da literatura e da linguística no nosso país, além da desvalorização do magistério, baixos salários, do mercado de escolas de línguas estrangeiras (principalmente inglês) cada vez mais precário e da invisibilidade dos tradutores. Acaba sendo um campo de trabalho complicado, porque todo mundo gosta de dar pitaco e acha que sabe mais do que o profissional formado na própria área. Qualquer concurseiro ou jornalista acha que sabe mais português que os outros, embora jamais tenha estudado uma ciência chamada linguística, sem compreender que o estudo da língua e da linguagem vão muito além da decoreba de regras gramaticais, que, aliás, nem sempre encontram unanimidade e nem são sempre aceitas por todos os gramáticos. Já as escolas estrangeiras pagam cada vez menos (mesmo aquelas que exigem formação na área) e tratam os professores como se fossem vendedores de loja de roupa. Não é à toa que temos atualmente um exército de mestres e doutores em literatura e linguística, mas sem vagas para todos nas universidades públicas e com universidades particulares utilizando-se cada vez mais de ensino à distância para economizar e não ter de contratar mais professores. Por tudo isso, acho muito cansativo trabalhar na área e penso até em mudar de carreira, assim como muitos colegas meus, que foram excelentes alunos e dariam bons profissionais, acabaram fazendo. Porém, não me arrependo de ter feito o curso, pois me deu uma base intelectual que eu não teria obtido em outros cursos. Ao contrário do que muita gente pensa, se bem aproveitado, um bom curso de Letras dá uma excelente base e uma bagagem muita boa, tanto em termos intelectuais, quanto da chamada cultura geral, já que tanto a literatura, quanto a linguística dialogam com diferentes áreas. O estudo da literatura na universidade certamente me abriu muito mais a cabeça do que a literatura que estudamos no ensino médio e me forçou a ler clássicos que pessoas normalmente não leriam por lazer, como a Ilíada, por exemplo. Muitos desses clássicos acabaram se tornando meus livros favoritos (agora pensando na leitura como simples lazer). Também pude entrar em contato com muito da literatura contemporânea brasileira e de língua inglesa que não sei se teria conhecido se não tivesse passado pelo curso. De fato, pode não ser voltado para a formação de escritores, pois não há habilitação voltada para a escrita criativa. De qualquer forma, dificilmente alguém vai conseguir se sustentar só por meio da produção literária no Brasil. Se a pessoa quiser ser escritora e teórica/crítica literária, aí é outra história, mas se quiser ser apenas escritora e não tem tanto interesse no estudo aprofundado da crítica/história literária, nem em nenhuma das outras possibilidades do curso (tradução/revisão, magistério, linguística etc)é melhor fazer outro curso para garantir o sustento mesmo.