Uma divertida ferramenta da Universidade de Chicago, chamada “Monte sua própria frase acadêmica” (em inglês), permite a qualquer pessoa escrever sentenças tão boas quanto – ou melhores que – as de muitos pós-doutores cascudos. Ou seja, coisas inteiramente destituídas de sentido, mas com aquele ar hermético de altíssima sabedoria que é fundamental para enganar trouxas.
Funciona assim: você escolhe quatro substantivos cabeludos em quatro listas e recebe uma frase pronta. Se não gostar dela, basta um clique e os termos voltam numa nova ordem. Tanto faz, claro, porque nada quer dizer nada. Eis alguns exemplos traduzidos do que arranjei por lá:
A reificação da hegemonia pós-capitalista revive (de forma paródica) a historicização da economia especular.
A cultura dos valores normativos carrega em si a política da esfera pública.
A poética da cultura pop pede para ser lida como a autenticação do poder/conhecimento.
Uma única limitação impede a brincadeira de ser genial, como observa Macy Halford, do blog de livros da “New Yorker” (onde eu soube da novidade): as frases são curtas demais. Nenhum acadêmico que se preze seria tão sucinto. No entanto, com um certo jogo de cintura sintático, é possível emendá-las e corrigir o problema. Assim:
Conquanto a reificação da hegemonia pós-capitalista reviva (de forma paródica) a historicização da economia especular, levando a política dos valores normativos a carregar em si a cultura da esfera pública, a autenticação da cultura pop pede para ser lida como a poética do poder/conhecimento.
Ou talvez fique melhor assim:
Se a poética da cultura pop pede para ser lida como a autenticação do poder/conhecimento, visto que a historicização da hegemonia pós-capitalista revive (de forma paródica) a reificação da economia especular, conclui-se que a cultura dos valores normativos carrega em si a política da esfera pública.
Vai dizer que não?
35 Comentários
Muito bom, Sérgio! Dá pra se divertir um pouquinho e ainda guardar as frases para um possível uso… =)
Adoro o blog!
Abraços!
O fabuloso gerador de lero-lero é mais antigo e mais interessante. E já salvou a pele de muita gente por aí.
Sérgio,
Em temos de twitter, pode-se prever (já que futurologia parece estar em moda) que a estupidez se manifestará cada vez mais em frases curtas.
A propósito, Rafael, você está no Twitter?
Fantástico…
Tem um assessor de comunicação onde trabalho que deve ser o invetor desse troço aí.
A diferença é que ele escreve mal pra c4r4lho… no sentido de erros ortográficos… e em todos os outros também.
Isso aí também pode resultar em ótimos discursos para o ano eleitoral que se inicará em breve.
Todo aquele papo de exclusão, de multilateralismo partidário, cidadania usurpada pela fera capitalista pós-crise, monarquias excludentes e por aí vai…
Caríssimo Tibor, companheiro de Todoproso há anos, devo confessar um tanto vexado que cheguei a cogitar, por algum tempo, de aderir ao Twitter, essa nova mania da Internet, tão discutida e difundida nos meios mais moderninhos, cheguei a cogitar, como ia dizendo, de aderir ao Twitter, mas aí me dei conta que eu, por conta de vício antigo, do qual não mais consigo me desvencilhar, e talvez nem queira me desvencilhar, me dei conta, enfim, que eu não consigo, e não consigo mesmo, escrever frases curtas, por mais que me esforço, e, em razão dessa minha inabilidade, da qual eu sou o único culpado, em razão dela desisti do projeto; sendo objetivo, pois sou objetivo, como você bem vê, sendo objetivo respondo à sua indagação com uma única palavra, a única que lhe calha: não.
genial.
A erotização da nação-Estado abre um espaço para a legitimação do consumo.
Tweets that mention Reificação da hegemonia pós-capitalista é a… | Todoprosa -- Topsy.com
Confesso nutrir uma curiosidade antropológica tremenda por conhecer algum dos desocupados que gastam tempo com a bobagem acima…
O duro é o cara explicar a frase,
Ola.
De uma olhada em outra ferramenta online em português.
Chama-se O Fabuloso Gerador de Lero Lero onde você escolhe um tema e numero de sentenças e ele gera um texto completamente prolixo e sem sentido que enganaria a muitos, e temo ser usado até por alguns políticos… kkkk
Abraço
veja o gerador aqui: http://www.suicidiovirtual.net/dados/lerolero.html
Eureka! “Reificação da hegemonia, etc. etc.” É exatamente isso que eu penso e queria dizer, mas não sabia como.
1. Infelizmente a estupidez não tem limite de caracteres. 2. Tinha uma amiga assim na escola de cinema, muito bom 🙂 A menina falava cada frase sem pé nem cabeça que só vendo, cheia de termos técnicos. Ajudava a alegrar as aulas, 9 da noite depois do trabalho. Abss!
kkkkkkkkkkkkk adorei o Rafael nas quinze horas e dezessete minutos ..huahuahua
Poxa, os leitores por aqui são ávidos! Também… as pérolas que o Sérgio traz… Hum.. adorei ler aquelas frases… e bem que tem um sentido, hein? Ah… e como tem… Não sabia desta… Interessante as garimpadas do SR… muito interessantes.. .
iii já me botaram para correr em “outros campos” por lá, porque eu critiquei a dona Sociologia, hein? Cuidado, escritor, nem sempre nossas prosas são compreendidas… e se ofendemos as “ias…”, somos banidos na hora. Eu fui. Nem ligo.
Quis fazer mestrado para provar as discriminações disfarçadas em nome da Cultura no Brasil, mas não encontrei espaço… Não podemos falar a verdade, temos que ter aquele aquele “ar hermético de altíssima sabedoria que é fundamental para enganar trouxas” ( Frase lapidar que me faltou em boas ocasiões… que pena… porque não vim bem antes aqui… Haveria de lhes sapecar uma “hegemonia pós-capitalista que historicização da economia especular iria parar bem no meio do mensalão que ainda não engoli até hoje)
Nessa linha, há também o já consagrado e lucrativo Gerador de Letras Tribalistas – http://www.mundoperfeito.com.br/index.php?option=geratexto&Itemid=&topid=6
Isto explica porque humanidade não encontra o caminho do entendimento e da paz. Pois a maioria dos idiotas que a dirigem, para satisfazerem as suas medíocres vaidades, dão mais valor as palavras, que o sentido que elas espressam.
Que seria de nós, se aquele operador de retroescavadeira, sob um sol escaldante, escavando valetas para construir a rede de esgoto de nossa cidade, tivesse que se entender com o seu chefe usando esta linguagem ?
Com certeza já estaríamos afogados em merda.
Eita Eric novello… kkkkkkkkk a estupidez não tem limite de caracteres…kkkkkkkk ( Coleguinha boa… essa, hein? )
Antônio das 16 e 5.kkkkkkkk na hora de explicar ´que complica tudo.
Everaldo meu filho… você falou tudo… ( infelizmente é isso mesmo, é preciso uma torre de Babel pra que haja confusão … enquanto isso…
E é preciso uma Babilônia para que haja torre de Babel. E haja Saddam Hussein
A quem interessar possa.. http://www.tempodofim.com/sinais/sinal9.htm
Sem problemas, o nacial lerolero gera muitas frases com padrão academico http://www.dicas-l.com.br/lerolero/
Ops, errei: nacional
Rosângela,
Você deveria considerar que aqui neste espaço o propósito é discutir, sobretudo, a ficção (correto, Sérgio?). Ninguém aqui, acredito, se interessa pela Bíblia como manifestação da inteligência divina, nem como realidade histórica, nem como a revelação da Palavra ou coisa que o valha. A Bíblia é uma ótima antologia de histórias, ela é fonte de inspiração de inúmeros escritores, ela é repositório de lendas e símbolos que marcaram a cultura ocidental. As questões teológicas que ela suscita não nos interessa. Se o Sétimo Selo está na iminência de ser rompido, isso não nos interessa. Se a trombeta do Juízo Final já tocou a primeira nota, que venha o Fim, mas isso também não nos interessa.
Se você quiser discutir a técnica narrativa do Livro de Jó, isso sim nos interessa. Se quiser discutir o mito da Queda, a simbologia da Serpente, as metáforas por trás dos episódios do Gigante Golias, do sacrifício de Isaac, da Torre de Babel, da fuga dos Judeos para a Terra Prometida, eis aí uma boa pauta.
Mas, lembre-se: a Bíblia nos interessa tanto quanto nos interessa a Ilíada ou Rei Lear, como fruto da inteligência humana, da imaginação e da inspiração.
Vale
Me parece muito bem dito, Rafael. Rosângela, é por aí.
Rafael, não sabia que você era o Ombudsman do blog.
A propósito, o tema deste artigo me parece tão menos literário quanto o que você aponta em seu comentário. E ainda assim, dialogamos.
Você ia bem em seu comentário até antes da palavra “Ninguém”. Aí, começou a escrever a sua “própria palavra”, pois niguém o autorizou (eu pelo menos não) a se pronunciar pelos outros que de vez enquanto passam por aqui, imaginando que seja um epaço democrático.
O blog não possui uma FAQ ou ‘manual de bom comportamento’ provavelmente porque o Sérgio considera que as discussões seguem seu fluxo de forma natural, madura e responsável. Sem moderadores oficiais (o próprio Sérgio, quando entende que houve algum ‘excesso’) ou extra-oficiais.
É isso ou não? Se eu estiver errado, por favor, me avisem.
Caro Soares,
Obrigado pela oportunidade que você me está oferecendo de explorarmos o fascinante mundo da semântica. Quando escrevi “ninguém” (esta modesta palavrinha parece ter sido suficiente para atiçar sua fúria) não pretendia, obviamente, fazer um juízo universal, que não admitisse nenhuma exceção e que se aplicasse indistintamente a todos os frequentadores desta caixa de comentários. Apesar do valor negativo que esse pronome encerra, trata-se, devo lembrar, de um indefinido, um vocábulo que carrega consigo uma certa imprecisão. Quando a adolescente, depois de discutir com os pais que não aceitam seu namoradinho, tranca-se no quarto e diz, entre soluços, “ninguém me entende!”, ela se referindo a seus pais, talvez aos professores e quiçá aos adultos em geral, mas não à Humanidade inteira.
Você mesmo, quando afirma “ninguém o autorizou”, usa do mesmo recurso estilístico; mesmo assim, eu nunca o acusarei de estar “pronunciando pelos outros”.
Sempre acreditei que as únicas criaturas que levavam o pronome “ninguém” ao pé da letra fossem os ciclopes, que se deixaram enganar pela malícia do sagaz Ulisses (não o de Joyce, mas o de Homero). Parece que havia me enganado…
Engraçado, o C S Soares, que costuma falar tanto, ficou bem calado…
1) O tema não é bobagem, apenas o modo como normalmente é abordado. Mostra que não somos muito diferentes de uma máquina, criada à nossa imagem e semelhança, e que nos expressamos todos por padrões, formatos, ou seja, de forma muito previsível (mesmo quando usamos pseudônimos). Freud e Skinner já o sabiam. E isso vale não só para acadêmicos, mas os jornalistas, os consultores, advogados e analistas de sistemas, para os seres humanos apesar de todo seu orgulho, altivez e ignorância. Há alguns meses, escrevi sobre o Booklamp (que identifica o estilo de escritores estatisticamente): desconfiem de sua originalidade! E se Steven Pinker estiver certo (acredito que esteja), a língua é uma janela para a natureza humana. Se por um lado Forrest Gump afirma “A vida é como uma caixa de chocolates, você nunca sabe o que vai encontrar”, por outro, Umberto Eco retruca: “querendo conexões, o que achamos são… conexões”.
2) Se “falo tanto” neste espaço on-line (nem sei se falo tanto assim) é porquê (de forma coerente, basta ver meus projetos on-line) dou atenção e valor à escrita e leitura em ambiente on-line e claro, a este blog, um belo trabalho do Sérgio, apesar de não poucas vezes discordarmos um do outro. Mas isso faz parte do jogo democrático. Acho incoerente, por exemplo, quem vem para a internet falar mal da internet. Como Prometeu nos apoderamos de algo que ainda não entendemos muito bem. Olhos, ouvidos e mente abertos, além de uma certa humildade, sempre serão benéficos… Isso vale para todos nós. A falta, mas também o excesso de luz cegam.
Divertido e tal, mas cá entre nós, faz parecer que somente entre os acadêmicos persiste essa mania de retórica vazia. Em todos os campos dos saberes humanos tem sempre um querendo criar uma imagem favorável a seu respeito dizendo sem dizer. Um exemplo muito simples: numa festinha uma amiga me apresenta um mané que na primeira frase me solta um termo técnico da medicina pra todo mundo saber a partir dali que o cara é, err…, ‘daseliti’. A mesma situação patética.
Leandro, jargão existe em qualquer ofício, mas há uma diferença qualitativa entre o exibicionismo eventual do estudante de medicina e o texto ilegível típico do academiquês. Este está acima do jargão, é uma linguagem com pretensões universais, enraizada na história (alimenta-se em grande parte de colagens) e testada dia a dia em sua capacidade de mediar as relações de poder acadêmico em qualquer especialidade. Para se chegar perto de um paralelo, seria preciso buscar talvez o juridiquês – este sim uma algaravia capaz de discorrer sobre tudo o que há no universo de modo a que só outros iniciados entendam, ou finjam que.
“…ou finjam que.”
O direito de ser pedante de alguém vai até onde começa o do outro.
Não esquecer nunca: jornalista é merda. Merda. Merda.
Esses trechos parecem do energúmeno do Tarso Genro falando…ele fala uns troços empolados, usando palavras das quais nao tem a mínima ideia do que significam, achando que tá falando bonito…