Houve um tempo em que o adjetivo republicano se opunha ao adjetivo monarquista. Mas quem é monarquista hoje em dia? Por falta de um adversário de peso, republicano se viu no papel de palavra sonora e respeitável (república existe em nosso idioma desde o século 15 e veio do latim res publica, isto é, coisa pública, o bem comum pelo qual zela o Estado) em busca de uma aplicação mais moderninha.
Talvez tal disponibilidade ajude a entender por que, nos últimos anos, o termo se transformou num dos preferidos do vocabulário político brasileiro. Fetichista, recoberto de conotações puras e arejadas, republicano vem sendo empregado como um sinônimo mais nobre de qualificativos – talvez gastos pelo abuso – como democrático, transparente, respeitador da cidadania e das liberdades civis, não-clientelista e até… honesto.
O batismo do recente Pacto Republicano foi feliz. Recorre à impressionante cauda de conotações positivas da palavra com evidentes intenções alicerçadas no campo do marketing político, mas, ao mesmo tempo, mantém um pé firme na velha semântica: trata-se, afinal, de um acordo firmado entre os três poderes da República. A aura mítica de republicano encontra menos sustentação ao se falar em “debate republicano” quando se quer dizer apenas debate e em “virtudes republicanas” quando seria mais correto e menos eufemístico falar em decência e legalidade.
A verdade é que o adjetivo republicano não se sente lá muito à vontade como sinônimo de tudo o que há de saudável no jogo político. Sabe-se que repúblicas podem ser boas ou más, o que recomendaria, em nome da clareza, emprestar ao termo um valor mais neutro. Ou será que a Coreia do Norte (República Democrática Popular da Coreia), o Irã (República Islâmica do Irã) e Cuba (República de Cuba) são modelos de prática republicana?
Publicado na “Revista da Semana”.
2 Comentários
Para não ficar sem nenhum comentário…:)
Olha, se for tratada “República” como no sentido original do termo, então, toda a forma política do mundo foi “república” desde o princípio: Pode ser que tenha uma pequena elite que se sobreponha e imponha alguma oligarquia ou sua monarquia. Mas, sempre é o povo quem permite isso. Ou seja, qualquer coisa “republicana” é “coisa pública”.
E é por isso que regimes militares se permitem ao despautério de utilizar o termo “República” no nome do país em que mandam ou desmandam. A Roma antiga, por exemplo, o maior império forjado por armas que o mundo já viu, se autoproclamava “República” na maior parte de sua história… Estranho, né?
O pior é quando têm a cara de pau de usarem “Democrática”, porque aí sim é contraditório. A democracia de fato, assim como o socialismo, nunca existiu. Infelizmente. É um mito da sociedade moderna. Ainda que haja a possibilidade de todos votarem escolhendo os melhores representantes, ainda que voluntários… Quem acaba sendo eleito? Um político. E políticos são formandos da elite, em sua maioria. Governam pela e para a elite na maior parte do tempo. O povo nesse meio tempo, continua explorado. Assim caminha a humanidade…
E, pra encerrar, quando você questiona se há alguém monarquista… Bem, há. O pessoal do blog “Monarquia já” que o diga! rs