Eu nunca tinha ouvido falar de Chuck Wendig (foto). Fui parar em seu blog, Terrible Minds, atraído pela chamada de um post que cruzou meu caminho no Twitter: Stupid answers to common writing questions, “Respostas grosseiras para perguntas literárias comuns”. Bom, encontrei lá o que o título anunciava e um pouco mais.
Descobri que Wendig, escritor americano de fantasia com uma carreira sólida como romancista, roteirista e designer de games, autor de livros como Blackbirds e Double Dead, conseguiu fazer uma crítica feroz – e às vezes hilariante – de uma certa mentalidade de autoajuda e de um certo visgo corporativo que vêm se infiltrando há anos, traiçoeiramente, no mundo florescente do aconselhamento literário.
Como este blog sempre teve um pé em tal mundo, até por exigência dos leitores, recomendo a leitura da diatribe desbocada do sujeito. Concordo com quase tudo o que ele diz. “O monge e o escritor” não tem vez aqui.
Quem puder deve ler o post completo (em inglês). Abaixo, na forma de filezinho aperitivo e em tradução caseira, alguns destaques:
Como eu faço para escrever?
Eu não sei como você faz para escrever. Eu sei como eu faço para escrever. E o que eu faço é enfileirar um punhado de palavras e juntá-las em frases, depois eu junto as frases em parágrafos e empacoto os parágrafos em páginas, páginas em capítulos, capítulos numa história completa. (…) Faço isso pouco a pouco, todos os dias, até terminar, e mesmo quando termino não cheguei ainda a terminar, porque escrever é reescrever é reescrever…
Como eu encontro tempo para escrever?
Você não encontra tempo para escrever. Você faz esse tempo. Você o rouba das mandíbulas de seja qual for a besta temporal que tenha seus minutos e suas horas entre os dentes arreganhados.
Quanto tempo eu devo levar escrevendo meu livro?
Costuma levar algo entre uma hora e uma era glacial. Caramba, eu sei lá. Cada livro tem seu próprio relógio. Sim, eu sei, esta é uma resposta idiota e óbvia, mas é a única resposta possível.
Como eu faço o marketing do meu livro?
Não tenho a menor ideia. Escritores devem ser bons de escrita, não de marketing. Eu não fui treinado nessa disciplina. Acho que perguntar a um escritor como fazer marketing é como lhe perguntar como plantar vagem ou desmontar um chimpanzé mecânico descontrolado.
Como eu construo minha marca?
Você, bem, quer dizer – ah, por misericórdia, não! Bleh. Blargh. Uoashh. E outros ruídos nojentos. Eu tenho um número circense inteiro sobre marcas, que você certamente já viu antes, mas vou apresentá-lo mais uma vez. É o seguinte: uma marca é aquilo que se põe na vaca para assinalar propriedade. (…) Quem quer ler um livro escrito por uma marca? (…) Seja uma pessoa. Encontre sua voz. Deixe sua voz ser aquilo que o identifica. Resista à criação de uma marca e a outros rótulos corporativos ou gerenciais. Seja a melhor versão de você que puder ser. E escreva a porcaria do melhor livro que puder escrever.
Quais são as tendências mais quentes do momento?
Eu não sei, porque não ligo para isso, e você também não deveria ligar. Mais uma vez: este é provavelmente um mau conselho do ponto de vista dos negócios, mas é um excelente conselho criativo. Danem-se as tendências.
7 Comentários
Caro Sérgio, eu acredito que uma mentalidade de autoajuda pode ser o impulso inicial a jovens escritores. As respostas de Wendig são irreverentes, engraçadas e às vezes estimulantes, mas há livros importantes que tratam o assunto com muita seriedade. Cito alguns agora.
Cartas exemplares – Flaubert
Escrevendo com a alma – Natalie Goldberg
Palavra por palavra – Anne Lamott
A aventura de escrever – Suzanne Lipsett
Cartas a um jovem escritor – Vargas Llosa
Breve manual de estilo e romance – Autran Dourado
Os segredos da ficção – Raimundo Carrero
Oficina de escritores – Stephen Koch
Os segredos da criatividade – Silvia Adela
Como narrar uma história – Silvia Adela
Obviamente esses livros não “ensinam” a escrever, mas ajudam os iniciantes em alguns pontos, principalmente o “pai” de todos, Cartas exemplares, de Flaubert.
Carlos, o aconselhamento literário é um gênero respeitável. Como eu digo no post acima, este blog sempre manteve um pé em tal mundo. O que Wendig critica é um desvirtuamento. Obrigado por compartilhar a lista. Um abraço.
Arrebentô!
Danem-se as tendências=liberdade.
não nos esqueçamos de: A arte da ficção: David Lodge…dos melhores.
Palavra por palavra de Ane Lammot encontrei naquelas estantes de supermercados que ficam ali à espera de que comprem alqueles livros bobinhos e de auto-ajuda…e me surpreendi. muito bom
a arte da ficção de David Lodge…vale a pena ler.. no gênero…como escrever
Creio que o espírito seria “fuja das fórmulas!”. Adicionando mais um à lista: “Para Ler como um Escritor”, de Francine Prose. Acabei de comprar “O Drible”… Aguardando… Abraço.