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Restrepo e Abad: violência e generosidade

10/07/2011

Foto de Walter Craveiro/Divulgação

Os escritores colombianos Héctor Abad e Laura Restrepo, que participaram da mesa “Em nome do pai”, iniciada às 14h30, disseram não ser amigos. Talvez não fossem até então, mas dificilmente poderão dizer o mesmo após a mesa de hoje. Com mediação do jornalista Ángel Gurría-Quintana, os dois travaram uma conversa cheia de elogios mútuos sobre como a literatura se relaciona com suas histórias de vida marcadas pela violência de seu país e pela militância política.

Abad está estreando no mercado brasileiro com o premiado livro de memórias “A ausência que seremos”, em que fala do pai, um médico famoso, também chamado Héctor, defensor dos direitos humanos e assassinado por paramilitares colombianos em 1987. Laura lança o romance “Heróis demais”, a história de uma mãe que vai com o filho adolescente para a Argentina em busca do pai, militante político que os abandonou quando ela estava grávida. Há muito de autobiográfico no romance. “Eu e meu filho, Pedro, que veio comigo a Paraty, tivemos através dos personagens do romance o diálogo que nunca pudemos ter sobre o pai dele, que o abandonou quando tinha dois anos”, disse.

Abad levou vinte anos para escrever sobre seu pai, e justificou a demora dizendo que “certas coisas não se pode fazer a quente”. Os dois inovaram, discorrendo cada um, longamente, sobre o livro do outro. Abad comparou “Heróis demais” com o clássico latino-americano “Pedro Páramo”, de Juan Rulfo, pelo tema da busca do pai. “Sinto pelas mulheres e pelo livro (de Laura) uma inveja que é uma forma de admiração. Eu não poderia escrever algo assim porque não poderia parir um filho.”

“O livro de Héctor é tremendo, li com lágrimas nos olhos”, retribuiu Laura. “Infelizmente, a Colômbia ficou muito endurecida diante da morte. Um dos únicos dias em que vi a Colômbia inteira chorar foi no dia em que mataram o pai de Héctor. O livro dele é o de um grande escritor enfrentando o grande tema de sua vida”, afirmou.

Os dois só discordaram no fim, sobre gosto literário (ela, Joyce; ele, Proust), e sobre o futuro da esquerda na América Latina. Laura se declarou ainda engajada e otimista. Héctor a provocou: “O problema, Laura, é que nós não sabemos governar. Você é tão boa escritora, vai se meter a governar por quê?”.

Um comentário

  • GABRIEL PARON NETO 12/08/2011em15:38

    Grandes coisas podem aflorar dos grandes encontros e dos confrontos. Dificilmente eles conviverão. Tiveram seu confronto em Paraty. Daqui um tempo se reencontrarão e se lamentarão mutuamente não se aproximarem depois de Paraty.