Curioso pela migração de gênero e público, comecei a ler “Morte súbita”, o primeiro “romance adulto” de J.K. Rowling, a criadora de Harry Potter. Pouco mais de meia hora depois tinha parado de ler “Morte súbita”, o primeiro “romance adulto” de J.K. Rowling, a criadora de Harry Potter. A leitura teve morte súbita – e vale registrar que eu tinha optado pelo original, The casual vacancy, o que inocenta do crime a tradução brasileira recém-lançada pela Nova Fronteira – por doses cavalares de academicismo e clichê na trama e na linguagem. Não, claro que isto não é uma resenha. Só quem lê uma obra inteira, e com ponderação, pode se atrever a resenhá-la. Mas é um toque: a vida é curta para tanto livro, e “Barba ensopada de sangue” está aí mesmo.
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Todos sabemos que juízos estéticos baseados em ideias como “belo” e “sublime” pertencem ao passado. Mas o que significa a predominância contemporânea de categorias como “fofo” e “interessante”? O recém-lançado livro Our aesthetic categories (Nossas categorias estéticas), da poeta e crítica literária Sianne Ngai, acha que significa muito. Resenha da Slate, em inglês, aqui.
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A entrevista dada à “Folha de S. Paulo” pelo crítico Rodrigo Gurgel, o “jurado C” do Jabuti, é curiosa. Tendo a encarar com simpatia seu diagnóstico de que a escassez de leitores torna “doente” – eu diria viciado – o “sistema literário” brasileiro, que fica mais dependente da crítica universitária e seu entorno do que seria saudável. Pena que isso pareça uma cortina de fumaça destinada a encobrir a inconsistência da defesa que Gurgel faz da boa-fé de seu sistema de notas desprovido de matizes. Seu argumento vai pouco além da sugestão de que todo o barulho se resumiu a uma defesa automática do livro de Ana Maria Machado. Na vida real, claro, Machado tem papel de mera figurante no episódio. Se não for simples manipulação, a arrogância crítica de dividir o mérito literário entre zero e dez, cadafalso e glória, não será justamente mais um sintoma da tal doença? Ou nesse caso, por não se tratar de “crítica acadêmica”, pode?
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Haverá alguma metrópole que possa se gabar de, em qualquer momento da história, ter contado com 100 (cem), isso mesmo, uma centena de escritores vivos realmente relevantes? Nem a Paris dos anos 1930, certo? Esta lista da Flavorwire não apenas sustenta que sim, tal cidade existe, mas ainda dá nomes a todos os bois. Nova York. Hoje. E estamos falando apenas dos escritores “mais importantes”. Então tá.
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Amanhã estarei na sede do Itaú Cultural, em São Paulo, às 15h, para conversar com Lobão e Angélica de Moraes sobre o tema “Se é bom não vende, se vende não é bom: desde quando gosto não se discute?”, numa das mesas do 4º Seminário Internacional Rumos Jornalismo Cultural. Fica o convite a quem estiver na área – e quem não estiver pode acompanhar aqui a transmissão ao vivo.
24 Comentários
Sou da opinião de que, se você não leu o livro inteiro, não pode fazer um comentário desses. Não se pode opinar num veículo de comunicação de massas dessa forma, argumentando de modo tão hostil, sobre um livro que você sequer leu inteiro. Lamentável a sua atitude.
Procure ler “Morte Súbita” (ou “The Casual Vacancy”, como quiser, embora isso realmente não importe) inteiro, e depois você pode fazer uma resenha ou uma crítica (ou um comentáriozinho despretensioso) sobre o enredo, as personagens e a atmosfera, além da trama em si. Aí sim, meu caro, ficaremos honrados em ler o que tem a dizer sobre o livro.
Anônimo, sou da opinião de que, se você não assina o próprio nome, não pode fazer um comentário desses, falando sobre o que se pode fazer num “veículo de comunicação de massas”. Se eu fosse pontificar aqui, por exemplo, sobre o que se pode fazer no comando de uma editora, estaria fora da minha praia, mas pelo menos seria responsável por minha opinião. Entre adultos, cada um publica o que quiser desde que responda por isso, confere? Fui gentil com o livro de Rowling. É de cortar os pulsos em sua banalidade, li o suficiente dele (e nem uma linha a mais) para alertar meus leitores, notórios apreciadores de uma literatura mais sofisticada. Mas não se preocupe, restam muitos outros, a maioria, para comprar o livro.
Oi Sergio. Dá uma espiada na entrevista do Gurgel ao Globo. Achei melhor.
http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2012/12/03/meu-voto-nao-foi-maquiavelico-nem-quixotesco-diz-rodrigo-gurgel-477254.asp
Sérgio, o livro da Rowling chegou a ser cotado para o Bad Sex Award desse ano (http://www.guardian.co.uk/books/2012/nov/20/bad-sex-award-2012-shortlist). Hilária mais uma vez essa premiação.
Pois eu concordo com o que o ”anônimo” falou (escreveu) e eu pus meu nome. Qual é a sua desculpa?
A propósito, como você sabe que meu nome é Fernando e não um pseudônimo?
^_^
Desculpa? Eu hein.
“li o suficiente dele (e nem uma linha a mais) para alertar meus leitores, notórios apreciadores de uma literatura mais sofisticada.”
Tal arrogância não poderia vir de outro que não fosse da revista VEJA (e, claro, os leitores da revista Veja)! Mas discordo do colega Anônimo. Ele pode sim comentar o que quiser, mesmo sem ter lido o livro todo. Você esperaria algum tipo de compromisso maior estando na página que está? Ai ai, fala sério! 🙂
Literatura sofisticada. A gente vê por aqui.
Sérgio, desculpe mas não entendi seu comentário sobre o livro do Daniel Galera, “Barba ensopada de sangue”.
“Esta aí mesmo” significa está na mesma categoria de “Morte súbita”, o primeiro “romance adulto” de J.K. Rowling, a criadora de Harry Potter,ou quer dizer que está aí (no sentido de imperdível) e ninguém deveria perder tempo com outras leituras como “Morte súbita”, o primeiro “romance adulto” de J.K. Rowling, a criadora de Harry Potter? (tive que imitá-lo! Desculpe! Hehehe!)
Segunda opção, José.
Sérgio, aconselho-o a ler a análise que a Elvira Vigna faz do romance do Galera. Você verá que não é só a J.K. que tem clichês em seu romance, não…
http://etudeslusophonesparis4.blogspot.com/2012/11/barbas-pouco-confiaveis.html
Já tinha lido, Saint-Clair, mas obrigado.
Vago e dúbio, a não seu que calculado, seu comentário sobre o livro do galera, véi.
Acha mesmo, Delair? Vejamos: 1) O tempo é curto e os livros, muitos. 2) Não percam tempo com este aqui. 3) O do Galera está aí mesmo. Qual parte não ficou clara?
Sérgio, entendo a sua opinião a respeito do novo livro de J. K. Rowling, mas gostaria de saber se a leitura foi efetuada pelo fato de se tratar de um dos livros mais vendidos do momento ou por você já ter entrado em contato com as obras anteriores da autora ( no caso Harry Potter) se interessando por sua nova criação.
Como eu disse, basicamente curiosidade pelo que Rowling ia fazer numa nova praia. Li dois da série HP, que respeito, embora não seja fã.
Pelo visto não só eu achei o mesmo.Que ficou esquisito, ficou.
Se eu achasse que essa impressão de dubiedade tem fundamento, já teria mexido no texto. Às vezes acontece. Mas não consigo achar, não.
Que engraçado. Aparentemente, a geração que cresceu idolatrando o bruxinho afligido por conflitos juvenis enfrenta a ingente dificuldade de atinar com o sentido do implícito. Ou o autor pega na mãozinha deles e os conduz pelos meandros da linguagem, ou os pobrezinhos se perdem na floresta dos significados ocultos e dos subentendidos.
Da próxima vez, Sérgio, peque pelo excesso!
Vale
Sim, é claro que acontece.
O pior é pensar que nunca acontece com a gente.
Que insistência, rapaz. Sendo mais claro então: já aconteceu comigo várias vezes, mas nesse caso acho que o problema está no lado do receptor. Lamento.
Não acho que o livro de J. K. Rowling seja ruim, mas o fato é que a maioria estava acostumada com seu “outro tipo de escrita”, mais infantil. Ter pulado para esse patamar foi meio arriscado. “Morte súbita” Não será tão bom quanto foi a série HP, mas também não será tão ruim. Ela deveria ter continuado escrevendo livros de fantasia para crianças, adolescentes e até adultos.
Ok, Sérgio, chega de insistência.
Mas foram dois receptores.
Até.
Rafael, menas, por favor.
Ri muito com o comentário da Isabel. Ela lê uma resenha da Veja, mas critica os leitores… da Veja(!). Legal que ela ache tudo aqui arrogante. Não vai fazer falta.
E o comentário sobre o livro do Galera foi claro, claríssimo. Mas para quem gosta de Rowlings deve realmente ser um pouco complicado conceitos como “ironia” e “sutileza”.
Claudio e Rafael, gosto de observar vocês, não parem. Só que não gosto de Harry Potter, a vida é curta pra isso, e Paulo Coelho está aí mesmo.
“Gosto de observar vocês”… Esquisitão. Harry Potter, Paulo Coelho, não entender sutilezas… tem alguém perdido aí?
Gostei muito dos esclarecimentos de Rodrigo Gurgel. Essa patotinha que impõe um dever-ser a literatura tem que cair e ser ridicularizada. Se o crítico teve maior apreço por outros escritores do que os escritos por medalhões, que os medalhões reaprendam que posição se conquista, não se detém eternamente.
Sobre o comentário do José do Norte: errado, hipócrita e traiçoeira a atitude do Rodrigo Gurgel, isso sim. A confiança nele depositada foi absolutamente traída. Não era o momento, não era o lugar. Saíram arranhados o Jabuti e o próprio Rodrigo, jamais a Ana Maria Machado. É curioso o impulso que existe em se atirar pedras em qualquer um que atinja o sucesso, a despeito desse ser merececido ou não. E a Ana Maria Machado é, como atestam sua obra e o reconhecimento dos críticos qualificados. Bem disse o Tom Jobim – outro atacado frequentemente pelos brasileiros – que, aqui no Brasil, o sucesso é uma ofensa pessoal. Não se trata – e isso é claro para qualquer um que tenha bom senso e não seja um revoltado profissional, como alguns – de defender medalhões, mas sim de criticar a atitude absolutamente ridícula, egocentrica e traiçoeira do jurado.
Ccáudio,
Não se trata de apedrejar quem tem sucesso, trata-se de dar um basta na patotinha. CHEGA! Basta esse lambe-me-lambe, se o cara gostou mais do livro do japa que o do escrito pela Medalhona: é claro que a nota seria maior para o romance sobre os nipônicos. Engraxar reputação e ulular conforme o coro dos medalhas-amestrados é algo que definitivamente não respeito.
PS: Sejamos francos, quem acorda aqui de manhã e diz: “vou comprar livro da ana maria machado!”…
Pois é cortando os pulsos que cá estou – chorando igual criança – para dizer que você tem razão.
Pra quem vai de Sidney Sheldon a danielle steel (e é cego o suficiente de amores pelo legado Potter) o livro é uma obra-prima.
Agora, para todo o resto que, como eu, sofre de infância regada a bruxinhos, mas consegue superar o fato de que amores vem e vão são aves de verão, o livro simplesmente não precisa ser lido inteiro pra ganhar uma resenha a altura da sua competência.
E, olha, quem afirma isso sou eu: uma infeliz fã decepcionada que só vai até o último capítulo em respeito aos anos que JKR me fez feliz.
Fico feliz ao ver que não fui a única pessoa a não conseguir ler este livro até o final. Parei hoje, na página 90 e desisto dele. Detesto não ler um livro até o final, mas sinto que seria perder meu tempo tão escasso. A morte súbita deste livro para mim foi também lá pela página 20, mas me forcei a continuar. Sou professora da UFPR e adorei os livros da série Harry Potter, li todos os 7. Acho que a brilhante autora infanto-juvenil que agradou tanto a jovens de todas as idades se perdeu neste seu “romance adulto”. Texto mal-escrito e um tanto desagradável. Me venceu. Vou ler Lya Luft.
uma pena o “crítico” ter parado de ler o livro Morte Súbita.
se tivesse se despido da arrogancia e ido até o final, teria tido uma bela surpresa.
mas isso é para quem aprecia ler, não para quem adora simplesmente falar mal dos outros.