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Sei lá, mil livros…

27/01/2009

Quem gosta de se sentir angustiado ao contemplar toda a montanha de livros que ainda não leu vai se divertir, mesmo que perversamente, com a lista de mil romances que “todo mundo precisa ler” publicada pelo “Guardian” na semana passada (em inglês, acesso gratuito). Bobagem, claro, como toda lista do gênero.

A própria idéia de que existam mil livros de leitura “obrigatória” é absurda – seja porque, como diria Nelson Rodrigues, bastam dois ou três, seja porque a relação de cada leitor deve ser sempre profundamente pessoal e idiossincrática, sob pena de ser tão vazia quanto aquelas lombadas decorativas em estante de novo-rico. Mas vale uma olhada.

Dividida em categorias temáticas, a relação exige fôlego do leitor, mas tem lá suas compensações. Como encontrar “Dom Casmurro” na prateleira Amor e “Grande sertão: veredas” na rubrica Guerra e viagem. Ou constatar que José Saramago só comparece com “Ensaio sobre a cegueira”, o que faz pensar sobre o papel espúrio desempenhado pelo celulóide numa lista que deveria ser só de celulose. Ou ainda ficar perplexo diante de nomes obscuríssimos (talvez apenas para o leitor brasileiro ou quem sabe para mim, acho que não importa muito nesse caso) e, naturalmente, imaginar quais são as mais clamorosas ausências – nada de Juan Rulfo, vocês só podem estar de brincadeira!

O que mais exigir de listas?

28 Comentários

  • Chico Buarque 27/01/2009em12:41

    Apertei ctrl e F. Escrevi “cuenca” e não apareceu nenhuma menção ao meu autor jovem predileto.

    A lista não é válida.

  • Marcos Azeredo 27/01/2009em12:51

    Estas listas sempre são duvidosas, porque a literatura é plurisignificante, cada leitor, intelectual ou escritor vai ter suas preferências é normal. Nestas listas de não tiver uns 4 livros do Dostoieviski é furada. Estou lendo 1001 Filmes para ver antes de morrer. E a seleção é boa, com filmes de grandes diretores: Hitchcock é o diretor que tem mais filmes, 18, e é o que eu mais gosto. Fellini com 8 filmes. Woody Allen com 6 filmes. Dos brasieiros tem: Glauber, Caca Diegues, Roberto Santos, Anselmo Duarte, Walter Salles, Rogério Sganzerla, Nelson Pereira dos Santos.

  • Adriana 27/01/2009em13:42

    Dos mil livros da lista, li dois. Acho que tá bom…

  • Silvio... Silva 27/01/2009em14:13

    Outra ausência grave: Tirant Lo Blanc.

    Venho de uma família majoritariamente protestante. Há uma piada “de crente” que diz que desde Moisés e os 10 Mandamentos que lista foi feita para ser contestada (eu sei, ninguém vai rir).

    Servem como bom referencial para inciantes, mas minha preferência vai para listas “inusitadas”. Pode soar como mera gaiatice, mas a do Bad Sex (que conheci aqui pelo blog) acho genial. Lembro também aquela do Mencken, ‘Os 10 escritores mais chatos de todos os tempos’ (o overrated Dostoievski, por sinal, está nela).

  • Claudio Soares 27/01/2009em14:27

    Lembrei, por e-mail, ao “The Guardian”, sobre “Hopscotch”, de um certo autor latino-americano chamado Julio Cortázar.

  • Claudio Soares 27/01/2009em14:29

    Não que esse tipo de lista seja de grande importância, mas justiça lhe seja feita às vésperas dos 25 anos de sua morte.

  • josé rubens 27/01/2009em14:54

    Sérgio,

    Simplesmente ridícula, esta lista. Só pela profusão de nomes europeus e norte-americanos ela é etnocêntrica, preconceituosa e excludente. Tanto europeus quanto norte-americanos pensam e agem como se o mundo todo girasse ao redor deles. Só sabem olhar para o próprio umbigo.

  • Thiago Maia 27/01/2009em15:12

    O que me vexa são as divisões da lista, porque livros como O assassino cego, Robinson Crusoe, Quando éramos órfãos, Uma casa para o sr. Biswas, Gs: v, Linha de sombra, Abril despedaçado e Sobre Heróis e Tumbas, por exemplo, podem, e para mim devem, estar em todas fácil.

  • Tibor Moricz 27/01/2009em15:29

    Mas tem lá uns títulos de Ficção Científica (ou especulativa como algumas editoras preconceituosas preferem dizer).
    Quero fazer uma lista também. Daqueles livros que eu queria ter escrito, mas alguém mais competente escreveu antes. Daria bem mais que esses 1000 do Guardian.

  • Rafael 27/01/2009em15:38

    Tirant lo Blanc, alguém mencionou Tirant lo Blanc; e isso é prodigioso! Sim, sem dúvida, a maior ausência, aquela que invalida in limine a lista, é o Tirant lo Blanc. “El mejor libro del mundo”, como afirma retubantemente o Cura, na célebre passagem do Quixote.

    E, mudando ligeiramente de assunto, como de gustibus non est disputandum, penso eu, na minha modesta opinião, in my humble opinion, como diriam os anglófanos, que ridículo, ridículo mesmo é quem se dá ao trabalho de invalidar a lista com o argumento de que ela é “etnocêntrica”. Aliás, quem assim norteia seu juízo crítico não passa de um colonizado, alguém que segue piamente a moda acadêmica do multiculturalismo e do polically correct. Talvez seja fashion pensar dessa maneira, mas é um tanto kitsch levar a sério essas construções ianques.

  • Fernando Molica 27/01/2009em16:06

    O mais engraçado é ver que os caras não indicam exatamente “Dom Casmurro”, mas “Dom Casmurro Joaquim”, de Maria Machado de Assis. Hã? É sim, vejam só (ctrl+ v):

    Dom Casmurro Joaquim by Maria Machado de Assis

    Nosso Bruxo virou Bruxa, de prenome Maria. Quem diria…

  • MARCOS 27/01/2009em17:02

    falando em livros voces ja leram ANDRE VIANCO? quem ta enjoado de romencas que se passam em ambientes desconhecidos (NY, LONDRES, PARIS, CALIFORNIA ETC.. urghhh) tem de ler ANDRE VIANCO. Seus romances são todos no Brasil atual… lindas narrativas de ação envolvendo vampiros nas avinida paulista… exercito brasileiro perseguindo vampiros por são paulo e porto alegre… detonando um artefato atômico no litoral gaucho…. seus livros – OS SETE – SETIMO – BENTO – VAMPIRO REI ETC ETC..

  • Maiberg 27/01/2009em17:06

    Quanto ao comentário do Silvio Silva quero dizer: Eu ri da piada de crente .Esse negócio de lista tem la seu valor mas, colocar mil livros pra quem não é chegado é uma pá de cal.O cara pode pensar que se ele não leu nem meio livro mil então é pena perpétua.Acho que uma lista de 10 já daria pro gasto.Ta bom! Coloca 100 vai.

  • Claudio Soares 27/01/2009em17:11

    Molica, eles também erraram em “Everything is Illuminated” by JonathOn Safran Foer… Isso, sem falar nos acentos [faltantes] no nome do J. G. Rosa.

  • Rafael 27/01/2009em17:15

    John Updike acabou de falecer. Um câncer de pulmão o vitimou hoje, aos 76 anos de idade: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u495110.shtml

    Requiescat in pace.

  • Isabel Pinheiro 27/01/2009em17:20

    Por mais inúteis que sejam, e por mais que eu não as leve a sério, adoro listas. E, pelo jeito, mais um monte de gente, já que livros desse tipo de coisas pra fazer/ler/ver/comer/beber antes de morrer existem aos montes e vendem bem. E concordo com o Rafael a respeito do etnocentrismo. Lista é feita pra gente se divertir…

  • Alfredo 27/01/2009em17:34

    Não ter Cortázar é incrível mesmo.
    Ter O jardim dos Finzi-Cortinis, do Giorgio Bassani, e não ter O deserto dos tártaros, do Buzzati, também mostra apenas uma explicação: escolheram o que virou filme.

  • Pedro Curiango 27/01/2009em17:47

    Mais interessante para mim é colocar “Memórias Póstumas de Brás Cubas” na secção “State of the Nation…”

  • Augusto 27/01/2009em18:22

    Não só não tem Cortázar como não tem Borges, Vargas Llosa, Bioy Casares e Asturias. Além do Juan Rulfo citado pelo Sérgio. Não tive paciência pra ver livro por livro, mas parece que dos latinos só lembraram do Carpentier e do Garcia Márquez.

  • Din 27/01/2009em19:51

    Caro Augusto, só lembrando que a lista é apenas sobre novels (romances). Logo, nada de Borges, Shakespeare, Molière, Sófocles, etc.

    Abs’

  • denise bottmann 27/01/2009em22:11

    muito divertido!

  • Outro Paulo 28/01/2009em01:03

    Em relação à angústia em relação a livros não lidos: em certo momento deixei de ir a livrarias, pois não podia suportar a idéia de quanto ainda havia para ser lido… hoje, acho que estou curado. Mas nunca mais fiz listas de “livros a ler” com mais de três títulos… faz mal pra cabeça!

  • Mr. WRITER 28/01/2009em16:53

    Tem um bom número de livros de lá que eu li, mas fiquei feliz mesmo foi por ver na lista Neuromancer de William Gibson.
    Tem lá o Desonra do Coetzee que também me deixou muito feliz…

    Agora o amigo lá mais acima falar do André Vianco foi meio dose mesmo…
    Aí faltaria só colocar o Paulo Coelho na lista…

  • Mr. WRITER 28/01/2009em16:55

    Realmente, a ISabel tem razão, listas são puro divertimento…

    Essa aí não deixa a teoria dela fura… Só rindo mesmo.

  • Rafael B. Dourado 29/01/2009em10:09

    Como estão presentes Terry Pratchett e Douglas Adams, posso considerar essa uma boa lista.

    As duas séries destes dois ingleses resumem muito bem a minha lista de livros imperdíveis.

  • Mr. WRITER 29/01/2009em15:24

    RafaelB. Dourado,
    Cara, boa essa sua lembrança. Douglas Adams é impagável.

    A ficção nunca foi tão divertida como em seus livros.
    Abraços.

  • Joca 29/01/2009em17:12

    Pô, que ranhetice. Há dois livros de Machado de Assis na lista, pessoal! Não é extraordinário que haja dois do Machado e nenhum “Borges, Vargas Llosa, Bioy Casares e Asturias. Além do Juan Rulfo…”? Se bem vi, são quatro escritores de língua portuguesa citados, mas apenas Machado com dois livros. Fantástico! Celebremos, pombas!

  • Hefestus 29/01/2009em22:53

    Concordo que a ausência de Rulfo numa lista com MIL livros é criticável, bem como as ausências de Lobo Antunes, Cortázar – uma lista que não tem esses caras mas tem O Caçador de Pipas é algo muito estranho, admito.

    Mas também não dá para esquecer que é uma lista feita por um jornal inglês e que privilegia, por isso, alguns autores ingleses em detrimento de um olhar mais universal – só isso explica por que eles indicam cinco livros da Muriel Spark, seis de P.G. Wodehouse e toda, mas TODA a série Discworld do Pratchett (vai ter gente reclamando desta declaração, mas para mim o humor dele e do Douglas Adams não tem graça nenhuma, parece idolatrado por quem quer ler em inglês para esquecer que fala e vive em português).

    Ainda assim, é uma lista, pôxa, ela serve exatamente para se discordar dela – literatura não é o rancho da semana, pro qual é importante uma lista. Lista é pra divertir as massas, mesmo. Isso de “etnocentrismo” não cola. Tirando algum entulho, aí tem material suficiente para um curso introdutório completo de literatura.

    Ah, sim, e viva Machado.