Passados setenta anos da publicação de “Angústia”, reafirmada sua excelência artística no âmbito da literatura brasileira, Graciliano Ramos parece ter-se enganado sobre seu livro mais polêmico. É conhecido o desconforto do escritor em relação ao romance que necessitava, segundo ele, ser revisto até chegar ao osso, sem as repetições e os excessos que julgava defeitos a serem sanados. A prisão em 3 de março de 1936 o impediu de realizar a revisão desejada, antes que o livro fosse editado com o autor ainda na cadeia.
O “livro infeliz”, como Graciliano se refere a “Angústia” em “Memórias do cárcere”, vai aos poucos se impondo por meio de um processo de atração e repulsa, que marcará para sempre a postura do romancista diante da obra.
Em artigo de capa no jornal “Rascunho”, o professor de literatura Wander Melo Miranda, autor de “Graciliano Ramos” (PubliFolha), comemora os 70 anos de “Angústia”, do autor preferido de Heloísa Helena.
10 Comentários
Cada um tem seus 10 mais. Um dos meus é esse.
Às vezes, o que o escritor pensa de um livro dele é o que menos importa.
Eu gostei muito – e ponto final.
Chato demais. Mas aí já é culpa minha: não gosto de livros que tem um tom só, do início ao fim (isso inclue muitos clássicos).
“… autor preferido de Heloísa Helena”. Credencial desnecessária, hein? A arte de Graciliano Ramos se impõe por si só. Para que compuscá-la com a opinião de uma política, seja ela quem for?
Para fazer um gancho com a nota anterior, Rafael. E porque este blog tem senso de humor.
A senadora-candidata provavelmente usou de cabotinismo para nomear Graciliano como o seu preferido. Não que o escritor precise desse tipo de sentimento, longe disso. Ele, Machado e Guimarães Rosa são possivelmente os principais frequentadores na lista dos dez mais de meio-mundo de leitores. Mas, sendo-se político, é difícil declinar de certos condicionamentos. Um candidato baiano, por exemplo, jamais deixará de citar Jorge Amado ou João Ubaldo como os seus prediletos. Não há mal maior nisso. Gostaria apenas que os nossos homens públicos (ou 90 por cento deles) produzissem politicamente inesquecíveis Paulo Honório, Fabiano, Luis da Silva e tome etcs..
Eu estava até feliz, com imagens boas e saudáveis quando comecei a ler sobre Graciliano. Quando, repentinamente, levei um choque ao deparar com o nome de hh. Não estava esperando e foi o mesmo que acordar de um sonho bom ou levar um soco no olho. Cruzes!
Só pelacriação da cachorra Baleia no “Vidas Secas”, o Velho Graça já vale toda uma literatura de um povo.
Nascida no sertão de Alagoas, HH deve sentir realmente forte identificação com os personagens de Graciliano. É algo extra-literatura, mas provavelmente sincero.