Por Raissa Pascoal
Como já é tradição, a mesa de encerramento da 10ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) reuniu alguns dos autores convidados do evento para a leitura de seus livros favoritos. “Essa mesa celebra a razão de ser da festa: a literatura”, disse Miguel Conde, que apresentou a sessão Livro de Cabeceira, mediada pela criadora do evento, Liz Calder. Entre os escritores lidos, estavam o austríaco Stefan Zweig, o argentino Jorge Luís Borges, a brasileira Lygia Fagundes Telles e o português Fernando Pessoa.
Ao todo, nove convidados emprestaram a voz ao encerramento. Os primeiros a ler foram os francófonos Amin Maalouf, libanês, e Dany Laferrière, haitiano. Maalouf selecionou um texto de Zweig, autor de Brasil, País do Futuro, e Laferrière optou pelo pedaço de um conto do argentino Jorge Luís Borges, Funes, O Memorioso, sobre um rapaz com uma grande memória. “Há 30 anos, quando era um operário, entrei numa livraria e escolhi o livro mais elegante e livre da prateleira”, disse o escritor, lembrando seu encontro com o conto de Borges.
Depois de Laferrière, a portuguesa Dulce Maria Cardoso leu um excerto do livro Os Passos em Volta, de seu conterrâneo Herberto Hélder. Nos contos que compõem a obra, o autor levanta questões sobre identidade. O jornalista Millôr Fernandes, morto este ano, foi lembrado pelo gaúcho Luís Fernando Veríssimo, que apresentou parte do conto Imaginação.
As leituras se seguiram com o espanhol Vila-Matas, em sua terceira mesa só nesta edição. “Vou ler o mesmo poema que li aqui na Flip de 2005, chamado Ao Volante de Chevrolet pela Estrada de Sintra. Não tenho motivos para mudar, porque não encontrei um poema melhor”, disse o catalão sobre o poema feito por Fernando Pessoa sob o heterônimo de Álvaro de Campos. “Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra, / Ao luar e ao sonho, na estrada deserta, / Sozinho guio, guio quase devagar, e um pouco.”
Em seguida, a cubana Zoé Valdés leu um conto da brasileira Lygia Fagundes Telles, que conheceu em Aix-en-Provence. “Sua literatura é música e desejo contido”, disse. O escolhido foi O Moço do Saxofone. O espanhol Javier Cercas e o colombiano Juan Gabriel Vásquez escolheram trechos da segunda parte de Dom Quixote e do romance O estaleiro, do uruguaio Juan Carlos Onetti, respectivamente.
Único a falar inglês na mesa, o britânico Ian McEwan foi buscar no irlandês James Joyce o trecho desejado. “É um dos melhores contos do século XX”, disse, referindo-se a Os Mortos, da coletânea Dublinenses. A mesa fechou a programação oficial da 10ª edição da Flip, que teve público recorde e ainda não tem data fechada para 2013.
5 Comentários
É Funes, nãu Lunes.
“O moço do saxofone” é um conto e não poema de Lygia Fagundes Telles. Aproveito para parabenizar o blog pela cobertura. Abraços
João, claro que é um conto (e do melhor livro da Lygia em minha opinião, “Antes do baile verde”!). Agradeço a correção em meu nome e no da Raissa, autora deste post. Pedimos desculpas pelos atropelos típicos de uma cobertura como essa. Um abraço.
O poema ‘Ao Volante de Chevrolet pela Estrada de Sintra’ me fez lembrar de umas ilustrações fantásticas de um artista gaúcho (se não me engano), para esse e outros poemas de Fernando Pessoa. Encontrei-as há muito tempo, nos primórdios da internet no Brasil. O mais impressionante é que as ilustrações foram produzidas, ponto a ponto, no Paintbrush, aquele aplicativo para desenhos que até hoje vem com o Windows e que na época era ainda mais primitivo. Infelizmente não me lembro do nome do artista.
http://f.imgtmp.com/GNOnr.jpg
http://f.imgtmp.com/COWq9.jpg
Obs.: Os links acima são temporários (um ou dois dias).
Sobre a nacionalidade de Zweig, a informação correta é a do primeiro parágrafo, e não a do segundo: ele era austríaco e não alemão… Evidentemente, era um escritor germanófono.