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Bartleby, Bellow, Tezza e Vargas Llosa: os links de segunda
Pelo mundo / 18/10/2010

Bartleby, o escriturário de Herman Melville, sofria de síndrome de Asperger, pesquisadores acabam de anunciar. Supunho que, diante dessa informação, eu devesse escalar agora os píncaros da revelação literário-científica. Mas prefiro não. Saul Bellow, em carta de 1959 ao colega Bernard Malamud, que queria convencê-lo a entrar para o sindicado dos escritores, recusou a proposta dizendo que “o editor e o agente não são os inimigos. Os inimigos (e eu tampouco os hostilizo demais) são cento e sessenta milhões de pessoas que não leem nada”. Um volume com a maior parte das cartas escritas por Bellow será publicado mês que vem nos EUA. Sem link aproveitável (ah, Estadão…), mas vale assim mesmo: a resenha do Sabático sobre o novo romance de Cristovão Tezza, “Um erro emocional”, chama o livro de “Um erro promocional”. Ato falho? Diante da expectativa mais ou menos generalizada – e frustrada, o que é um bom sinal – de que Tezza poria na rua um livro tão confessional e dramático quanto o best-seller “O filho eterno”, é inevitável achar que sim. No Babelia, as possíveis semelhanças entre dois ganhadores do Nobel, Albert Camus e Mario Vargas Llosa, que se encontraram em Paris numa certa manhã de…

Os melhores começos inesquecíveis (II)

O primeiro parágrafo de “O estrangeiro” (Record, tradução de Valerie Rumjanek), novela que lançou em 1942 as bases da reputação do escritor franco-argelino Albert Camus como ficcionista-ensaísta-filósofo, é mais que um começo inesquecível. É a epígrafe de uma época e um insistente eco no fundo de parte significativa da literatura escrita desde então. Mersault, o enigmático narrador que entra em cena relatando com indiferença a morte da mãe, matará em seguida um árabe pelo mais fútil dos motivos e acabará condenado por ser incapaz de sentir – ou mesmo simular – arrependimento. Símbolo de um tempo de desconexão radical entre o eu e o mundo? Certamente, entre outras leituras possíveis. Mas o achado maior de “O estrangeiro”, que torna tão matadores seus primeiros acordes, é a voz de Mersault, seu estilo distanciado, de frases curtas e com pouco espaço para a reflexão. Jean-Paul Sartre, primeiro e principal analista (e avalista) do livro, definiu esse estilo como composto de “frases separadas umas das outras pelo vácuo”, como se “o mundo fosse destruído e renascesse a cada frase”. Mais tarde, Camus teria alegadamente reconhecido no tom de “O estrangeiro” a influência da literatura policial hard-boiled americana dos anos 1930, em especial a…