Por Maria Carolina Maia A literatura social do carioca Rubens Figueiredo (do premiado Passageiro do Fim do Dia) e do sergipano Francisco J. C. Dantas (de Os Desvalidos) pautou a mesa A Imaginação Engajada, neste domingo, na Flip. Mas não só ela. Os escritores falaram da sua forma de retratar a realidade e fizeram o público rir contando causos e piadas. O falso tímido Dantas, 71, que debutou na literatura aos 50 com Coivara da Memória (Estação Liberdade), subiu ao palco com um calhamaço de anotações. Sua primeira fala foi tão prolixa e distante do tema proposto – ele agradeceu o convite da Flip e a boa hospedagem que vem recebendo em Paraty, para então relembrar episódios de viagens que fez – que o mediador pediu autorização para passar a palavra a Figueiredo. “Vamos ouvir agora Figueiredo, se o senhor deixar, é claro”, disse , o professor de literatura João Cezar de Castro Rocha, dando uma indireta a Dantas. “Uma vez, participei da Jornada Literária de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, e achei lindo como todo dia, debaixo do travesseiro, a camareira da pousada onde me hospedei deixava um chocolatinho”, contava Dantas antes de ser interrompido por Castro…
Primo Levi publicou “É isto um homem?” em 1947. Vendeu 150 exemplares. Depois da recusa de 27 editores, “Molloy”, de Samuel Beckett, foi publicado pelas Éditions de Minuit e vendeu 694 exemplares. “Malone morre” e “O inominável”, lançados logo em seguida, venderam 241 e 476 exemplares, respectivamente. “Cidade de vidro”, parte da Trilogia de Nova York, de Paul Auster, foi recusado por 17 editores. “A amante de Wittgenstein”, de David Markson, sofreu 54 recusas. Laurence Sterne pagou a primeira edição de “Tristram Shandy”. José Rubem Fonseca concluiu seu primeiro livro aos 18 anos. Um editor de fundo de quintal recusou os contos e perdeu os originais, que não tinham cópia. Aos 38, lançou seu segundo livro. Em seis anos, a primeira edição de “A interpretação dos sonhos” vendeu 351 exemplares. Sob o título Estatísticas e fatos, as pepitas acima, ao lado de outras de teor semelhante, constam da pasta de textos avulsos que o escritor Théo, defunto, encarrega sua ex-namorada de fazer chegar às mãos do colega catalão Enrique Vila-Matas no romance “Se um de nós dois morrer”, de Paulo Roberto Pires (Alfaguara, 124 páginas, R$ 36,90). O livro é uma sofisticada brincadeira literária que consegue a proeza de ser…
Advertência: esta história é um conto amoral que diz mais sobre os mecanismos do sucesso editorial do que o estudo aprofundado das obras completas de Paulo Coelho. No fim do ano passado, aparentemente julgando prescrito seu crime, o veterano produtor de Hollywood Bob Rehme recordou um episódio pitoresco que vivera em 1969 como executivo da Paramount. Rehme estava encarregado de promover o filme “Bravura indômita” (True grit) – o primeiro, que valeu o Oscar a John Wayne e que não deve ser confundido com a obra dos irmãos Coen que estreia hoje nos cinemas brasileiros. Ocorre que a Paramount havia comprado os direitos do livro homônimo, de autoria de Charles Portis (no qual se baseiam os dois filmes e que está sendo lançado aqui pela Alfaguara), antes mesmo de sua publicação. Apostava num sucesso de vendas, sobre o qual erguera toda a estratégia comercial do filme: “baseado no best-seller” era uma frase fundamental nos cartazes. Mas, embora o livro tivesse colhido boas resenhas, o aguardado sucesso se recusava a vir. E agora? Fácil: aproveitando-se do fato significativo de que uma pequena fração da verba promocional à sua disposição era suficiente para comprar milhares de exemplares de qualquer livro do mundo…
O escritor peruano Mario Vargas Llosa, anunciado agora há pouco pela Academia Sueca como vencedor do prêmio Nobel de Literatura de 2010, é um dos nomes mais incontestáveis a receber a honraria em muitos anos. Um dos mais destacados representantes da geração do chamado “boom latino-americano” dos anos 1960-70, Vargas Llosa, 74 anos, nascido em Arequipa, mora hoje em Nova York e leciona na Universidade de Princeton, em Nova Jersey. É autor de diversos romances que combinam sucesso de público com o respeito da crítica, como “A cidade e os cachorros”, “Conversa na catedral”, “A guerra do fim do mundo” (sobre Canudos), “Tia Julia e o escrevinhador”, “Pantaleão e as visitadoras” e “Travessuras da menina má”. Seu próximo romance, “O sonho do celta”, será lançado em breve. A obra de Vargas Llosa vem sendo relançada no Brasil pela Alfaguara e uma coletânea de artigos e ensaios, “Sabres e utopias”, acaba de sair por aqui aqui pela editora Objetiva, do mesmo grupo. Nos ensaios literários deste livro, Vargas Llosa enfoca nomes como Jorge Luis Borges, Cabrera Infante e Jorge Amado, classificado por ele como o único escritor a merecer ir para o céu. Sua militância latino-americanista fica evidente, mas a literatura…