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Literatura brasileira e o complexo de vira-lata
Vida literária / 08/04/2011

Num artigo do escritor gaúcho Antonio Xerxenesky, encontro esta citação – que não conhecia – retirada de uma entrevista do chileno Roberto Bolaño, um dos grandes renovadores da prosa de ficção nos últimos vinte anos, morto em 2003. Bolaño esboçou uma instigante tese de fumaças marxistas sobre a quase total ausência de uma ficção de gênero no cenário da literatura latino-americana: o subdesenvolvimento não deixa. O que ele diz sobre o fantástico pode ser transposto sem dificuldade para a ficção científica, o policial, o terror e qualquer dessas províncias onde moram as obras “menores” que, embora passem nos últimos anos por uma efervescência inédita no Brasil, a chamada grande crítica costuma desprezar: Escritores que cultivaram o gênero fantástico, no sentido mais restrito do termo, temos muito poucos, para não dizer nenhum, entre outras coisas porque o subdesenvolvimento não permite a literatura de gênero. O subdesenvolvimento só permite a obra maior. A obra menor é, na paisagem monótona ou apocalíptica, um luxo inalcançável. Claro, isso não significa que nossa literatura esteja repleta de obras maiores, muito pelo contrário, mas sim que o impulso inicial só permite essas expectativas, que logo a mesma realidade que as propiciou se encarrega de frustrar de…

O leitor está morto?
Vida literária / 08/11/2010

Muito interessante o ensaio do crítico argentino Damián Tabarovsky publicado ontem no bom caderno Ilustríssima da “Folha de S. Paulo”, sob o título “O escritor sem público”. Melhor avisar logo que se trata de coisa cabeçuda, cheia de frases como esta: “Nessa comunidade negativa, a leitura não se impõe sob o modo da distribuição (como no mercado) nem no da circulação (como na academia), mas como generalidade imaginária da particularidade”. O interesse do texto, apesar da opacidade, reside no fato de o autor buscar declaradamente uma superação do impasse em que parece ter empacado o debate literário das últimas décadas: a oposição frontal e pouco inteligente entre literatura “de mercado”, com sua ênfase na narrativa, e literatura “acadêmica” (isto é, valorizada por acadêmicos, não necessariamente e na verdade quase nunca escrita por eles), com sua apologia do trabalho de linguagem. Essa busca de síntese tem valor em si. O problema é que, se entendi o que Tabarovsky quis dizer, sua proposta de um novo radicalismo – que ele chama de literatura “de esquerda”, tomando o cuidado de ressalvar que o rótulo não coincide com o de posições político-partidárias – desemboca na exclusão sumária do leitor: “Em troca, é preciso pensar…

Essa incômoda sensação de que os zumbis somos nós
Vida literária / 15/09/2010

Não é fácil a vida de um humorista – ou de um escritor com inclinação satírica, o que no caso dá no mesmo – no país da piada pronta. Em janeiro deste ano, impressionado com o número de lançamentos internacionais surgidos na esteira do arrasa-quarteirão “Orgulho e preconceito e zumbis” (aqui lançado em março pela Intrínseca), que enxerta mortos-vivos no clássico de Jane Austen, fiz um post no Todoprosa jogando algumas ideias para autores e editores brasileiros que quisessem vampirizar esse escracho do mashup, coisas como “Dom Casmurro na máquina do tempo” e “Grande sertão: aliens”. E perguntei: “Quando será que o Brasil, sempre atrasadinho, vai pular no bonde dessa vibrante forma de vanguarda literária?” A resposta teve que esperar apenas oito meses – menos que uma gestação completa. A editora Leya está lançando este mês, pelo selo Lua de Papel, quatro títulos claramente inspirados nessa tendência: “Dom Casmurro e os discos voadores”, “O alienista caçador de mutantes”, “Senhora, a bruxa” e “Escrava Isaura e o vampiro” (sei não, mas minhas sugestões pareciam melhores). A Leya leva seu lote ao mercado depois da Tarja Editorial, que atua no nicho fantástico e tem nas prateleiras “Memórias desmortas de Brás Cubas”, mas…