As oficinas literárias costumam ser responsabilizadas pela crescente padronização e achatamento da narrativa contemporânea. Isso é injusto. É a ansiedade dos escritores temerosos de serem excluídos de sua carreira de eleição, ao lado da crença compartilhada de que nós sabemos o que é a literatura e como produzi-la, que encoraja as pessoas a escrever livros semelhantes. Não, o trecho acima não é de Saul Bellow (foto), que só será invocado algumas linhas abaixo: foi extraído deste artigo (em inglês), publicado por Tim Parks no blog do The New York Review of Books. O texto vem provocando boas conversas na blogosfera literária ao atacar, em busca de uma visão ampla, diversos aspectos polêmicos de um certo estado da literatura hoje – um balaio em que se engalfinham aspirantes e escritores “profissionais” em número inédito, cada um com seu agente e seu perfil no Facebook, todos fazendo mais ou menos a mesma coisa, segundo a avaliação pessimista do autor: Na verdade, ninguém está esperando nada muito novo. Apenas novas versões do velho. Muitas vezes, ao ler livros para resenhá-los ou talvez como jurado de um prêmio, esbarro em romances caprichados que “fazem literatura” como ela é conhecida. A literatura de ficção tornou-se…
Não é simples dar conta da notícia de que Vladimir Putin, ex-presidente, atual primeiro-ministro e novamente candidato à presidência da Rússia, propôs num longo artigo de jornal – intitulado “Rússia: a questão étnica” – a formulação de uma lista oficial de cem livros que traduzam um certo espírito russo, a serem adotados nas escolas de todo o país como forma de fortalecer sua unidade cultural. O jornalista russo Alexander Nazaryan, residente nos Estados Unidos, optou neste artigo (em inglês) por encarar a notícia pelo lado escuro – o que no caso do primeiro-ministro, ex-agente da KGB, faz sentido – e comparar Putin a Adolf Hitler no nacionalismo exacerbado e manipulador. “Engenharia social por meio de uma literatura sancionada pelo Estado: nenhum outro ato de Putin até agora foi tão escancaradamente soviético em seu desejo de manipular e subjugar o intelecto humano”, alarmou-se Nazaryan, prevendo como contraponto ao cânone oficial uma lista de livros banidos, embora Putin não toque neste assunto. Eis o lado ruim, certo, mas qual seria o bom? Simples: o fato mesmo de acharem – Putin e Nazaryan – que a literatura tem essa importância toda em pleno século 21. Tanto as ideias do primeiro-ministro quanto as de…