A ideia de dividir a participação do historiador Robert Darnton na Flip em duas – nas mesas “O livro: capítulo 1”, ontem à noite, e “O livro: capítulo 2”, hoje de manhã – parecia boa, não só como forma de organizar a grande massa de informação trazida pelo convidado mas também como espelho de uma linha histórica que a presente revolução tecnológica quebra inevitavelmente em pré e pós: a primeira conversa foi dedicada à história do velho códex, o livro de papel, e a segunda voltada para os desafios impostos pela cultura digital. Bem, funcionou exatamente assim. O único problema é que os espectadores podem ter saído com a impressão de que o tempo do livro de papel era uma chatice e que toda a diversão vai começar agora, tal foi a disparidade de temperatura entre a primeira mesa, uma conversa de ares acadêmicos mediada pela historiadora Lilia Schwarcz, e a segunda, uma entrevista conduzida pela jornalista Cristiane Costa. Diretor da Biblioteca de Harvard e pesquisador especializado no Iluminismo francês, Darnton teve ontem à noite a companhia de outro historiador dedicado à investigação da leitura, Peter Burke. Não por acaso, os dois estavam loucos por fazer pontes entre o passado…
Falar sobre literatura não tem nada a ver com escrever, da mesma forma que ouvir escritores falando sobre literatura passa muito longe da experiência de ler. Eis o drama ou o pecado de origem de qualquer evento como a Flip: o que há de mais importante ou vital no objeto que se propõe celebrar sempre escapa entre os dedos. O que não é novidade nenhuma. Mas às vezes ocorre um caso como o da mesa “Fábulas contemporâneas”, hoje à tarde: mais na forma que no conteúdo de suas falas, Reinaldo Moraes (“Pornopopeia”), Ronaldo Correia de Brito (“Galileia”) e Beatriz Bracher (“Antonio”) conseguiram dar a uma plateia menos que lotada uma boa ideia do trabalho de cada um. Reinaldo foi a presença mais engraçada e provocadora, Ronaldo a mais solene e “literária”, Beatriz a mais tímida e tateante. A homogeneidade nunca foi o forte da “mesa dos autores brasileiros” da Flip (sim, trata-se de política de cotas mesmo), que rola sempre às quintas-feiras, mas esta foi especialmente heterogênea. No papel de mediadora, a crítica Cristiane Costa fez o possível para encontrar um fio que desse coesão ao trio. E encontrou uma fórmula engenhosa: a de que os três autores a seu…