Enrique Vila-Matas publicou na última sexta-feira no “El País” o artiguete que traduzo abaixo: Embora inconciliáveis entre si, três atitudes diante da arte literária podem ser igualmente fascinantes. No fundo, as três respondem à questão de como posicionar-se diante do mundo, como viver. Se me perguntassem, seria difícil precisar com qual me afino mais, pois todas têm a mesma carga de verdade íntima, o que não faz mais que comprovar que, como sustentava Niels Bohr, o oposto de uma verdade não é uma mentira, mas outra verdade. Mesmo assim, reconheço que por algum tempo tive minhas preferências e admirei, acima de todas, a atitude elegante dos solitários, dos que têm desejo de clausura, de torre de marfim, uma necessidade de isolamento para atender apenas à sua obra. Tudo mudou quando me dei conta de que estava reparando apenas em criadores de indiscutível estatura moral e intelectual; andara estudando, por exemplo, Wittgenstein, lendo tudo sobre o ano que ele passou em radical solidão na cabana de Skjolden, na Noruega, onde sentiu uma grande euforia ao ver que podia se dedicar inteiramente a si mesmo, ou melhor, ao que acreditava ser a mesma coisa, a sua lógica, o que lhe permitiu ter…
Primo Levi publicou “É isto um homem?” em 1947. Vendeu 150 exemplares. Depois da recusa de 27 editores, “Molloy”, de Samuel Beckett, foi publicado pelas Éditions de Minuit e vendeu 694 exemplares. “Malone morre” e “O inominável”, lançados logo em seguida, venderam 241 e 476 exemplares, respectivamente. “Cidade de vidro”, parte da Trilogia de Nova York, de Paul Auster, foi recusado por 17 editores. “A amante de Wittgenstein”, de David Markson, sofreu 54 recusas. Laurence Sterne pagou a primeira edição de “Tristram Shandy”. José Rubem Fonseca concluiu seu primeiro livro aos 18 anos. Um editor de fundo de quintal recusou os contos e perdeu os originais, que não tinham cópia. Aos 38, lançou seu segundo livro. Em seis anos, a primeira edição de “A interpretação dos sonhos” vendeu 351 exemplares. Sob o título Estatísticas e fatos, as pepitas acima, ao lado de outras de teor semelhante, constam da pasta de textos avulsos que o escritor Théo, defunto, encarrega sua ex-namorada de fazer chegar às mãos do colega catalão Enrique Vila-Matas no romance “Se um de nós dois morrer”, de Paulo Roberto Pires (Alfaguara, 124 páginas, R$ 36,90). O livro é uma sofisticada brincadeira literária que consegue a proeza de ser…