Hora de dar o resultado do pequeno concurso que lancei aqui na semana passada, valendo um exemplar de “Sobrescritos” para o primeiro leitor que citasse um grande escritor “inteiramente tapado para a graça, uma porta em termos de senso de humor”. A ideia era submeter ao teste da interatividade internética uma conclusão provisória com a qual eu andava brincando: a de que só escritores medíocres podem ser inteiramente desprovidos de humor. A participação dos leitores foi brilhante e, no meu entendimento, provou acima de qualquer dúvida que eu estava errado. Sim, é possível fazer grande literatura e ao mesmo tempo ser a menos espirituosa das criaturas. Raro, sem dúvida, mas possível. Uma das provas disso é Euclides da Cunha, nome com o qual Luis Nascimento, o primeiro a sugeri-lo, assegurou o prêmio. Não vou dizer que reli “Os sertões” de ponta a ponta para chegar a tal conclusão, mas acredito ter folheado páginas suficientes para confirmar o que a memória já sugeria: não existe a mais pálida sombra de sorriso ali. (O curioso exercício de desclassificação do autor ensaiado por Rafael Souza, substituindo a figura de Antônio Conselheiro pela de Lula, tem sua graça, mas ela provém de Rafael e…
O alemão Berthold Zilly, tradutor de Euclides da Cunha e Machado de Assis, e o americano Benjamin Moser, de recente sucesso com sua biografia de Clarice Lispector, chamada “Clarice,”, discutiram por que a literatura brasileira tem presença relativamente discreta no cenário internacional. O penúltimo encontro da Flip, numa Tenda dos Autores esvaziada pela debandada de domingo, foi simpático, com os dois falando um português mais que decente. E levou a uma conclusão de ululante obviedade: o Brasil investe muito pouco, em termos institucionais, na divulgação de sua literatura no exterior. Até chegar a esse lugar comum, entretanto, a conversa trilhou caminhos interessantes, que incluíram uma “defesa” de Paulo Coelho feita por Moser (o que lhe valeu um incompreensível princípio de vaia) e a informação, dada por Zilly, de que foi convidado – mas ainda não aceitou – a fazer uma nova tradução de “Grande sertão: veredas”. Abaixo, alguns trechos do debate: BERTHOLD ZILLY “Uma importante editora de Munique me pediu para fazer uma nova tradução do ‘Grande sertão: veredas’, mas ainda estou pensando se quero me enfurnar por dois ou três anos. É um tempo em que eu não poderia aceitar um convite como este da Flip, por exemplo.” “A…