Quem esperava o tom reverente e meio anódino que é típico das homenagens festivas deve ter levado um susto com a palestra de Fernando Henrique Cardoso sobre Gilberto Freyre, a primeira da Flip 2010, encerrada há pouco. Ponto para a Flip. “É muito fácil estraçalhar Gilberto Freyre”, disse o ex-presidente da República na mesa intitulada “Casa grande & senzala”, ao lado do quase mudo historiador Luiz Felipe de Alencastro. Falando de improviso, sem consultar em momento algum o calhamaço que tinha nas mãos e que disse ter escrito para a ocasião, FHC chamou o sociólogo pernambucano de racista, contraditório, conservador, pouco rigoroso como cientista social – “muitas vezes ele nem conclui o raciocínio, se perde, e você continua a ler porque ele escreve muito bem e o leva no embalo” – e defensor imperdoável do colonialismo português em plena vigência do regime salazarista. Passou perto de dizer que seria melhor a organização do evento ter homenageado Sérgio Buarque de Hollanda, autor de “Raízes do Brasil”, contemporâneo de Freyre. De toda forma, deixou o pai do Chico como sugestão para o futuro. Isso lá é homenagem? Por incrível que pareça, é, pela razão simples de que ideias que não provocam controvérsia…