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‘Como funciona a ficção’: quem disse que a literatura morreu?
Resenha / 11/03/2011

Se tivermos sorte, e bota sorte nisso, o livro “Como funciona a ficção” (Cosac Naify, tradução de Denise Bottmann, 232 páginas, R$ 49,00), lançado em 2008 pelo crítico inglês James Wood, cairá entre nós como uma bomba de efeito moral. Claro que esta é só uma frase de efeito (moral?) e que um simples volume de crítica literária dificilmente provocará tal estrago. Isso não altera o fato de que, num mundo ideal, seria de esperar que depois dele uma série de personagens que atravancam nossa vida literária saíssem correndo em busca de abrigo, do pequeno resenhista movido por cordialidades buarquianas ao crítico acadêmico adestrado por décadas de teoria e estudos culturais para odiar tudo o que cheire a literatura. Simpatizemos ou não com suas idiossincrasias (eu simpatizo com algumas delas), Wood é tão apaixonado pela coisa que não se furta a cair no pasmo boquiaberto diante de certa tirada poética de Virginia Woolf no romance “As ondas”: “Sinto-me mortificado com essa frase; um pouco porque não consigo explicar de jeito nenhum por que ela me comove tanto”. Nessa cândida confissão de impotência reside, paradoxalmente, o maior poder de “Como funciona a ficção”. Egresso da crítica literária jornalística, que exerceu por…

Sobre o artigo de Italo Moriconi no ‘Prosa’
Vida literária / 22/11/2010

Ao longo de três décadas, dos anos 60 aos 90, o ensino universitário da literatura desconstruiu o fetiche da “boa literatura” em nome de uma ciência/política geral dos discursos e da noção do texto como objeto do desejo estético, autorizado por disciplinas que iam desde a psicanálise e a antropologia até os marcos existenciais e estéticos de um contexto favorável ao anticonvencional, às experimentações, às vanguardas tardias ou pós-modernas, aos minimalismos antinarrativos. Tudo isso mudou. As sucessivas levas de novos escritores surgidas nos últimos anos, com algumas exceções, não têm estado nem um pouco interessadas em desconstruir o signo literário ou questionar convenções de qualquer tipo, até porque esse questionamento já se tornara ele próprio convencional e repetitivo. Elas têm se mostrado interessadas em recuperar e praticar o valor positivo do fetiche literário enquanto algo pragmático. Sobretudo estão interessadas em buscar seu público não através da mediação da academia (como ocorrera em parte no caso da geração 70) e sim na relação direta com as clássicas instituições do mercado e da vida literária extra-acadêmica. O imperdível artigo “A reinvenção do fetiche literário”, de Italo Moriconi, publicado no Prosa & Verso do último sábado, faz a necessária – ainda que tardia…

Para escrever uma boa resenha
Vida literária / 12/07/2010

Pensando em como ajudar os leitores que quiserem participar do concurso de resenhas promovido aqui no vizinho “Veja Meus Livros” (saiba mais), lembro-me das cinco regras para uma boa crítica jornalística formuladas há décadas pelo escritor americano John Updike, que morreu ano passado. Uma resenha no fundo é um gênero fundamentalmente livre. Ressalvada a obrigação de trazer informações básicas sobre o livro em questão, vai ser tão boa quanto a leitura de quem a escreve. Isso quer dizer que não se trata de uma receita a ser seguida passo a passo, mas vale pelo menos refletir sobre os toques do autor do recém-relançado (pela Companhia de Bolso) “As bruxas de Eastwick”: 1. Tente entender o que o autor quis fazer, e não o culpe por não conseguir fazer aquilo que não tentou. 2. Transcreva trechos da prosa do livro em extensão suficiente – pelo menos uma passagem mais longa – para que o leitor da resenha possa formar sua própria impressão. 3. Confirme sua descrição do livro com uma citação do próprio, mesmo que só uma frase, em vez de fazer apenas um resumo vago. 4. Vá devagar com o resumo da trama, e não entregue o fim. 5. Se…