Nos anos 1970, a pauta literária nacional se refugiou na universidade. (…) Se criou ali de certa forma o ‘pior’ de dois mundos. Surgiu a figura do professor-escritor. Eu fui um. O discurso da universidade tem a pressuposição de verdade. A universidade é um lugar de organização do pensamento. A perspectiva de quem cria na literatura é substancialmente diferente. A verdade não interessa para a criação literária. A ligação com a universidade brasileira criou essa relação esquizofrênica entre o discurso da ciência e o da arte, como se fosse uma coisa só. Isso teve um efeito devastador sobre a prosa brasileira. A prosa romanesca se apagou ao longo dos anos 1970 e 1980. Achei boa e – mais uma vez – corajosa a entrevista do escritor e ex-professor universitário Cristovão Tezza à “Folha de S.Paulo” de ontem. Houve quem visse ali preconceito contra a universidade, mas fará algum sentido falar em preconceito quando quem emite tais juízos teve uma intensa vivência de mais de duas décadas no meio acadêmico? O autor de “O filho eterno” pode se enganar no diagnóstico, naturalmente, e um certo exagero argumentativo me parece inegável em suas afirmações, mas seus conceitos nada têm de predeterminados. E…
Muito interessante o ensaio do crítico argentino Damián Tabarovsky publicado ontem no bom caderno Ilustríssima da “Folha de S. Paulo”, sob o título “O escritor sem público”. Melhor avisar logo que se trata de coisa cabeçuda, cheia de frases como esta: “Nessa comunidade negativa, a leitura não se impõe sob o modo da distribuição (como no mercado) nem no da circulação (como na academia), mas como generalidade imaginária da particularidade”. O interesse do texto, apesar da opacidade, reside no fato de o autor buscar declaradamente uma superação do impasse em que parece ter empacado o debate literário das últimas décadas: a oposição frontal e pouco inteligente entre literatura “de mercado”, com sua ênfase na narrativa, e literatura “acadêmica” (isto é, valorizada por acadêmicos, não necessariamente e na verdade quase nunca escrita por eles), com sua apologia do trabalho de linguagem. Essa busca de síntese tem valor em si. O problema é que, se entendi o que Tabarovsky quis dizer, sua proposta de um novo radicalismo – que ele chama de literatura “de esquerda”, tomando o cuidado de ressalvar que o rótulo não coincide com o de posições político-partidárias – desemboca na exclusão sumária do leitor: “Em troca, é preciso pensar…