Esta semana esbarrei em duas notícias pouco comentadas que, embora inteiramente desvinculadas uma da outra, são bons exemplos das linhas que a cultura digital traça em sua atarefada remarcação do território da inteligência coletiva, cada uma numa extremidade – a da ampliação da inteligência e a da ampliação da burrice. Tendo como único ponto em comum o fato de terem sido garimpados na banda anglófona da rede (onde, como se sabe, desenrola-se a vanguarda da revolução eletrônica), estou falando dos seguintes nacos de informação: 1. Empreendimento conjunto de duas universidades americanas, a Brown University e a University of Tulsa, The Modernist Journals Project disponibiliza gratuitamente na internet, em pdf, versões escaneadas de revistas e jornais de língua inglesa (de diversos países) que tiveram relevância para o modernismo artístico, sobretudo literário, entre os anos de 1890 e 1922. Trata-se de um trabalho em andamento que disponibiliza – e pretende disponibilizar cada vez mais – material raríssimo, até então encontrável somente em grandes bibliotecas e mesmo assim quase nunca em conjunto, a qualquer pessoa que tenha acesso a uma lan house em qualquer ponto do planeta. 2. Em um artigo intitulado 25 razões para o Google odiar o seu blog (em inglês),…
Depois da decisão do juiz americano que refreou o apetite de digitalização universal do Google, ontem, vale a pena recuperar o trecho mais aplaudido da palestra que o historiador Robert Darnton fez na Flip do ano passado: Em primeiro lugar, devo dizer que admiro o Google, que fez coisas maravilhosas, e não quero soar como um D. Quixote. A digitalização do conhecimento é uma grande oportunidade e um grande risco. O Google já digitalizou cerca de 2 milhões de livros que estão em domínio publico. Não cobra pelo acesso e ganha discretamente com publicidade, mas isso não me incomoda. O que me preocupa é a comercialização do nosso patrimônio cultural. Na Biblioteca de Harvard temos 14 milhões de livros. O Google nos procurou e propôs digitalizar tudo sem custo para nós, mas em troca eles nos cobrariam pela leitura em formato digital. Isso é inaceitável. Estão criando o maior monopólio já visto, um monopólio de informação. Não acho correto comercializar uma biblioteca que foi formada ao longo de séculos e deixar isso na mão de uma empresa que precisa gerar lucro para seus acionistas. A República das Letras, com seu acesso universal ao conhecimento, ideal do seculo 18, tem uma…