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Gore Vidal (1925-2012) deixa a igreja mais vazia
Pelo mundo / 01/08/2012

Nossa adorável, vulgar e humaníssima arte [o romance] está num de seus finais, se não estiver no fim. Mas isso não é motivo para não querer praticá-la, ou mesmo lê-la. De qualquer modo, como sacerdotes que já se esqueceram do sentido das preces que entoam, continuaremos por um bom tempo falando de livros e escrevendo livros, fingindo não notar, enquanto isso, que a igreja está vazia e os paroquianos foram embora para algum lugar a fim de venerar outros deuses, quem sabe em silêncio ou com novas palavras. O escritor americano Gore Vidal escreveu o trecho acima num ensaio publicado em 1967 – bem antes, portanto, da onda digital que transformou em lugar-comum prever o fim do romance. Ao morrer ontem, aos 86 anos, em sua casa em Los Angeles, vítima das complicações de uma pneumonia, o ficcionista, roteirista e polemista que era um dos últimos grandes nomes da galeria de escritores-celebridades deixou a igreja um pouco mais vazia. Seu pessimismo era parte inseparável de uma personalidade complexa em que um profundo esnobismo aristocrático se aliava à coragem de reafirmar ideias e comportamentos que lhe eram caros – laicismo, aversão ao patriotismo e à demagogia, homossexualidade – sem concessão às…