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Coisas do mundo, minha nega: o anti-Roth, Mãe, Hilda etc.
Pelo mundo , Vida literária / 28/11/2012

Não, Roth não abandonou sua arte, não enterrou sua varinha como Próspero. Foi a arte que lavou suas mãos diante desse escritor irremediavelmente trivial e constrangedor. Tomando de empréstimo o título do primeiro livro Roth, a coletânea de contos ‘Adeus, Columbus’: Adeus, Philip! E, olhe, a porta da rua é a serventia da casa. O artigo publicado pelo crítico americano Lee Siegel no “Estadão” de domingo, chamando de “absurdo sem tamanho” a comoção em torno da aposentadoria de Philip Roth, afoga um ou dois argumentos interessantes num caldeirão tão cheio de ódio e amargura que a coisa acaba por entornar inteira em seu colo. Siegel, vale lembrar, é um notório defensor da tese de que o romance está morto. Descobrir que o público ainda se importa tanto com o que um romancista faz ou deixa de fazer deve ser mesmo muito frustrante. * Ano passado, poucos dias depois de se tornar o maior fenômeno de popularidade instantânea da história da Flip, o escritor português Valter Hugo Mãe me disse, numa longa conversa que se transformou nesta reportagem: “Muitas coisas na vida são momentos. Eu não me admirava nada de vir aqui no próximo ano e saber que ninguém mais se…

Quem não gosta de sexo na literatura gosta de sexo?
Vida literária / 13/10/2010

Lendo o artigo de Jojo Moyes no “Telegraph” sobre a dificuldade – ou a impossibilidade, segundo Martin Amis – de escrever boas cenas literárias de sexo, me dou conta de que o tema virou uma pequena obsessão dos ingleses. Sim, o Bad Sex Award, coberto com alguma atenção aqui no blog, tem sua graça. Mas aí veio o post de Sarah Duncan, e agora esse artigo. Será que a pauta é mesmo tão boa assim? Vamos admitir logo que a dificuldade existe e é interessante. Como escrever – ou optar por não escrever – o que acontece quando dois personagens, fazendo avançar a narrativa, resolvem transar sempre foi uma questão relevante e talvez seja especialmente escorregadia para o escritor de hoje. As fórmulas que um dia funcionaram tendem a nos soar canhestras, tudo resvala perigosamente no clichê. As decisões a tomar por linha são mais numerosas do que o habitual e cada uma contém seus riscos. Nomear, por exemplo, os órgãos sexuais, as ações? Usar termos técnicos ou chulos? Ou quem sabe poéticos, derivativos e metafóricos, em busca de um certo clima? Com a irresponsabilidade dos chutadores, mas sem muita dúvida de acertar o gol, eu diria que a literatura…

Bom-mocismo nas letras
Vida literária / 02/07/2010

O post de hoje é um texto longo – longuíssimo, para os padrões da internet. Foi publicado em maio na revista “Veja Especial Mulher”, que retomou o fio de uma edição de 1967 – apreendida por ordem do Juizado de Menores – da extinta “Realidade” para investigar quatro décadas de mudanças na situação da mulher na sociedade brasileira. No caso das letras, a parte que me coube, a pauta acabou virando uma reflexão sobre o tratamento do sexo na literatura, tanto a feminina quanto a masculina. Assunto de Todoprosa, portanto. Então lá vai. * “Sempre fomos o que os homens disseram que nós éramos. Agora somos nós que vamos dizer o que somos.” O grito de guerra de uma personagem de Lygia Fagundes Telles no romance “As meninas”, de 1973, ecoou em milhares de “quartos só delas” – aquilo que a escritora inglesa Virginia Woolf, em um célebre ensaio de 1929, declarou ser fundamental para que as mulheres pudessem escrever, isolando-se dos outros papéis sociais que a sociedade lhes impunha. Por trás de suas portas fechadas, enquanto soprava na janela a ventania do feminismo, as escritoras brasileiras lançaram-se nas últimas quatro décadas à tarefa de contrapor sua própria voz a…