Nesses quase cinco anos de Todoprosa, desde sua estreia na extinta revista eletrônica NoMínimo, a hoje adormecida seção “Começos Inesquecíveis” foi sem dúvida a mais marcante, a que seduziu mais leitores e se multiplicou em mais links pela blogosfera. Deve haver razões profundas para que as aberturas lapidares de livros – e, em uns poucos casos, de contos – tenham tanto apelo. Para o aspirante a escritor, acredito que isso se relacione com o mito de que basta um bom primeiro passo para que todas as outras palavras se encaixem no lugar certo e o livro saia sem esforço, o que é obviamente um delírio. Mas deixemos a metafísica dos inícios para outra ocasião. Hoje é dia de acertar contas com alguns começos inesquecíveis que nunca apareceram nos “Começos Inesquecíveis”. Não vou pedir desculpas por isso: num universo que tende ao infinito, a ideia sempre foi fazer recortes assumidamente pessoais – uma seleção dos mais inesquecíveis entre eles pode ser conferida aqui, aqui e aqui. Para tanto, descartei as buscas no Google e fiquei apenas com minha experiência de leitor e, principalmente, como forma de reavivar memórias, com minhas estantes. Experiência e estantes que, mesmo não sendo exatamente pequenas, têm…
“Se meus livros vendem, é porque escrevo pensando no público, herança do jornalismo.” Foi assim que Isabel Allende, 68, justificou, sem que tivesse sido questionada a respeito, sua fama de best-seller. Vender muitos livros, num mercado difícil como o literário sempre levanta suspeitas sobre a qualidade da obra. Na mesa “Veias abertas”, realizada nesta quinta na Flip, com mediação do jornalista Humberto Werneck, Isabel evocou o jornalismo para explicar seu desempenho comercial e a ditadura de Augusto Pinochet, que tirou da direção do Chile o primo do pai, Salvador Allende, para narrar sua investida na literatura. ”Escrever foi uma maneira de recuperar memórias do Chile e ressuscitar os mortos”, disse, referindo-se ao seu livro mais famoso, “A Casa dos Espíritos”, baseado nos horrores da ditadura do Chile, país que teve de abandonar em 1973. Apesar de o livro, que marcou sua estreia como escritora, ter se tornado um fenômeno, com direito a adaptação em Hollywood, ela não se sente pressionada por ele. Antes, afirma se sentir grata pelas possibilidades que ele lhe abriu. O que a oprime, isso sim, é a solidão do trabalho de escrever. “É um trabalho solitário e inseguro, cheio de dúvidas, e sinto que as minhas…