O que acontece quando uma boa escritora feminista como a inglesa Julie Burchill, ex-menina-prodígio do “New Musical Express”, ataca o estranho fenômeno editorial desencadeado pelo sucesso de “Cinquenta tons de cinza”? Aqui (em inglês), escrevendo no “Observer” sobre Bared to you – lançado no Brasil pela editora Paralela como “Toda sua” – de Sylvia Day, uma imitação descarada que também tem vendido feito pão quente por lá, ela nos dá a resposta. Acontecem risadas, risadas restauradoras da nossa fé na inteligência do homem – e da mulher, claro. Principalmente da mulher. Sempre achei a ideia de obscenidades “ao gosto feminino” especialmente patética, como papel higiênico com crinolina. Mesmo antes de ler qualquer coisa do gênero, minha opinião era que esse tipo de “pornografia da mamãe”, como é conhecido de forma bastante revoltante, demonstrava um lado sádico e não masoquista da mulher moderna. Parecia ser só mais uma forma de atormentar os homens, surgida quando estávamos prontas para algo um pouco mais forte do que anúncios televisivos que os retratam como débeis-mentais incapazes de encontrar o próprio traseiro usando as duas mãos, um GPS e um são-bernardo. Escuta aqui, homenzinho – você não é um bilionário jovem e lindo que pode…
Além de ser o crítico musical mais importante de sua geração e autor de livros de ficção, entre eles “Black music” (Objetiva), o jornalista carioca Arthur Dapieve tem um papel curioso na Flip: é um veterano mediador de debates que acabou por se especializar em entrevistados considerados difíceis. Em 2007, o mais-que-irônico escritor inglês Will Self propôs no palco que os dois abandonassem suas mulheres e fossem juntos desmatar a Amazônia. Ano passado, a desistência do popstar Lou Reed, famoso por maltratar entrevistadores, poupou-o na última hora de uma missão espinhosa. Na edição 2011, que começa nesta quarta-feira, Dapieve vai encarar na última mesa de sábado o escritor americano James Ellroy, que se notabilizou tanto pela qualidade de sua literatura quanto por uma certa egolatria. Will Self, Lou Reed e, agora, James Ellroy. Por que todos os fios desencapados da Flip acabam na sua mão? – Acho que é porque eu já trabalhei com o Marcelo Madureira [no extinto programa de TV “Sem Controle”, do GNT]. A partir daí, qualquer fio desencapado me parece normal… O que espera da conversa com Ellroy? Se ele repetir em Paraty sua famosa declaração de que é o maior escritor policial de todos os…