É possível fazer literatura de qualidade no Twitter? Essa pergunta, que tem andado no ar há alguns anos, não teve até agora (terá um dia?) melhor resposta do que a que a escritora americana Jennifer Egan – autora do notável “A visita cruel do tempo”, resenhado aqui – deu em maio deste ano ao publicar no perfil da revista “The New Yorker” uma história de espionagem em forma de flood de tweets chamada Black box. Quem ainda não leu pode acessar o conjunto inteiro (em inglês) no site da revista. Ou acompanhar a tradução, “Caixa preta”, que a editora Intrínseca publicará a partir desta segunda-feira, dia 20, até o dia 30, sempre das 22h às 23h, em sua conta no Twitter (@intrinseca). Ao fim desse prazo, a narrativa completa será lançada como e-book. A iniciativa é oportuna: uma “Caixa preta” basta para redimir quaisquer “Cinquenta (ou até mais) tons de cinza”. Na Flip deste ano, em que dividiu uma mesa com Egan, o escritor inglês Ian McEwan não mediu elogios a Black box: “É uma das melhores coisas que leio em anos”. Os espectadores que não conheciam o texto podem ter pensado que o autor de “Serena” estava apenas exercitando…
Desta vez a lista do Flavorwire (em inglês) é picante: cartas de amor com conteúdo sexual, na maior parte dos casos explícito, assinadas por escritores famosos. Leitura muito divertida. James Joyce (foto), insuperável, faz até Charles Bukowski parecer um coroinha. * O crítico acadêmico João Cezar de Castro Rocha publicou na última edição do Prosa & Verso um artigo alentador e de leitura obrigatória. Ainda bem que a fauna e a flora da universidade são diversificadas a ponto de incluir visões lúcidas, autocríticas e generosas como esta: Dada a pluralidade da produção atual, é impossível decretar a morte da crítica ou o impasse definitivo da literatura, simplesmente porque há muito tempo não mais existe uma única forma de poesia, prosa ou crítica — aspecto que desautoriza juízos totalizadores. A tarefa atual da crítica é realizar uma arqueologia das formas do presente, a fim de descrever os movimentos novos esboçados na prosa, na poesia, no ensaio e na interlocução crescente com os meios audiovisuais e digitais. O único modo de fazê-lo é dedicar-se à leitura atenta da produção contemporânea, em lugar de proferir sentenças magistrais, com base na hermenêutica mediúnica dos profissionais do obituário alheio. Trata-se de evitar a vocação fóssil…
Os 150 anos do nascimento do escritor russo Anton Tchekhov (1860-1904), considerado o pai do conto moderno, motivaram uma bela edição do Babelia, suplemento literário do jornal espanhol “El País”. Um dos destaques é o artigo de abertura, “Pistolas e mares”, em que Luis Magrinyà reflete sobre o paradoxo que envolve aquela famosa tirada do autor – em referência ao teatro – sobre a pistola que se mostra no início da trama ter que ser disparada antes de cair o pano. Esse argumento poderoso contra a gratuidade, o mero adorno, foi em geral acatado como lei pela arte narrativa do século 20. O problema é que a frase da pistola, observa Magrinyà, acabou por obscurecer o fato de que os contos tchekhovianos tiram sua maior força de elementos aparentemente desamarrados, sugestões inconclusivas que produzem um efeito duradouro na cabeça do leitor. A pistola não dispara, mas escapa de ser gratuita porque, calada, ressoa ainda mais. A conclusão do autor do artigo é, numa paráfrase livre, a de que Tchekhov inventava assim o realismo que sucederia a onisciência do século 19, um espelho lacunar do que a vida tem de essencialmente amorfo e indomável, “como o mar”. Outro atrativo da edição,…