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Os melhores começos inesquecíveis (II)

O primeiro parágrafo de “O estrangeiro” (Record, tradução de Valerie Rumjanek), novela que lançou em 1942 as bases da reputação do escritor franco-argelino Albert Camus como ficcionista-ensaísta-filósofo, é mais que um começo inesquecível. É a epígrafe de uma época e um insistente eco no fundo de parte significativa da literatura escrita desde então. Mersault, o enigmático narrador que entra em cena relatando com indiferença a morte da mãe, matará em seguida um árabe pelo mais fútil dos motivos e acabará condenado por ser incapaz de sentir – ou mesmo simular – arrependimento. Símbolo de um tempo de desconexão radical entre o eu e o mundo? Certamente, entre outras leituras possíveis. Mas o achado maior de “O estrangeiro”, que torna tão matadores seus primeiros acordes, é a voz de Mersault, seu estilo distanciado, de frases curtas e com pouco espaço para a reflexão. Jean-Paul Sartre, primeiro e principal analista (e avalista) do livro, definiu esse estilo como composto de “frases separadas umas das outras pelo vácuo”, como se “o mundo fosse destruído e renascesse a cada frase”. Mais tarde, Camus teria alegadamente reconhecido no tom de “O estrangeiro” a influência da literatura policial hard-boiled americana dos anos 1930, em especial a…