Além de ser o crítico musical mais importante de sua geração e autor de livros de ficção, entre eles “Black music” (Objetiva), o jornalista carioca Arthur Dapieve tem um papel curioso na Flip: é um veterano mediador de debates que acabou por se especializar em entrevistados considerados difíceis. Em 2007, o mais-que-irônico escritor inglês Will Self propôs no palco que os dois abandonassem suas mulheres e fossem juntos desmatar a Amazônia. Ano passado, a desistência do popstar Lou Reed, famoso por maltratar entrevistadores, poupou-o na última hora de uma missão espinhosa. Na edição 2011, que começa nesta quarta-feira, Dapieve vai encarar na última mesa de sábado o escritor americano James Ellroy, que se notabilizou tanto pela qualidade de sua literatura quanto por uma certa egolatria. Will Self, Lou Reed e, agora, James Ellroy. Por que todos os fios desencapados da Flip acabam na sua mão? – Acho que é porque eu já trabalhei com o Marcelo Madureira [no extinto programa de TV “Sem Controle”, do GNT]. A partir daí, qualquer fio desencapado me parece normal… O que espera da conversa com Ellroy? Se ele repetir em Paraty sua famosa declaração de que é o maior escritor policial de todos os…
Os rumores sobre a substituição do diretor de programação da Flip dominaram as últimas horas do domingo em Parati, aquelas em que a cidade esvaziada ganha um ar meio deprimente de quarta-feira de cinzas, mas deixaram no ar uma falsa questão. Flávio Moura, com três edições no currículo, já é o mais longevo dos quatro curadores da Flip. Permanecendo ou não no cargo – e ontem à noite o diretor geral do evento, Mauro Munhoz, afirmou que ele permanece –, já ficou claro que uma correção de rumo será necessária. O problema mais grave é o evidente esgotamento da linha de trazer estrelas midiáticas internacionais como carro-chefe da programação. O mundo literário é vasto, mas os astros que aceitam convites do gênero – universo que não inclui Philip Roth e um monte de gente – estão acabando. Uma prova disso é a volta de Salman Rushdie, que ainda assim foi um dos pontos altos de 2010. Se tiver que vir de novo em 2013, porém… Por outro lado, a ideia de afrouxar os critérios propriamente literários para abarcar astros de outros céus, testada este ano com Lou Reed e Robert Crumb, deu no que deu. Reed nem veio e Crumb,…
Se você está indo à Flip pela primeira vez, talvez não saiba que quando ela nasceu, em 2003, a graça era sentar no banco da praça ao lado do Julian Barnes e puxar um papo de papagaio. Eu não estava lá, o que até hoje lamento de modo amargo. Contam que a caipirinha de Maria Izabel jorrava em fontes, as pousadas estavam repletas de vagas e as plateias contavam-se em dezenas, todo mundo confortavelmente abrigado na intimidade de um auditório de província. Era grande a lista do que ainda não existia: megatendas, setecentos programas paralelos, restaurantes lotados, multidões serpenteando pelas vielas noite adentro atrás de uma mítica Festa Perfeita, gente à beça que nunca leu nem Paulo Coelho em busca de alguma forma de diversão. Parati era pacata como sempre tinha sido, aquelas pedras inacreditáveis tentando torcer seu tornozelo a cada dois passos, mas de repente você podia topar, sei lá, com um coroa americano tentando vender uma bola de beisebol usada e você olhar e o cara ser o Don DeLillo, mas ele estava pedindo alto demais pela bola de beisebol e você seguia em frente – gringo metido a esperto. Naquela primeira Flip, tão pré-historicamente romântica que até…