Três anos e meio após a sua morte, David Foster Wallace (foto) se consolida como o Raul Seixas da literatura americana: os últimos achados em seu baú são um cartão postal que ele escreveu para Don DeLillo e algumas cenas ainda inéditas de The Pale King, romance inacabado publicado postumamente. * Da mesma geração de DFW e, para todos os efeitos, tão sério quanto ele no modo de encarar a literatura, Jonathan Franzen se distingue pela absoluta ausência de autoironia. Após mais uma entrevista em que martelou seus temas preferidos – a necessidade que o ser humano tem de ler histórias literárias “complexas” como as que ele escreve e a incapacidade escrevê-las quando se tem conta no Twitter ou no Facebook – abriu a porta para que Tim Parks levantasse dúvidas interessantes sobre a tal “necessidade humana de histórias” e lhe dirigisse outras perguntas incômodas neste artigo (em inglês) no blog da “New York Review of Books”: Naturalmente, é conveniente para um romancista pensar que, pela própria natureza de seu trabalho, está do lado do bem, provendo uma demanda urgente e geral. (…) Mas qual é a natureza dessa demanda? O que aconteceria se ela não fosse atendida? (…) E…
“As anchovas estão inquietas”, diz a escritora canadense Margaret Atwood, explicando que as anchovas são os escritores – individualmente fracos, mas fortes quando em cardume, por darem sustentação a toda a cadeia alimentar do mercado editorial. A inquietude, diz ela, provém da sensação de que a maioria das editoras tem sido intransigente ao negociar direitos autorais para e-books, deixando de levar em conta uma nova realidade em que os baixos custos de produção permitiriam multiplicar o tamanho da fatia que tradicionalmente cabe ao autor (em torno de 10% do preço de capa). “Está no ar”, nas palavras de Atwood, a ideia de repetir no mundo literário o que fizeram alguns artistas de ponta de Hollywood em 1919, entre eles D.W. Griffith e Charles Chaplin, ao romper com os grandes estúdios e fundar sua própria companhia, a United Artists. United Writers? Mas “escritores unidos” não é uma contradição em termos? Este é apenas um dos atrativos desta recente palestra de Margaret Atwood no TOC 2011, seminário de novas tecnologias realizado em Nova York. Pontuada por piadas, algumas ótimas, e desenhos em PowerPoint feitos pela própria escritora, a fala de Atwood cobre de forma leve quase todos os aspectos do emaranhado de…
O site This Recording vem juntando uma excelente coleção (em inglês, acesso gratuito) de “conselhos” de grandes autores sobre o ofício literário, sob o título “Como e por que escrever”. Coletados em fontes diversas, entre ensaios, artigos, entrevistas e até obras de ficção, os trechos são heterogêneos no conteúdo e no tom, mas compõem um painel instigante. Abaixo, uma pequena amostra em tradução caseira (via The Book Bench): Susan Sontag: Todo mundo gosta de acreditar hoje em dia que escrever é apenas uma forma de amor-próprio. Também conhecida como auto-expressão. E não se supõe que sejamos mais capazes de sentimentos autenticamente altruísticos, ou capazes de escrever sobre qualquer coisa que não nós mesmos. Mas isso não é verdade. Kurt Vonnegut Jr.: Garanto que nenhum esquema narrativo moderno, nem mesmo a ausência de trama, dará ao leitor satisfação genuína, a menos que uma daquelas tramas fora de moda seja contrabandeada para dentro em algum momento. Não valorizo a trama como representação acurada da vida, mas como uma forma de manter o leitor lendo. Quando eu dava oficinas de criação literária, dizia aos meus alunos para fazer com que seus personagens quisessem alguma coisa imediatamente – ainda que fosse só um copo…