Certamente não será o maior de seus pecados – a competição, afinal, é duríssima – mas o ditador líbio Muamar Kadafi também se julga escritor. Depois de lançar em 1975 sua obra mais conhecida, o “Livro verde”, um panfleto político-ideológico que se gaba de apresentar “a solução teórica definitiva do problema da ‘máquina de governar’”, Kadafi publicou nos anos 1990, quem diria, um volume de contos – ou coisa parecida. Escape to hell and other stories (Fuga para o inferno e outras histórias) teve uma tradução lançada na Inglaterra no finzinho do século passado e ainda está à venda na Amazon britânica – aqui. Nas palavras do editor, “nesta coletânea, além das visões de um revolucionário e profeta, descobrimos um escritor e um ensaísta”. A crítica do “Guardian” foi bem menos benevolente: “O que descobrimos é uma mente que não consegue desenvolver um pensamento coerente por muito tempo, é cheia de dicotomias grosseiras e de nonsense, e tagarela aleatoriamente, implodindo antes de explodir de novo numa erupção de palavrório surreal”. Ou seja, Kadafi puro.