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A verdadeira máquina de escrever é o cérebro
Pelo mundo , Vida literária / 02/04/2012

Descubro sem surpresa, mas com algum pesar, que já existe alguém na internet declarando seu ódio a máquinas de escrever como peças de decoração moderninha – um tumblr dedicado à trollagem dos modismos do design chamado, significativamente, Fuck Your Noguchi Coffee Table. Não, é claro que isso não quer dizer muito. Tente imaginar qualquer coisa no universo que não mereça declarações de ódio em algum lugar da internet e você se verá em apuros. Mas achei curioso, porque não fazia ideia disso e nunca vi nada parecido nas casas que frequento, descobrir que uma paixão que alimento há anos vai, em alguma parte do mundo, entrando no terreno do clichê. Há dois anos e meio, quando rolou a notícia de que Cormac McCarthy estava leiloando sua velha Olivetti, saí do armário aqui no blog como amante e pequeno colecionador de máquinas de escrever. Na verdade, tenho só três peças, todas de valor afetivo, que na época apresentei assim: Tenho em casa um modesto museu da máquina de escrever. Além da portátil Hermes 2000 que já comprei velhinha nos anos 1980, num antiquário, mas ainda cheguei a usar, conservo a pesada Remington que herdei de meu pai, na qual batuquei meus…

Massacre da Noruega: literatura e trauma nacional
Pelo mundo / 01/08/2011

“Como reagirão os escritores policiais da Noruega ao massacre de Utoya?”, perguntava ontem um tweet do jornal inglês “Observer”, dando um endereço que conduzia a um artigo de Brian Oliver, intitulado “Quando escritores são confrontados por um trauma nacional” (em inglês, acesso gratuito). Resposta possível: “Não reagirão. Escritores policiais não têm que reagir a tal coisa. Basta que reajam os policiais”. Mas o artigo não é tolo, embora também não seja profundo. Faz um rápido apanhado do bom momento vivido pela literatura policial nos países escandinavos e sustenta a tese de que, na cultura nórdica, a ficção retém um lugar privilegiado de arena de debates públicos que está praticamente esquecido no resto do Ocidente. Ao contrário do que sugere o tom ligeiramente ridículo do tweet que gerou, o texto de Oliver não força a barra de uma ligação direta entre o que explode nas manchetes e o que vai parar nas páginas dos romances. Ainda bem. A não ser em casos de subliteratura, essa ligação não costuma ter nada de direta, simples ou urgente. Uma excelente reflexão sobre o tema, a partir de um “trauma nacional” incomparavelmente mais devastador que o da Noruega, encontra-se no livro “Guerra aérea e literatura”,…

Hemingway e Salinger são os maiores, diz Lillian Ross
Pelo mundo / 13/12/2010

Os dois maiores escritores do meu tempo são Ernest Hemingway e JD Salinger. Ambos cruzaram a fronteira entre o século 20 e o 21 com sua originalidade, sua substância e seu poder de permanência intactos. Como repórter e como amiga – com o privilégio de brincar na sua área – foi excitante observar em primeira mão o gênio único dos dois escritores revelar-se de forma cada vez mais nítida com o passar dos anos. Ambos tinham um senso de humor muito particular – surpreendente, inimitável, em conversas, em cartas e em seu trabalho. Salinger me mantinha ao telefone por horas, morrendo de rir, falando de tudo e de todos à nossa volta. Ele adorava ler e adorava escrever. Hemingway costumava dizer que amava a parte de escrever, “mas não o que vinha depois”. O que veio depois para ele foram anos de inexplicável censura por ter tido a coragem e o gênio de nos dar prazer e iluminação duradouros na leitura. Nunca entendi a parte do “depois”, nem no caso de Hemingway nem no de Salinger. Temos visto tentativas deprimentes de derrubar Salinger também. Salinger amava as pessoas que criava e as protegeu até a sua morte. Ele nos deu…